A crise do leite vivida neste momento é consequência de uma série de acontecimentos, dentre eles a queda no consumo do produto. Mas o fator que mais impacta no setor é a importação.
A pecuária leiteira vem ao longo dos últimos anos driblando os prejuízos com alto custo e produção, sobretudo do alimento destinado aos animais.
Nessa conta entram safras frustradas com o contraponto da valorização dos grãos. Outros insumos também registraram aumento de preço, contrastando com o lucro do produtor, que assistiu e sentiu na pele a queda constante na remuneração pelo litro do leite.
O cenário se agravou de tal forma que o grito de socorro saiu da garganta e tem ecoado nas últimas semanas, em busca de ajuda federal para evitar que a importação do produto continue penalizando a produção nacional.
Sem uma luz no fim do túnel, muitos produtores se desmotivaram e deixaram a atividade. Em Cascavel, no Oeste do Paraná, houve um decréscimo significativo. “Estima-se que em Cascavel, nos últimos três anos, período severo de retração do mercado, houve redução de 30% no número de produtores de leite” afirma o presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Sanidade Animal de Cascavel, médico veterinário Antônio Carlos de Queiroz.
Ele ressalta ainda que a crise vivida neste momento é consequência de uma série de acontecimentos, dentre eles a queda no consumo do produto. Mas o fator que mais impacta no setor é a importação. “Está entrando muita matéria-prima para indústrias através do leite em pó que vem de fora. esse produto vai para as queijarias e indústrias, o que tem diminuído a competitividade do leite nacional. Esse produto entra via Uruguai e via Argentina”.
O presidente ressalta ainda que há uma mobilização nacional em busca de apoio dos órgãos governamentais para amenizar o peso sobre o setor, mas os efeitos só devem ser sentidos a longo prazo.
Mão de obra familiar
O presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Sanidade Animal, ressalta as características dos produtores da região que têm resistido à crise e insistido na produção. “São produtores que fazem seu planejamento a longo prazo, estudam, têm contas e compromissos de investimento, e assim a longo prazo estimam melhorias de produtividade e remuneração do mercado.
Outra característica dos produtores é que eles têm trabalhado praticamente com mão de obra familiar, porque a mão de obra contratada é cara e muitas vezes com baixa qualidade aqui na região. Então a mão de obra familiar ela acaba tendo uma consolidação maior na pecuária de leite porque acaba ficando esse valor dentro do cheque do leite, ninguém tem remuneração, o que sobra que é o sustento da família”, esclarece o médico veterinário.
Cenário geral
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, somente no primeiro semestre de 2023 o Brasil importou 1 bilhão de litros de leite, 300% mais que o total importado no mesmo período de 2022.
O Brasil é o quinto maior produtor de leite do mundo, a Argentina ocupa a 12ª posição e o Uruguai a 38ª, porém as diferenças na produção são enormes.
Na Argentina a produção é realizada em grandes propriedades com manejo intensivo e profissional que se destaca, pelo elevado nível tecnológico, são cerca de 10 mil fazendas que produzem 11 bilhões de litros de leite por ano, enquanto o Brasil produz 35 bilhões de litros de leite por ano pulverizados em 1 milhão de pequenos produtores que não tem volume significativo de tecnologia e tem no leite muitas vezes uma renda secundária e profundamente vulneráveis ao livre mercado.
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