Ambos foram pegos de surpresa, quando receberam das mãos dos representantes na região da Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL), o troféu de 1º lugar como caso de sucesso entre todos os produtores de leite conveniados com a cooperativa no RS.
Quando se fala em surpresa, é isso mesmo, porque o casal não sabia que havia sido escolhido entre outras 20 regiões do Estado. A divulgação ocorreu no encontro anual realizado na quinta-feira (15), na sede da CCGL, em Cruz Alta, quando o zootecnista e assistente técnico de campo da CCGL para a região, Thiago Pereira Vieira, apresentou o caso de Gean e Alice. “Num ano muito difícil e desafiador para a produção leiteira, com muita seca no início do ano e um inverno rigoroso e chuvoso, terminarmos assim com esse prêmio, é muito gratificante”, assinala Thiago.
Para despistar e manter a surpresa, Gean e Alice foram convidados para uma ‘reunião’ na casa do pai dele, o ex-prefeito de Pedras Altas, Jair Bellini, no mesmo assentamento. A suposta reunião era com o atual prefeito do município, Volnei Oliveira, que também foi ‘cúmplice’ na surpresa e estava presente no momento da revelação, assim como a reportagem do TP.
SUCESSO – O casal começou com a produção leiteira em 2014, porém somente na primavera de 2018, o tambo passou a ser o primeiro gerenciado pelo sistema de assistência técnica da CCGL. Pouco antes, a Associação Municipal dos Produtores de Leite de Pedras Altas (Amplepa), da qual Gean é assistente técnico e tesoureiro, havia fechado contrato com a cooperativa para recolher a produção do município, dentro da parceria CCGL, Cooperativa Mista Aceguá Ltda (Camal) e Cooperativa Agropecuária Júlio de Castilhos (Cootrijuc).
Conforme explicou o assistente Thiago, logo após o primeiro planejamento forrageiro que fizeram, já em 2019, os resultados começaram a aparecer. “Um caso de sucesso é todo aquele em que os resultados, em qualquer segmento de atuação, são acima da média. E esta é a situação do Gean e da Alice”, comemora ele, lembrando que o sonho da Alice, em 2018, era a aquisição de uma máquina de lavar e hoje eles já adquiriram com a produção, além da máquina, um veículo de passeio, entre outras conquistas a mais do que o melhoramento das condições de produção.
De 2014 até 2022, o tambo do casal teve crescimento de 254% em quantidade de leite produzido e somente de 2018 até agora – após a assistência da CCGL, a produção cresceu 153%. A média de produção de litros de leite diários por vaca vem crescendo ano a ano, com 26 litros em 2020, 27,3 litros em 2021 e fechou em novembro de 2022 com média de 28,7 litros por animal. Além disso, dentro dos padrões das novas instruções normativas, implantadas a partir de 2018, o casal alcançou, segundo Thiago, médias anuais relevantes, como 18 mil de contagem bacteriana total (CBT) e 292 mil de contagem de células somáticas (CCS). “Lutamos para ter muitos Geans e Alices na região”, disse.
O casal produz num lote de assentamento com apenas 20 hectares. São 18 vacas em lactação e a atividade leiteira é o carro-chefe da propriedade. A produção diária em média é de 500 litros. “Passamos muitas dificuldades para chegarmos hoje e receber esse prêmio. Eu sempre gostei de tirar leite e como é bom ser reconhecido naquilo que se tem gosto em fazer. Espero que mais produtores possam confiar na assistência como confiei, pois seguindo as orientações o resultado vem”, destaca Jean, lembrando que tudo gira em torno da alimentação dos animais. “A qualidade do leite entra pela boca da vaca. Sem pastagem e silagem em abundância não se resultados”, alerta.
Emocionada, Alice assinalou que a existência da Amplepa é o grande incentivo, lembrando que a produção leiteira é penosa, quando se enfrenta o inverno do pampa e os calorões do verão. “Por isso também minha gratidão à família, que sempre nos incentivou a jamais desistir. Estamos muitos felizes”, agradeceu.
Ainda em tom de agradecimento, Gean lembrou do veterinário Toni Machado, que, conforme ele, foi fundamental no início da sua caminhada como produtor de leite.
AMPLEPA – Com 49 produtores sob sua responsabilidade, entre eles o casal premiado, a Associação Municipal dos Produtores de Leite de Pedras Altas (Amplepa), também é um caso de sucesso. Criada há mais de 20 anos, a entidade é que possibilita todo o suporte e também a superação dos obstáculos e dificuldades que a atividade impõe.
Presente no ato da entrega da premiação ao casal, o atual presidente, Leomir Savoldi, salientou o orgulho da associação pelo alcance da honraria. “Isso é a soma das parcerias que estabelecemos, o que reflete diretamente na qualidade do leite”, assinala, não deixando de citar o presidente anterior a ele, Evaldo Deoscar, que segundo Leomir foi fundamental na parceria com a CCGL/Camal/Cootrijuc.
Figura fundamental na cadeia produtiva, o associado da Amplepa e responsável pelo transporte diário da produção da associação, Ricardo Salvoldi, o Ricardinho, recordou os momentos de severas dificuldades para a retirada da produção das propriedades, enfrentando condições adversas e muito caminhão estragado. “Hoje seguimos com dificuldades, mas numa realidade bem melhor”, aponta.
PREFEITURA – A Prefeitura de Pedras Altas é também uma grande parceira da produção leiteira. Somente em 2022, conforme dados do termo de colaboração firmado com a Amplepa, além de diversos maquinários transferidos, como tratores, reboques, plantadeiras, ensiladeiras, entre outros, há um repasse mensal em dinheiro de R$ 33 mil, que somados aos equipamentos chega a um desembolso de mais de R$ 1,5 milhão no ano. Para 2023, haverá um incremento R$ 5 mil, passando o repasse mensal para R$ 38 mil.
O prefeito Volnei Oliveira (PT) lembrou sua origem de assentado e que durante 15 anos foi produtor de leite. Ele disse que era um orgulho muito grande ver o casal, que conhece desde quando eram crianças, estar recebendo o prêmio. “É muito especial isso que acontece aqui hoje. Enquanto eu for prefeito daremos todo o suporte para a Amplepa e os produtores. Nós sabemos de onde saímos e para onde vamos. É um orgulho para Pedras Altas receber este prêmio”, afirmou.
TP POSTO DE LEITE – O posto de leite da CCGL/Camal/Cootrijuc, localizado em Aceguá, conforme o supervisor de produção Júlio Lemos, que também é vereador na cidade, recebe diariamente no forte da primavera, 102 mil litros, perfazendo mais de 3 milhões de litros por mês. Essa produção vem de oito municípios: Bagé, Hulha Negra, Candiota, Pedras Altas, Chuí, Santa Vitória do Palmar, Cerrito e São Lourenço do Sul. De Aceguá ela é transportada para Cruz Alta, na sede da CCGL, onde é processada.
Para Julio, o prêmio do casal representa uma superação, pois está se falando de pequenos produtores, oriundos de um assentamento. “Muitas vezes se olha apenas para os grandes. Isso é a prova que quando se tem a orientação correta e ela é seguida, os resultados aparecem, independente do tamanho da propriedade”, destacou.