Somente no primeiro ano, produção de 84 hectares de silagem de milho para vacas em lactação resultou em ordenha recorde (um milhão de litros a mais) e lucro extra para cooperados.
estiagem
Embora o ano ainda seja 2023, o processo para a produção da silagem de 2024 já começou.

O Espírito Santo não é tradicionalmente uma das áreas mais impactadas pela seca no país. Ainda assim, o período de estiagem— quando se observam intervalos sem ou com pouca chuva — afeta negativamente o setor agropecuário.

Nestas condições, a produção leiteira é uma das mais afetadas com o clima árido, que atinge especialmente as regiões Norte e Noroeste do Estado, que concentram boa parte do rebanho capixaba.

Ocorre que entre os meses de abril a setembro, quando a quantidade de precipitação cai sensivelmente e as temperaturas ficam mais amenas e frias, a queda na produção de leite é muito significativa.

Dados da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana apontam que, em média, há uma diminuição entre 30 a 50% na lactação das vacas neste período anualmente, comparado aos meses de chuva (de novembro a março). Isso acontece porque a pastagem sente a estiagem e a oferta do principal alimento aos animais perde em quantidade e qualidade.

Para suprir a falta do pasto, os pecuaristas precisam dispor de alternativas na alimentação do rebanho. Uma delas é o fornecimento silagem (alimento volumoso) ao gado, que pode variar entre mistura de concentrados e outras opções proteicas.

E diante da dificuldade em encontrar uma silagem de qualidade e acessível aos produtores, a Nater Coop juntamente aos cooperados, resolveu plantar e produzir a própria.

Após análise de região, clima, topografia, localização e logística, a cooperativa plantou 84 hectares de milho, o equivalente a 84 campos de futebol, em uma área irrigada na zona rural de Pinheiros, em um projeto inédito no Estado.

O impacto foi imediato com o fornecimento do alimento volumoso aos animais: comparado ao mesmo período de 2022, houve 21% de aumento na produção de leite, acréscimo próximo a 1 milhão de litros do produto, e média de R$ 11, 7 mil reais a mais de faturamento líquido para cada pecuarista que aderiu ao programa, segundo dados preliminares da Nater Coop até setembro.

 

Pela primeira vez no Estado, uma cooperativa plantou e produziu silagem de milho para suprir a falta do volumoso durante a estiagem
Após ser colhido e triturado, o milho é transformado em silos de quase uma tonelada para virar alimento ao gado. Crédito: Leidison Ferreira

Planejamento

O corte e transformação do milharal em bolas de silo levou cerca de 20 dias, e o fornecimento aos produtores interessados na silagem ocorreu logo nos primeiros meses do período de estiagem deste ano, como cita o gerente de assistência técnica e bovinocultura da cooperativa, Filipe Ton Fialho.

“O período de estiagem é um momento que a gente tem uma demanda aquecida pelo leite porque o fornecimento aos laticínios diminui.

Quando estudamos a causa disso, notamos a ausência do volumoso por inexistir um planejamento forrageiro, algo bem trabalhado em outras regiões de bacias leiteiras, mas que aqui não é comum. Alguns produtores saem na frente e já produzem a própria silagem, porém grande parte ainda não produz em quantidade, e, principalmente, em qualidade”, aponta.

 

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iante da identificação do principal fator de diminuição na produção de leite, partiu-se para o estágio produtivo. Segundo Fialho, cerca de 130 cooperados aderiram ao projeto, indicaram a quantidade de silagem planejada e a cooperativa forneceu o volumoso para que introduzissem na alimentação do gado.

Todo o plantio foi transformado em bolas de silo, cada uma com peso médio de 850 quilos de silagem, com destinação exclusiva ao gado leiteiro.

Silagem
Filipe Ton Fialho trabalha na cooperativa e colaborou com o sucesso do projeto de produção de silagem de milho. Crédito: Arquivo pessoal

“Nada do milho foi perdido. São aproveitados caule, folhagem, espigas e a parte aérea da planta. Tudo foi moído, compactado em bolas e depois entregue aos produtores. Conseguimos fazer este processo rapidamente, o que é determinante para manter a qualidade da silagem. A escolha pelo milho se deu pela energia que ele é capaz de fornecer ao gado. Isso é transformado e potencializa a produção do leite pela vaca”, conta Filipe.

Resultado rápido

Ao todo, neste primeiro ano a cooperativa produziu 4,2 mil toneladas de silagem, que renderam 3.600 bolas de silo. Algumas delas foram compradas pelo produtor Eduardo Tschaen, de 50 anos.

Silagem
O pecuarista Eduardo Tschaen forneceu cerca de 40 toneladas de silagem de milho e a ordenha de leite cresceu mesmo durante a estiagem. Crédito: Arquivo pessoal

Recente na pecuária leiteira, ele aliou a boa genética de vacas selecionadas, manejo adequado e introduziu o volumoso na alimentação das matrizes. Rapidamente viu a produção subir acima até mesmo do que esperava na propriedade que mantém em Pancas, na região Noroeste.

“Peguei umas 40 toneladas ao todo e comecei a fornecer aos animais em maio, quando começa a esfriar e o capim diminuiu em oferta. Logo no início, utilizei 10 quilos de silagem diária por cabeça, depois fui aumentando para 15 e depois 20 quilos. Esta foi sem dúvidas a melhor silagem que já forneci para minhas vacas. A qualidade era tão boa que guardei um pouco para fornecer aos animais em maior lactação, pois dá muito resultado. Com essa administração, tive volumoso para o gado até o mês passado (setembro)”, aponta o pecuarista.

Pela primeira vez no Estado, uma cooperativa plantou e produziu silagem de milho para suprir a falta do volumoso durante a estiagem
Durante quase três semanas, as máquinas trabalharam para transformar o milho em toneladas de silagem de alta qualidade. Crédito: Leidison Ferreira

Já planejando para 2024, Eduardo pretende fornecer novamente a silagem de milho aos animais quando o próximo período de estiagem chegar. Com o apoio de um veterinário, ele explica que as vacas que emprenharem neste período do ano serão os animais em lactação no próximo ciclo de seca.

“Agora é o período no qual tomamos as decisões e calculamos o quanto de silagem vamos precisar comprar. Tudo precisa ser feito com precisão, mas já tenho em mente que vou precisar na ordem de 60 a 80 toneladas, um pouco mais do que neste ano”, salienta Eduardo Tschaen.

Produtores que não tem acesso fácil à silagem de qualidade, caso do pecuarista José Miguel Fonseca de Faria, e da filha Maria Francisca, sabem bem como os animais sentem quando a oferta de pasto cai.

O pecuarista José Miguel Fonseca de Faria, e a filha Maria Francisca, criam algumas cabeças de gado na Serra
O pecuarista José Miguel Fonseca de Faria e a filha  Maria Francisca criam gado de leite na Serra. Crédito: Ricardo Medeiros

Na propriedade da família, no interior da Serra, na Grande Vitória, eles tentam suprir a pastagem rala com outras alternativas, mas a queda na ordenha é inevitável.

Expansão da área

Embora o ano ainda seja 2023, o processo para a produção da silagem de 2024 já começou. Segundo o gerente de assistência técnica da cooperativa, os formulários já foram distribuídos aos mais de 600 cooperados que fornecem leite a um grande laticínio de Nova Venécia (Veneza Lácteos). Este é o primeiro estágio do planejamento da área total de milho a ser plantada e transformada em silos.

 

Pela primeira vez no Estado, uma cooperativa plantou e produziu silagem de milho para suprir a falta do volumoso durante a estiagem

A expectativa da Nater Coop é elevar o total produzido e contemplar mais produtores, superando assim a produção de leite e também os números obtidos neste primeiro ano da iniciativa com a introdução de silagem de milho pela própria cooperativa aos produtores.

 

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