A queda no consumo e o aumento dos custos de produção colocou mais uma vez em crise a cadeia produtiva do leite. Para superar impasses e estudar propostas para o setor, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), José Zeferino Pedrozo, pediu a urgente abertura de uma linha de diálogo entre as indústrias de lácteos e os produtores rurais.
O clima entre os dois principais agentes da cadeia produtivas – laticínios e produtores – esquentou depois que as entidades representativas da indústrias publicaram um manifesto relatando as dificuldades do setor e propondo “o compartilhamento do sacrifício” e sugerindo que “produtores, varejo e o governo se juntem ao esforço da indústria na superação deste momento difícil”. Os produtores reagiram, sustentando que estão cansados de pagar sozinhos a conta quando o segmento de lácteos não vai bem.
Pedrozo entende que o momento é de procurar soluções para manter a viabilidade da atividade leiteira e evitar que mais produtores abandonem a pecuária leiteira. Ele analisa que a queda no consumo decorre da alta taxa de desemprego e da redução da renda das famílias, fatores que impactaram a capacidade de consumo de boa parte da população. De outro lado, o aumento sem precedentes dos principais insumos – milho e farelo de soja – encareceu a produção de leite. Esse conjunto de variáveis afeta tanto o produtor de leite quanto os laticínios.
O presidente da FAESC fez um apelo para que os laticínios façam a manutenção dos preços e evitem reduzir a base de pagamento, para não ampliar a crise dos criadores e, por outro lado, aprimorem a remuneração por critérios de qualidade.
A preocupação de Pedrozo é com as dificuldades à frente: a pastagem de inverno acaba em setembro e inicia o plantio das pastagens de verão logo em seguida. Porém, a previsão de geada generalizada pode piorar a situação dos pastos. A transição entre fim da pastagem de inverno e pastagem de verão exige o uso de silagem e de concentrado para ração, entretanto muitos produtores não conseguiram fazer silagem. Além disso, o custo do concentrado está nas alturas.
O dirigente lembra que a cadeia produtiva de lácteos vem fazendo, nas últimas décadas, fortes investimentos para a contínua elevação da qualidade nas várias fases do processo. Nesse esforço se aliaram às cooperativas, os laticínios, os produtores rurais e os integrantes do Sistema S – Senar, Sebrae, Sescoop. “Não podemos continuar nessa gangorra de crises cíclicas na cadeia do leite. O produtor precisa de mais segurança para programar seus investimentos e auferir os lucros necessários para se manter na atividade e prosperar com dignidade.”
Para assegurar um canal de diálogo entre as partes, em 2006, a FAESC e o Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados de SC (Sindileite) criaram um organismo privado para articular e desenvolver a cadeia produtiva do leite em território catarinense: o Conselho Paritário Produtor/Indústria do Estado de Santa Catarina – Conseleite. Esse colegiado promove o relacionamento entre os integrantes do sistema agroindustrial lácteo, conjugando esforços de todos os agentes econômicos, desde o fornecimento de insumos, a produção de leite nas propriedades rurais, seu processamento pela indústria, distribuição dos produtos derivados, até a venda dos produtos finais ao consumidor.
Na época, Santa Catarina era o sexto produtor nacional com 1,6 bilhão de litros de leite/ano; hoje é a quarta bacia leiteira do Brasil e produz 3,040 bilhões de litros por ano.