A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) diz que este será um momento histórico

O presidente Jair Bolsonaro sancionará nesta quinta-feira (18), às 16h, no Palácio do Planalto, o decreto da Lei do Selo Arte, de autoria do deputado Evair de Melo (PP-ES). A assinatura do texto ocorrerá durante solenidade comemorativa aos 200 dias do governo Bolsonaro. A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) diz que este será um momento histórico, porque o decreto regulamentará a comercialização dos produtos das agroindústrias artesanais de todo país, com destaque para os queijos e outros derivados lácteos artesanais.

“A regulamentação do decreto permitirá que os produtos das agroindústrias tenham acesso ao mercado, o que fortalecerá parte da cadeia láctea nacional, principalmente os pequenos produtores”, ressalta o presidente da Abraleite, Geraldo Borges.

“Regulamentar a Lei do Selo Arte é reconhecer a importância socioeconômica dos produtos artesanais. A Abraleite e as associações de produtores de queijos artesanais de todo o Brasil que compõem a Comissão do Queijo e Derivados Lácteos Artesanais da Abraleie e que participou ativamente desta regulamentação com o Ministério da Agricultura, celebrarão essa vitória do Brasil e dos brasileiros”, reforça o dirigente da associação.

O Selo Arte, previsto na Lei nº 13.680/18, identificará os produtos artesanais de origem animal de todo o país, a fim de que possam ser comercializados em todo o território nacional. “Participamos da tramitação do projeto na Câmara e no Senado. Depois, em 14 de junho de 2018, conseguimos a sanção do presidente temer e participamos do grupo de trabalho do Ministério da Agricultura que se dedicou, ao longo de quase um ano, à elaboração da proposta do texto do decreto e da instrução normativa específica sobre o tema.”

“Enfim, lutamos muito por esta Lei nestes dois anos de existência da Abraleite, por entendermos que a regulamentação da produção e da comercialização de produtos lácteos artesanais poderá viabilizar e salvar milhares de produtores de leite, mantendo-os na atividade, com sustentabilidade econômica por meio da agregação de valor”, acrescenta Geraldo Borges.

Quebra da “espinha da burocracia”

Evair de Melo considera a Lei do Selo Arte uma quebra da “espinha da burocracia”. O parlamentar também destaca os debates realizados na Câmara e no Senado, envolvendo diversos setores e instituições, como a Anvisa, o Ministério da Saúde, a OCB, o Sebrae, entre outros. “A partir de agora, com esse decreto, vamos redescobrir o Brasil por meio dos sabores e dos aromas do nosso rural brasileiro, que vai ampliar sua contribuição à gastronomia nacional.”

Produtores de várias partes do país aguardam este momento desde a sanção da lei, em junho de 2018, e creem no crescimento do setor agroartesanal, ampliando suas redes comerciais e desburocratizando normas sanitárias, que se encontram desatualizadas e ligadas ao setor industrial.

O Queijo da Canastra, produzido na região da Serra da Canastra, interior de Minas Gerais, é um dos produtos artesanais mais famosos e de sabor reconhecido em todo o Brasil. Com sua casca amarelada na parte externa e textura macia, seu modo de produção preserva uma tradição de mais de 200 anos, sendo reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Presidente da Associação dos Produtores de Queijo da Canastra (Aprocan) e produtor há mais de 20 anos, João Carlos Leite afirma que a regulamentação do Selo Arte significa a quebra do monopólio da agroindústria não-artesanal. Ele afirma que a Lei 13.680/18 corrige um erro histórico produzido pela Lei 1283/50, fortalecendo o agroartesanato.

“Milhões de brasileiros, que vivem da produção artesanal de alimentos, como o Queijo da Canastra e tantos outros, caíram na clandestinidade por conta de uma legislação que privilegiava as indústrias. O Selo Arte veio sanar essa deficiência, criando parâmetros sanitários ao agroartesanato, propiciar produtos de valor agregado e desencadear milhares de empregos. Para nós da Canastra, é a nossa alforria”, diz Leite.

O presidente da Aprocan também destaca a importância do Selo Arte para a mudança de comportamento do consumidor. “O Selo é uma marca cognitiva. A pessoa que adquirir um produto com esta identificação saberá que está lidando com um produto sustentável, ambientalmente correto, que conta com uma identidade cultural e valoriza o pequeno produtor que, por sua vez, atua na desconcentração de renda no país”.

Proprietário do Socol Lorenção e comercializando o produto há oito anos ao lado de sua esposa e seus dois filhos, Edines José Lourenção está em busca de expandir suas vendas. Há três anos, ele pleiteia o reconhecimento do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA), do Ministério da Agricultura, sem sucesso. “Nesse período, ainda não recebi a primeira visita do Mapa”, assinalou.

Para Lorenção, a regulamentação do Selo Arte favorecerá a geração de empregos e a produção do embutido. “O nosso Socol de Venda Nova do Imigrante possui Indicação Geográfica, que prova a sua qualidade superior. Se conseguirmos vender para fora do Espírito Santo com essa regulamentação, estaremos levando um sabor diferenciado para todo o país, gerando oportunidades de emprego e diminuindo os custos tanto para a gente que produz, quanto para quem consome, que muitas vezes precisa de um amigo de outra região ou dos Correios para ter acesso ao produto artesanal”.

O Socol é um alimento embutido feito a partir do lombo suíno, envolvido por um revestimento de carne bovina ou suína, temperado com sal, alho, pimenta-do-reino e, em alguns produtos, até com cravo e canela e consumido em fatias cruas e bem finas. Sua receita é uma herança viva dos imigrantes italianos, da região do Vêneto, que conservam até hoje o seu modo de preparo e armazenamento.

Milhões de brasileiros, que vivem da produção artesanal de alimentos, como o Queijo da Canastra e tantos outros, caíram na clandestinidade por conta de uma legislação que privilegiava as indústrias” – João Carlos Leite, presidente da Aprocan

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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