Os últimos meses assistiram à recuperação da produção mundial de leite e derivados e à manutenção das cotações internacionais, indicando um melhor equilíbrio entre oferta e demanda em escala global.
Dados do Anuário do Leite 2023, produzido pela Embrapa Gado de Leite, apontam que no Brasil, o segmento do leite A2 está estimado em cerca de R$ 100 milhões anuais, menos de 1% do mercado de leite.

O cenário econômico mundial segue desafiador. Os conflitos bélicos, as dificuldades de crescimento econômico em importantes economias da Ásia e da Europa afetam as expectativas dos agentes econômicos. O Fundo Monetário Mundial prevê crescimento modesto, de apenas 1,8%, para as economias desenvolvidas neste ano. Para os países em desenvolvimento o crescimento previsto é 4,2%, com destaque para a Índia com 6,2%. A China deve crescer apenas 4,5%, valor baixo considerando o histórico recente do país. Assim, ainda que importantes regiões do planeta sigam com crescimento modesto, consolida-se o cenário para aumento da renda global e, por consequência, maior consumo de bens e serviços, incluindo leite e derivados.

Os últimos meses assistiram à recuperação da produção mundial de leite e derivados e à manutenção das cotações internacionais, indicando um melhor equilíbrio entre oferta e demanda em escala global. A rentabilidade da atividade melhorou em muitos dos principais países produtores do mundo, o que pode continuar a estimular o aumento da oferta no futuro próximo.

No âmbito doméstico, os principais indicadores macroeconômicos sinalizam para um crescimento da economia acima das expectativas iniciais em 2024 (3,5% no último Boletim Focus) com alguma acomodação a partir de 2025, por volta de 2%. Os indicadores de emprego e renda seguem favoráveis, garantindo a melhoria do poder de compra da população.

O crescimento da massa de rendimento dos brasileiros tem permitido a expansão da oferta de lácteos no mercado brasileiro e a manutenção de preços mais elevados. Os últimos 12 meses registraram um aumento médio de 10% no preço de lácteos, acima da inflação de 5%. O preço pago ao produtor, ainda que tenha registrado queda nos últimos meses, se encontra em patamar superior ao observado há 12 meses. Este fato, somado com o aumento mais discreto dos custos de produção do leite, apenas 2% no último ano, cria um cenário de melhores condições para o aumento da oferta de leite e derivados.

As mudanças estruturais na produção de leite, com a saída de muitos pequenos e médios produtores, bem como o aumento das importações, são algumas das causas deste cenário de baixo crescimento.
O aumento dos gastos públicos e a percepção de que há dificuldade para o ajuste desejável das contas públicas têm alterado as expectativas dos agentes econômicos. O câmbio avançou mais de 20% nos últimos 12 meses e expectativas de juros para o final de 2025 dispararam, alcançando 15% no último prognóstico de especialistas consultados pelo Banco Central. As expectativas inflacionárias seguem desancoradas, corroborando para o cenário de alta das taxas de juros. Este cenário menos alvissareiro pode contaminar a economia real e alterar e até reverter a trajetória de crescimento econômico previsto para o ano.

O aumento da taxa de câmbio pode afetar a oferta de leite no mercado brasileiro. Ainda que parte dos custos de produção do leite possam ser afetados pelo câmbio, o custo do produto internacional aumenta e a produção local tende a ser favorecida. A queda das importações de lácteos, incipiente, mas já observada em dezembro/24 pode ser uma sinalização neste sentido. Por outro lado, os riscos macroeconômicos podem afetar o mercado de trabalho e a renda da população, dificultando repasse de custos e reduzindo as margens dos diferentes elos da cadeia do leite.

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