A vinda do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, à 46ª Expointer, em Esteio (RS), havia dado esperanças aos produtores e indústrias de leite de que o governo federal traria boas notícias ao setor.
Produtores de leite enfrentam crise e falam em abandonar a atividade
Produtores de leite enfrentam crise e falam em abandonar a atividade

No entanto, a falta de anúncios de medidas efetivas para barrar ou compensar a importação de produtos lácteos dos países do Mercosul – considerada a principal causa das dificuldades do segmento – decepcionou os representantes da cadeia leiteira ouvidos pela Globo Rural.

Em visita à Expointer, o ministro atendeu a demandas do setor agropecuário gaúcho. Entre elas, a confirmação de uma linha de crédito para repactuar dívidas de produtores com cooperativas.

Fávaro também deu garantia de uma regionalização do calendário de plantio da soja que deve aumentar o período da semeadura no RS. No entanto, para a cadeia leiteira, ainda são poucas as novidades anunciadas.

“Nós, produtores de leite, sentimos uma enorme frustração nesta semana. E a indústria também se decepciona com nossos governantes”, afirmou Marcos Tang, presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando).

Segundo a Emater-RS, em oito anos, mais de 50 mil produtores de leite gaúchos abandonaram a atividade, uma queda de mais de 60% do total de propriedades entre 2015 e 2023.

“É uma decepção em relação ao que o ministro se posicionou”, afirmou Darlan Palharini, secretário executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do RS (Sindilat-RS).

“O setor está precisando de medidas de proteção, no mínimo, os benefícios concedidos por Argentina e Uruguai à cadeia leiteira destes países. Por parte do governo federal, parece que está tudo às mil maravilhas, quando estamos passando pela pior crise da história do setor lácteo”, declarou Palharini.

Medidas esperadas

Na Expointer, Fávaro anunciou que pretende estudar um programa de desoneração da cadeia produtiva, internamente, para quem produz e não para quem importa o produto.

“Vamos levar o assunto ao presidente Lula e ao ministro Haddad. Vamos aumentar as compras de leite para a merenda escolar e para os programas sociais para que seja um programa contínuo, de mudança do hábito alimentar do brasileiro para que consumamos mais leite”, disse o ministro.

Em sua passagem pela feira, Fávaro lembrou que o governo federal já tomou algumas medidas paliativas de auxílio aos produtores de leite, como a destinação de R$ 200 milhões para compras públicas de leite em pó e a taxação de produtos lácteos de fora do Mercosul.

Ele destacou, ainda, as investigações de denúncias de que leite de fora do Mercosul está sendo triangulado pelo Uruguai e Argentina e que há uma exportação de produtos de baixa qualidade para o Brasil.

No entanto, o setor leiteiro esperava ações mais robustas em relação às importações dos países do Mercosul, ou uma equiparação, para os produtores brasileiros, dos benefícios fiscais concedidos nos países vizinhos.

“Vemos que existe uma boa intenção do governo, mas com pouquíssimo resultado prático. Precisamos de uma medida urgente, não uma cortina de fumaça”, declarou Tang, da Gadolando.

Segundo Tang, cotas ou limites de importação de leite do Mercosul deveriam ser adotadas com urgência.

“Precisamos de ousadia e coragem do governo para ver se realmente está com os produtores. E esse governo sempre foi muito simpático aos pequenos produtores, e 80% do leite brasileiro é produzido pela agricultura familiar”, afirmou.

Palharini lembra que o Sindilat-RS entregou ao Ministério da Agricultura demandas que poderiam auxiliar em relação à crise do setor. Elas incluem alterações em alíquotas de PIS/Cofins, iniciativas de apoio ao escoamento da produção por meio de alteração na lei do Prêmio para Escoamento do Produto (PEP) e o refinanciamento, através de linhas de créditos, das dívidas de produtores de leite e indústrias de laticínios por um prazo de 13 anos.

Importações em alta derrubam remuneração aos produtores

A crise vivida pelo setor leiteiro tem como base o forte crescimento das importações de lácteos do Mercosul, que entram no Brasil com valores mais baratos do que o produto nacional, o que força uma redução no valor pago aos criadores de gado leiteiro.

Com isso, os valores que os produtores têm recebido estão ficando abaixo do custo de produção. Segundo o presidente da Gadolando, no Rio Grande do Sul, o valor médio pago ao produtor pelo litro de leite está em R$ 2,17. No entanto, o custo médio de produção para um litro de leite no Estado está em R$ 2,25.

Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea Esalq/USP), mostram que as importações brasileiras de lácteos aumentaram 148% entre junho de 2022 e junho de 2023. Em relação ao leite em pó, as compras externas aumentaram ainda mais: 234,11% no período, sendo os principais fornecedores o Uruguai, a Argentina e o Paraguai.

No primeiro semestre de 2023, as importações somaram mais de 1,09 bilhão de litros em equivalente leite, quase três vezes acima do volume registrado no mesmo período do ano passado.

“A produção de leite no Brasil está inviável, precisamos de uma ação. Se ela é desconfortável para o governo tomar, por questões diplomáticas, é pra isso que foram eleitos, algumas medidas são desconfortáveis, mas necessárias. O que nos assusta é esse medo de desagradar os países vizinhos, enquanto se prejudica quem paga impostos aqui no Brasil”, afirma Marcos Tang.

Fávaro reuniu-se com o ministro da Agricultura do Uruguai, Fernando Mattos, na Expointer 2023 — Foto: Carlos Silva/Mapa

Por parte de produtores e indústrias, havia expectativa de algum tipo de medida em relação à forte importação de produtos lácteos de países do Mercosul fosse anunciada por Fávaro.

Um indicador de que isso poderia ocorrer era a presença, na feira, do ministro da da Agricultura do Uruguai, Fernando Mattos, com quem o chefe da Pasta brasileira encontrou-se.

“Pelos anúncios feitos, parece que houve apenas uma conversa de compadres, que está tudo bem”, comenta Darlan Palharini. “Para o Uruguai, está excelente a posição do Brasil. Estamos inviabilizando o produtor e a indústria láctea brasileira “, declarou o secretário executivo do Sindilat-RS.

 

 

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