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Há muitas causas para o aquecimento global. A industrialização acelerada e a dependência dos transportes aos combustíveis fósseis são dos maiores agentes. A redução das atividades industriais devido ao maior isolamento social na Covid-19, incluindo a drástica redução das viagens aéreas (e da queima de querosene especial pelos aviões), conseguiu ganhar três anos das metas de redução das emissões de gases de efeito estufa do Acordo de Paris.
No Brasil, dois vilões continuaram presentes: os desmatamentos e queimadas na região amazônica, que em 2020 se estenderam de forma dramática ao Pantanal, e o efeito estufa causado pela emissão de gás metano pelo rebanho bovino. Maior exportador de carne bovina do mundo (mais de 2 milhões de toneladas no ano passado) graças a um rebanho que chegou a quase 215 milhões de cabeças em 2020 (segundo o IBGE, 214,893 milhões), o Brasil precisa inovar para dar mais sustentabilidade à pecuária de corte e de leite. O sistema digestivo dos ruminantes produz muito gás metano.
Na pecuária de corte, infelizmente, avançam os casos de desmatamento de florestas da Amazônia (a legislação manda preservar 80% da cobertura vegetal da área) e da Mata Atlântica (mínimo de 20% de preservação). Mas na pecuária de leite, mais próxima aos centros produtores, as técnicas agrícolas têm encontrado boas soluções para mitigar o problema. Sistemas integrados de pastos com faixas de florestas de eucaliptos ou pinos têm neutralizado as emissões de gás metano dos chamados puns das vacas de leite.
Ração livre de antibióticos
Uma das maiores cooperativas do país, a 3ª de Minas Gerais, a Capebe (Cooperativa dos Produtores de Café Especiais de Boa Esperança, criada em 1963 às margens dos reservatórios de Furnas e que hoje conta com quase 10 mil cooperados) além de produzir café e leite de alta qualidade, investiu na produção de rações que melhorem a digestão das vacas em lactação. Com isso, contribui para a produção de um leite mais saudável para o consumidor e a redução da emissão de gás metano pelo rebanho dos cooperativados.
Com sede em Boa Esperança, a Capebe é presidida por André Luiz Reis e atua em oito municípios do Sul de Minas, onde os produtores revivem a política do “café com leite” em bases modernas. Desde o começo deste século, diante da nova conscientização dos consumidores, sempre à procura de alimentos saudáveis, a cooperativa começou a investir na produção de rações livres de antibióticos. Mas a produção agrícola brasileira não só abusou dos agrotóxicos como passou a usar antibióticos em excesso. Quantas mães não oferecem suculentos morangos aos filhos e não sabem que em Atibaia, município maior produtor de São Paulo, o uso de antibióticos era comum até anos recentes?
O engenheiro agrônomo Gustavo Henrique P. Vilela, responsável técnico pela fábrica de razões para vacas em lactação da Copebe, lembra que muitos antibióticos usados em larga escala hoje no Brasil na alimentação animal, já foram proibidos há anos na maior parte da Europa, diante dos estudos que comprovam que o uso de tais moléculas torna-se deletéria à saúde humana”. O surgimento de super-bactérias (antes mesmo da Covid-19) ligou o alarme.
Neste sentido, a fábrica de rações Capebe decidiu no ano passado atender a nova demanda mundial de alimentos seguros e saudáveis, mas principalmente na sustentabilidade das atividades agropecuárias a longo prazo parou de usar antibióticos nas suas rações destinadas a vacas em lactação. Ele garante que a cooperativa chegou a 2021 “com 100% de nossas rações destinadas a vacas em lactação, totalmente livres de antibióticos”.
Os antibióticos foram substituídos pelo uso de uma molécula fitogênica (fitogênicos são combinações padronizadas, específicas e baseadas na ciência de compostos bioativos encontrados em plantas com eficácia comprovada e impacto sustentável em animais, pessoas e/ou meio ambiente) denominada Actifor BOOST, composto com comprovada eficiência mundial (a empresa Delacon é líder global no segmento, em inovações para a nutrição animal).
O bioativo melhora a produção dos animais, reduz a CCS (contagem de células sintomáticas) do leite, tornando-o mais saudável. Aumenta o teor de proteína e nutrição do leite e garante maior eficiência alimentar das vacas. O resultado final é a produção, com mais rentabilidade, de um alimento livre de resíduos de antibióticos e o enorme ganho ambiental, decorrente da redução da emissão de metano pelo gado, destaca Gustavo Henrique.