As manifestações de produtores rurais na Europa continuam chamando atenção e seguem dando manchetes na mídia internacional.
Protestos na Holanda - Foto: AP Photo/Aleksandar Furtula

A pauta é urgente, segundo especialistas, uma vez que são mais fatores que impactam na produção e oferta global de alimentos, já fragilizada. A Holanda, polo das manifestações, é a segunda maior exportadora mundial de alimentos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Nesta segunda-feira (11), bombeiros se uniram aos agricultores holandeses, como mostra um pequeno vídeo divulgado no Twitter:

 

Os produtores europeus se manifestam contra as mudanças que estão sendo impostas nas leis ambientais, exigindo uma drástica na redução de emissão de algumas substâncias. No entanto, apenas a classe produtora está sendo cobrada no momento, as discussões não os incluíram e os levantes começaram. Até o final da última semana, já eram registradas manifestações não só na Holanda, mas também na Itália e na Polônia.

Supermercados e centros de distribuição começaram a ficar desabastecidos, estruturas logísticas estavam sendo bloqueadas e até mesmo a polícia foi acionada. O site internacional IndiaToday noticiou nesta segunda-feira que policiais holandeses teriam, inclusive, atirado contra um garoto de 16 anos que estava em um dos tratores. O Serviço Nacional de Investigação de Crimes já estaria cuidando do caso.

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Fotos: Twitter/Eline Sluijter

Em outro tweet, do economista Steve Hanke, da Johns Hopkins, é possível ver a repercussão dos tiros:

“A polícia holandesa em Heerenveen atira em um agricultor que protesta contra o plano do governo de reduzir as emissões de nitrogênio em 50-95%. (Leia: enviar o gado para o matadouro). Os Greenies parecem ter enlouquecido. Veja o ocorrido”.

 

Em um artigo publicado no portal Agriland, a jornalista Aisling O’Brien relatou o pedido urgente de um grupo de agricultores europeus de uma intensa e profunda reforma do sistema agrícola da União Europeia, de forma a ajudar na garantia da segurança alimentar global. Segundo ela, a ECVC (Coordenação Europeia Via Campesina) e o European Milk Board (EMB) enviaram uma carta aberta a líderes da Europa destacando sua preocupação com a atual situação.

Além das mudanças que têm sido impostas sobre os produtores europeus, eles ainda citam os impactos sobre a produção global de alimentos que passam pelos efeitos da pandemia de Covid-19 – que desorganizou completamente cadeias de produção e abastecimento em todo mundo – e da guerra entre Rússia e Ucrânia, que está prestes a completar cinco meses.

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Os alertas passam ainda pelo grande número de profissionais que estão deixando a atividade na Europa frente a um cenário cada vez mais inviável.

“Nosso sistema agrícola deve ser reformado agora. Não há tempo a perder porque a UE está pisando em gelo fino que já cedeu em muitos lugares. Sem as pessoas que garantem a produção de alimentos, não haverá alimentos e isso será devastador para a segurança alimentar na UE.

Devido aos preços ao produtor crônicos e baixíssimos que mal cobrem os custos de produção, muitos agricultores já saíram do setor de produção de alimentos.

Os agricultores não têm outra opção a não ser desistir da produção de alimentos porque, apesar de seu trabalho árduo, dificilmente conseguem sobreviver. A principal razão por trás desta situação problemática no setor agrícola é a orientação da política agrícola da UE em favor de produtos baratos e exportações baratas, grande liberalização do comércio, dependência global e desregulamentação interna, juntamente com as muitas crises associadas no setor, que dizimaram as estruturas produtoras.

Uma estrutura produtiva robusta e abrangente evitaria a concentração da produção em um pequeno número de localidades e, portanto, a industrialização doentia da produção agrícola”, diz parte da carta.

Com tantas inseguranças e em um cenário considerado muito instável, as instituições que assinam a carta fizeram algumas proposições ao seus líderes:

Os preços ao produtor devem ser combinados com os custos de produção. Nenhum produto agrícola deve ser vendido abaixo do custo de produção;

A desregulamentação deve ser interrompida ou revertida para alcançar um mercado equilibrado;

Os órgãos da Comissão Europeia devem trabalhar ativamente em uma redistribuição equilibrada e justa do valor agregado para os produtores de leite;

Os agricultores devem ser colocados no centro das estratégias agrícolas e devem ser adequadamente envolvidos na sua elaboração;

O Pacto Verde Europeu deve ser usado para reformar o sistema atual em direção a um modelo socialmente sustentável;

Os alimentos e rações importados devem cumprir os requisitos da UE que devem ser cumpridos;

Reduzir a dependência das importações e prejudicar as exportações baratas, excluindo os produtos agrícolas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e dos acordos de livre comércio.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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