A pecuária mundial vem passando por inúmeras transformações que vão desde o uso de tecnologias genéticas quanto aquelas utilizadas no dia a dia das propriedades. Diante desse cenário, muitas unidades produtivas que não se adequam as necessidades atuais, vão sendo “engolidas” por aquelas que entenderam a necessidade da profissionalização do sistema produtivo. Atrelado a esses fatores, temos ainda as questões climáticas e socioambientais, que farão com que cerca de 61% das fazendas leiteiras pelo mundo deixem de existir nos próximos anos, segundo a IFCN Dairy Research Network.
O panorama de 2021 apontou que o consumo de lácteos aumentou 2,2%, ou seja, para 123 kg per capita em relação ao ano anterior. Em 2050, a indústria de alimentos precisará alimentar de forma sustentável 10 bilhões de pessoas. Os atuais 120 milhões de produtores de leite desempenham um papel importante nisso, pois fornecem uma fonte importante de ingestão de proteínas e, portanto, têm um grande impacto na segurança alimentar global. E agora, como devemos ver o atual setor?
Apesar da grande demanda pelo produto pelo mundo, cerca de 427 mil fazendas desistem a cada ano e o estoque de leite está diminuindo, com a agricultura raramente lucrativa. Isso levanta a questão: como a próxima geração pode desenvolver fazendas economicamente bem-sucedidas enquanto atende às demandas da nova geração de consumidores e da indústria?
A oferta mensal de leite é representada por 65 países – em termos de leite fornecido globalmente, mais da metade é produzida em apenas 7 países – e responde por 92% da produção mundial de leite. Os altos custos de produção do leite, que aumentaram em média +9%, contribuíram para isso. O aumento dos custos deve-se principalmente ao aumento dos preços das rações, o que levou muitos países a restringirem a sua oferta nacional.
Análises realizadas pelo instituto IFCN demonstram que entre 2020 e 2050 o consumo de leite per capita no mundo deve crescer em média 19%, aumentando a demanda global de lácteos em 51% (4,5 vezes a produção de leite atual dos EUA), o que representaria um déficit global de 22 mil toneladas de leite equivalente.
Atrelado a isso, devido especialmente a questões climáticas e socioambientais, o número de fazendas ao redor do mundo deve reduzir em 61% até lá, com uma redução de 21% no número de vacas e um aumento aproximado de 88% na produtividade.
É interessante notar que mais de 40% do leite produzido no mundo ainda não é entregue aos laticínios para processamento. A maior parte do leite entregue é processado em queijo, com uma participação de 44%.
Nos mercados emergentes, a demanda crescente e a integração tecnológica adequada podem oferecer grandes oportunidades se a falta de capital, infraestrutura e conhecimento puder ser suprida. As regiões desenvolvidas, por outro lado, geralmente têm acesso ao capital, mas o investimento é fragmentado e a atratividade do trabalho leiteiro e, portanto, da mão de obra qualificada disponível, está diminuindo.
Além disso, existem fatores externos relacionados à aceitação da pecuária leiteira pela sociedade. A nova geração de agricultores está enfrentando uma nova geração de consumidores que demandam soluções para, entre outras coisas, reduzir as emissões de carbono, bem-estar animal e transparência na cadeia de valor.
Como deve ser uma fazenda do futuro?
Como sempre, não há uma solução para todos – as fazendas do futuro terão que adaptar suas operações ao local onde estão localizadas, portanto, é necessária flexibilidade para encontrar modelos operacionais individuais e lucrativos para sobreviver em tempos voláteis.
Os jovens agricultores não continuarão ou mesmo iniciarão a produção leiteira se não tiverem perspectivas de lucratividade a longo prazo. Mas sem eles, a segurança alimentar rapidamente se torna problemática.
Para enfrentar os desafios, os jovens agricultores precisam se concentrar em melhorias no nível da fazenda, como tecnologias que economizam mão de obra, melhor genética e transferência de conhecimento, e construir pontes para a nova geração de consumidores.
Grande oportunidade para o Brasil Diante deste cenário, vislumbramos uma oportunidade enorme para o Brasil aumentar sua participação e relevância no mercado mundial de lácteos. Produzimos cerca de 36 bilhões de litros/ano, ainda exportamos muito pouco, e temos a grande missão de tornar consistentemente nossa balança comercial superavitária.
Quando avaliamos nosso mercado interno, responsável por absorver grande parte de nossa produção, apesar de todos os desafios sociais que ainda enfrentamos, o consumo de leite e derivados deverá continuar aumentando. Há uma tendência forte de evoluirmos economicamente e, além disso, nossa população continuará crescendo.
Nesse contexto, faz-se necessário a adoção de políticas de apoio ao setor para estimular a produção no campo, o consumo interno e o aumento das exportações. Precisamos investir fortemente em adequações logísticas, melhorar a produtividade, qualidade do leite e sanidade dos rebanhos e agregar mais valor aos produtos lácteos. Somente com o aumento da eficiência, em todos os elos da cadeia produtiva do leite, conseguiremos continuar crescendo de maneira competitiva e sustentável.