Importações de lácteos voltaram a ganhar fôlego em julho no Brasil, mas os números seguem abaixo dos registrados em 2024.
De acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), as compras externas cresceram 10,34%, alcançando 177,01 milhões de litros equivalente leite.
No mesmo período, as exportações de lácteos também apresentaram avanço, embora em ritmo ligeiramente menor: 8,26%, totalizando 5,58 milhões de litros equivalente leite.
Ainda assim, a diferença entre entradas e saídas de produtos manteve o setor em terreno deficitário. O déficit da balança comercial de lácteos subiu 10,4%, chegando a 171,43 milhões de litros equivalente leite. Em valores, a elevação foi de 5,7%, somando US$ 76,34 milhões.
Comércio exterior pressionado
Os números mostram que, embora o Brasil tenha ampliado tanto exportações quanto importações, a dependência do mercado internacional segue pesando no equilíbrio da balança. O volume comprado de países vizinhos, especialmente Argentina e Uruguai, continua superando em larga escala o que é embarcado ao exterior.
Para a indústria, esse quadro traz dois sinais claros: por um lado, o consumo interno e a necessidade de suprimento sustentam a entrada de lácteos importados; por outro, a falta de competitividade no mercado global limita a capacidade de expansão das exportações brasileiras.
Custos de produção em queda
No campo, julho trouxe um alívio para os produtores. Segundo o Cepea, o Custo Operacional Efetivo (COE) recuou 0,59% na chamada “média Brasil”, que considera diferentes regiões do país.
O comportamento, no entanto, não foi uniforme. Houve altas em São Paulo e em Santa Catarina, enquanto outras importantes bacias leiteiras registraram queda: Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Bahia.
Essa redução de custos, ainda que modesta, ajuda a mitigar a pressão sobre as margens dos produtores, que vêm enfrentando um cenário de preços internos instáveis e maior concorrência de lácteos importados.
Impacto para produtores e indústria
Para os pecuaristas, a diminuição do COE representa alívio nos gastos mais imediatos da atividade, como ração, suplementos, medicamentos e energia elétrica.
No entanto, especialistas lembram que a queda de custos não elimina os desafios estruturais do setor, como a necessidade de maior eficiência produtiva, inovação tecnológica e políticas de incentivo à competitividade.
Na indústria, o aumento das importações pressiona a formação de preços, especialmente em categorias como leite em pó e queijos, que entram no Brasil a custos menores do que os praticados no mercado interno.
Isso gera desconforto para processadores locais, que precisam equilibrar margens com a concorrência internacional e, ao mesmo tempo, atender ao consumidor brasileiro.
Tendências e expectativas
Analistas do Cepea destacam que os próximos meses serão decisivos para medir o impacto das importações no abastecimento interno e no preço pago ao produtor. Caso as compras externas mantenham o ritmo de julho, o mercado pode sentir efeitos mais fortes sobre a renda das famílias rurais e sobre o desempenho das indústrias regionais.
Por outro lado, a queda nos custos de produção pode oferecer espaço para uma recuperação parcial da competitividade. O desafio será alinhar ganhos de eficiência no campo com estratégias industriais que permitam ampliar as exportações e reduzir o déficit comercial.
Conclusão
O mês de julho revelou um quadro duplo para o setor lácteo brasileiro: crescimento das importações e exportações, mas com um déficit ainda maior na balança, e custos de produção em leve retração.
Esses movimentos refletem a complexa engrenagem do mercado, onde produtores, indústrias e governo precisam alinhar estratégias para reduzir a dependência externa e ampliar a presença do Brasil no comércio global de lácteos.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Oeste Notícias
