“Queremos um preço justo para a produção de leite, temos de valorizar a qualidade do leite e o bem-estar animal, onde gastamos tanto dinheiro. E, com as novas regras e o Farm to Fork, não nos podem pedir mais e pagarem-nos menos”.

“Queremos um preço justo para a produção de leite que cubra os custos de produção (…) não queremos depender de subsídios para o resto da vida (…) temos de acompanhar os mercados internacionais (…) e encontrar mecanismos legais de indexação de preços (…) uma forma de actualizar o preço do leite automaticamente”. “Devemos caminhar para um preço [pago ao produtor] na ordem dos 40 cêntimos” por litro.

Quem o defende é o secretário-geral da Aprolep — Associação dos Produtores de Leite de Portugal, Carlos Neves, que falava ontem, 15 de Dezembro, durante mais uma “Agromeeting”, as conferências online de quinta-feira promovidas pela consultora agrícola Espaço Visual.

Na conferência desta quinta-feira, subordinada ao tema “A Luta do Leite”, e em dia de anúncio de aumento do preço do leite pago aos produtores por parte da Lactogal e do Pingo Doce, o orador convidado Carlos Neves, licenciado em Ciências Sociais, a trabalhar como técnico de gestão agrícola, e agricultor e produtor de leite em Vila do Conde com 60 vacas em produção e 25 ha de terra cultivada, chamou a atenção para as dificuldades por que está a passar o sector do leite.

“Queremos um preço justo para a produção de leite, temos de valorizar a qualidade do leite e o bem-estar animal, onde gastamos tanto dinheiro. E, com as novas regras e o Farm to Fork, não nos podem pedir mais e pagarem-nos menos”. “Temos de acompanhar os mercados internacionais, não podemos estar aqui neste sufoco e ser preciso fazer 20 manifestações antes de se subir o preço do leite. Há alguma coisa que não está a funcionar bem”, disse Carlos Neves.

Subsídios são provisórios

O secretário-geral da Aprolep realçou ainda: “não queremos depender de subsídios para o resto da vida. Sempre pedimos preços justos. Subsídios a título provisório e só quando não for possível que nos paguem” o valor justo para cobrir os custos de produção. “Devemos ir para um preço da ordem dos 40 cêntimos” por litro de leite, “temos de apontar para esse objectivo sem vergonha” frisa Carlos Neves.

“O preço justo é o que cubra os custos de produção. É evidente que cada um de nós [produtores] tem um preço diferente, dependendo dos investimentos que cada um faz”, acrescentou Carlos Neves lembrando que “quando começámos estas lutas, e a nível europeu pedíamos 40 cêntimos por litro, achava-se que era um exagero, até porque por volta de 2007 registou-se uma falta de leite e o preço subiu. Mas logo em 2008 o preço começou a cair a pique”.

Quanto ao futuro, diz Carlos Neves que “não sei como vai ser o próximo ano. O [preço do] adubo dobrou, quase triplicou num saco de adubo básico, azotado a 27%, o gasóleo não sei a quanto vai ficar e a ração [animal] subiu imenso. O que é preciso é encontrar um mecanismo de indexar o preço” a todas as variantes económicas, ao longo de várias conjunturas.

“Não podemos estar a fazer uma manifestação de cada vez que é preciso subir o preço do leite” ou teremos de “fazer uma Organização de Produtores e uma Cooperativa e depois temos de criar uma associação [empresarial] para fazer uma manifestação contra a cooperativa”, salientou Carlos Neves em tom irónico.

Conversações com a distribuição

Quanto à grandes superfícies, Carlos Neves disse que “este ano, ao nível da Aprolep, avançámos com o desafio de contactar as distribuidoras, de falar com eles e perguntar o que podíamos fazer em conjunto, o que podíamos fazer para subir o preço” do leite. “Eles responderam, ah, nós subimos se os outros subirem. Então fomos falar com a associação [das distribuidoras] e dissemos subam o preço se não estragamos-lhe o Natal. Não foi bem assim, mas vamos continuar a fazer barulho (…) os nossos colegas espanhóis têm feito manifestações pesadíssimas”.

Aquele produtor frisou ainda que há que “encontrar mecanismos legais de indexação de preços. Não queremos um regime de preços tabelados, como no Estado Novo, ou estalinistas, mas temos de encontrar uma maneira de reagir e de, no fundo, dar peso negocial às produtoras”.

Carlos Neves, que revelou que a Aprolep vai esta semana ser recebida em audiência “não pelo secretário de Estado da Agricultura, mas da Economia”, para discutir estas matérias, alertou ainda para o facto de que “por exemplo, os espanhóis têm uma lei da cadeia alimentar que diz que não se pode vender com prejuízo. Mas, o que aconteceu depois foi que impuseram aos agricultores assinar uma declaração no contrato em como não tinham prejuízo. Quer dizer, não podemos fazer leis e andar depois a brincar com as pessoas”. “O poder politico também tem aqui a responsabilidade de olhar para o que se passa”.

E quanto às marcas próprias de leite das grandes cadeias de supermercados, diz Carlos Neves: “não se pode parar o vento com os dedos”.

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