O relatório do 3º Trimestre de 2019 do Rabobank, faz uma análise global do setor lácteo, e dedica um capítulo especial a diversos países e regiões.

O relatório do 3º Trimestre de 2019 do Rabobank, faz uma análise global do setor lácteo, e dedica um capítulo especial a diversos países e regiões.

Sobre a América do Sul como um todo, o relatório diz: “ A falta de pastagens e o aumento do custo de produção devido à desvalorização da moeda prejudicaram a produção de leite na Argentina e no Uruguai. As condições podem melhorar, mas, devido às incertezas econômicas locais, a expansão permanece limitada até 2020.

Brasil

Os produtores de leite brasileiros perderam significativamente as margens desde junho. Depois de um primeiro semestre de 2019 caracterizado por preços elevados e custos relativamente baixos, o valor caiu de R$ 1,63/litro (US$ 0,4/litro) para R$ 1,45/litro (US$ 0,36/litro) e o preço da alimentação animal aumentou com a fraqueza do real. Além disso, uma longa estação seca até agosto, impactou o crescimento das pastagens em várias regiões, prejudicando a qualidade dos alimentos e o aumento do custo da alimentação animal. Como resultado, o crescimento de produção de leite brasileira enfraqueceu dramaticamente. Os 3% de aumento registrados no primeiro semestre de 2019, caiu para 1% em julho.

A queda na oferta, fez com que as importações aumentassem nos últimos meses. Os preços domésticos do leite mais elevados em relação ao produto importado permitiu que as compras externas crescessem 2,5% em volume no mês de agosto. Isso ocorre após um início de ano com fraca produção. A balança comercial até o final de agosto registrou déficit de 80 mil toneladas, repetindo o mesmo comportamento de 2018.

Mas, a demanda também está em dificuldades. A economia brasileira permanece fraca e o crescimento projetado para o PIB já está menos do que 1% em 2019. O baixo crescimento impediu uma queda rápida do desemprego e, como resultado, o consumo de laticínios permanece baixo.

A baixa produção tornou-se um desafio para as indústrias de laticínios, pois impediu o repasse dos preços da matéria prima para o produto final. O resultado foi margens reduzidas. A maioria das marcas UHT operaram com resultados negativos. Olhando para o futuro, é provável que o consumo mostre melhora moderada no segundo semestre de 2019 em comparação com os primeiros seis meses do ano. A possível aprovação da reforma previdenciária pelo Congresso que pode ocorrer até outubro, é um passo positivo na melhoria das condições de crescimento econômico, o que pode ajudar a melhorar a demanda por lácteos.

As condições permanecem desafiadores para os produtores brasileiros de leite. É improvável que a melhoria das condições econômicas e elevação do consumo ajudem a sustentar o preço do leite ao produtor. Marcas próprias lutam para manter o preço no varejo em decorrência de suas margens apertadas e, repassarão para os produtores esses preços menores.

Também, dada as condições de seca nos últimos meses, a qualidade e os estoques da alimentação animal caíram, o que irá pesar sobre a renda. Combinado com o real fraco, os custos com importações também devem crescer. Como resultado das margens apertadas e baixa renda, o Rabobank tem a expectativa de que a produção de leite no Brasil possa crescer no máximo 1,5%, bem abaixo dos níveis de 3% vistos no primeiro semestre.

Em termos da demanda por importações, a recente desvalorização do real deverá ter impacto no poder de compra de importados e, como resultado, elas deverão ser limitadas no segundo semestre de 2019.

Argentina

Os produtores de leite da Argentina desfrutaram de melhores margens durante o segundo trimestre, em comparação com o primeiro o que se traduziu em maior produção. O preço do leite por litro aumentou de AR$ 9,6 em janeiro, para AR$ 15,1 em junho, proporcionando um retorno às margens positivas, com certa estabilidade cambial que ajudou a manter o preço da alimentação animal sob controle.

A produção acelerou a partir de março e recuperou parte das quedas no primeiro trimestre, uma vez que as finanças dos agricultores tiveram aumento e a produção no segundo trimestre ficou 3% abaixo da verificada no mesmo período de 2018, depois de ter caído 8% no primeiro trimestre, na mesma comparação.

No entanto, este período de relativa estabilidade terminou de forma abrupta depois dos resultados da eleições primárias para a presidência da república, em agosto. O candidato de oposição, Alberto Fernandez, surpreendeu o mercado, com os eleitores inclinados a derrubar o atual governo Macri nas próxima eleições de outubro.

Com medo do retorno de políticas populistas, controle de capital e expansão fiscal, houve forte depreciação do peso, que caiu 23% em relação ao dólar norte-americano no dia seguinte, e as bolsas caindo surpreendentemente 48% no mesmo dia. Desde as eleições a moeda ficou estabilizada em torno de AR$ 55 por US$. Antes das eleições estava em AR$ 44.

Essa queda na taxas de câmbio foi um duro golpe para os produtores de leite. Com os preços domésticos do milho e farelo de soja acompanhando as cotações internacionais, os produtores precisaram pagar 20% a mais pela ração, com os preços do leite ainda precisando de reajustes para absorver esse impacto.

Ao mesmo tempo a inflação continua elevada (cerca de 50%) impactando em outros custos de produção. A economia está em recessão, e o consumo interno de lácteos vai deteriorando (a expectativa é de que contrai pelo menos 2% em volume no primeiro semestre do ano).

A depreciação de agosto afetou consideravelmente o poder de compra dos agricultores e corroeu as margens, depois de um estável e promissor segundo trimestre que recuperava a queda do primeiro.

A inflação elevada, a recessão, a escalada nos preços da alimentação animal, e a contração local do consumo pesarão sobre os agricultores da Argentina no segundo semestre de 2019 e, provavelmente continuará sendo um fator decisivo em 2020, já que a Argentina continuará em um período volátil e desafiador.

Em termos comerciais, as exportações foram 13% menores em 2019, em comparação com 2018, como reflexo da baixa produção de leite. Com a produção sendo mantida com taxa de crescimento de 3% no segundo semestre de 2019, a expectativa é de que as exportações fiquem 10% abaixo das registradas em 2018.

O setor industrial ainda enfrenta outros desafios, como a captação nos oito primeiros meses ficando 5% abaixo da verificada no mesmo período de 2018, de acordo com as publicações oficiais do INDEC.

Menor disponibilidade de leite e consumo doméstico contraindo reflete queda na produção industrial e a Argentina terá queda dos excedentes exportáveis até o final de 2019.

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A relação entre segurança alimentar e negócios tem ganhado força, já que um descompasso do lado da oferta afeta negativamente a demanda.

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