Depois de 24 anos na lida leiteira, o produtor catarinense Jaílson Sartori está abandonando a atividade.

 

 

Depois de 24 anos na lida leiteira, o produtor catarinense Jaílson Sartori está abandonando a atividade. “Infelizmente vou ter que deixar o setor, uma atividade que gosto, mas que não dá retorno [financeiro]”, disse ele ao AGROemDIA, neste domingo 31. Por trás da decisão, estão as recentes quedas no preço do leite pago ao produtor pelos laticínios, os altos custos de produção e a seca que atingiu a região nos últimos dois anos, castigando as lavouras de milho e as pastagens, essenciais à alimentação do rebanho leiteiro.

Aos 41 anos, Jaílson é mais um dos milhares de produtores que abandonam a pecuária de leite ano após ano. Dono uma propriedade com 36 hectares, em São José do Cedro, no extremo oeste de Santa Catarina, ele já chegou a ter 140 animais em lactação, produzindo em média 4.500 litros de leite por dia, mas teve que vender quase a metade, nos últimos anos, para poder custear as despesas. Hoje, a propriedade produz cerca de 2.600 litros por dia.

“Sempre trabalho buscando o melhoramento genético do rebanho. Por isso, nossos animais são bonitos, cada vez mais produtivos e valorizados”, contou Jaílson. Graças a essa condição, ele conseguiu negociar algumas cabeças recentemente por bons valores:

“Há alguns dias, vendi umas novilhas por um preço bem expressivo. Tive que me desfazer delas para honrar alguns compromissos, porque a remuneração no leite não está como a gente espera. Nem chega perto do mínimo necessário. É desanimador.”

Segundo Jaílson, o cenário na cadeia leiteira é de muita dificuldade. “A minha propriedade é de referência, com tudo esquematizado, mas não dá. Além do sofrimento com o preço do leite, há um conjunto de fatores [prejudiciais ao produtor]. Entre eles, os laticínios e mais recentemente a seca, que acabou com as lavouras de milho e os pastos. Vou partir para o gado de corte.”

“Sempre sobra para os produtores, o lado mais fraco”

O produtor catarinense resolveu dar adeus à atividade leiteira por causa das recentes baixas do preço pago pelos laticínios e aos altos custos de produção. “O pessoal do laticínio veio na minha propriedade e anunciou, no mês passado, baixa de 14 centavos por litro. Agora dizem que vai baixar de novo [de 14 a 20 centavos por litro] porque estão com estoques.”

“Essas baixas vieram na onda do Piracanjuba [um dos grandes laticínios do país], que anunciou uma forte baixa e todos foram atrás”, acrescentou Jaílson. “E sempre sobra para o lado mais fraco, que somos nós, os produtores. Não temos segurança efetiva nem o respeito que a gente merece. A gente investe um capital alto e não consegue ter uma remuneração que faça frente a isso.”

O pecuarista fornece leite para a mesma cooperativa que lhe vende ração. “Falei sobre o alto preço da ração para o representante da cooperativa. Ele alegou que não tem como baixar porque o custo de produção está alto. Então, eu disse que o do leite também está alto. O cara mudou de assunto e logo foi embora.”

Há ainda, conforme Jaílson, outro problema no setor leiteiro: os diferentes preços pagos aos produtores por um mesmo laticínio. “Outro dia, conversando com um colega aqui na minha região, soube que o laticínio para o qual forneço leite vai pagar para ele R$ 2,60 por litro durante três meses. Aí, no meu caso, é complicado.”

A esperança de Jaílson é fazer um bom negócio com o rebanho leiteiro nos próximos dias. “Estou com 74 animais em lactação. Entre eles, 52 primíparas [novilha de primeira cria]. É um rebanho jovem e, por isso, é mais fácil de vender. Além disso, tem um certo valor agregado. Quem o vê, nota que tem longevidade e produtividade.”

Jaílson cogita seguir as pegadas de milhares de sulistas que migraram para o Centro-Oeste em busca de novas oportunidades na atividade rural. “Provavelmente vá para o Mato Grosso. Já tenho uma área em vista lá.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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