Abertura de laticínio e programa que oferece estrutura e assistência técnica a produtores dão nova cara à atividade na região.
O empresário Nando do Leite: estratégia de negócio de seu laticínio inclui empréstimo de vacas — Foto: Rogerio Albuquerque/Globo Rural
O empresário Nando do Leite: estratégia de negócio de seu laticínio inclui empréstimo de vacas — Foto: Rogerio Albuquerque/Globo Rural
A região da Chapada Diamantina, no interior da Bahia, que se estabeleceu como um dos mais importantes polos de produção de cafés especiais do país, começa, aos poucos, a estruturar também a cadeia de produção de leite.

A abertura do Laticínio Chapada Diamantina, em Ibicoara, a 460 quilômetros de Salvador, e o lançamento do projeto Casa de Leite são os dois marcos centrais desse movimento.

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O laticínio deu opção aos produtores que tinham um pequeno rebanho, mas que, sem destino certo para sua produção, acabavam tirando leite de vaca somente para uso próprio ou para revender a padarias e comércios locais. Assim, até 2022, a produção de leite era considerada uma aventura.

Segundo o dono do laticínio, João Antonio Aguiar Barbosa, a comunidade buscava opções para diversificar a economia da região e também para oferecer mais produtos industrializados a turistas que visitam a Chapada, famosa por suas trilhas e cachoeiras. O problema era ter dinheiro para colocar as ideias de pé.

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Nando do Leite, como é conhecido, e sua esposa, Alessandra, demoraram dez anos para chegar ao negócio do laticínio. “É muito difícil que agricultores familiares que produzem leite consigam empréstimos de bancos, porque uma das condições [para se conseguir crédito] é o produtor ter uma agroindústria para receber a produção. Levamos dez anos organizando documentos e investindo”, conta o empresário.

Quando conseguimos comprovar a oportunidade, tomamos um crédito, e o laticínio saiu do papel
— Empresário João Antonio Aguiar Barbosa, o Nando do Leite

O desenvolvimento da agroindústria ocorreu a partir do desejo do casal de criar o primeiro filho com leite de vaca. Na época, 20 anos atrás, eles tinham só um fundo de pasto, um modelo de uso comunitário da terra, comum principalmente no pastoreio extensivo de animais. Foi então que um amigo propôs uma permuta: em troca do pasto, emprestaria duas vacas ao casal.

Nando e Alessandra toparam e começaram a ordenhar duas vezes por dia. Dos quatro litros que conseguiam por dia, dois eram para uso da família e dois viravam renda extra do casal, em vendas a uma padaria de Ibicoara.

Com o tempo, Nando percebeu que o negócio era rentável, mas que não ganharia escala se o produtor não buscasse crédito. Como para conseguir o financiamento era necessário comprovar que o leite teria um destino industrial, o empresário teve a ideia de erguer ele próprio um laticínio.

 

Hoje, Nando tem 36 vacas de leite e também produz derivados, como queijos, manteiga e iogurtes. O modelo de negócio que escolheu para que o projeto desse certo foi ceder suas vacas a outros pequenos pecuaristas para que eles pudessem ser a mão de obra da ordenha, entregando o leite em troca da compra dos animais.

A ideia de Nando foi começar emprestando os animais, assim como fizeram com ele no início de seu projeto, para incentivar mais gente da região a apostar na cadeia leiteira.

Nando do Leite com produtos do Laticínio Chapada Diamantina: empresa tem 15 funcionários e prevê começar a dar lucro já em 2025 — Foto: Rogerio Albuquerque/Globo Rural
Nando do Leite com produtos do Laticínio Chapada Diamantina: empresa tem 15 funcionários e prevê começar a dar lucro já em 2025 — Foto: Rogerio Albuquerque/Globo Rural

A família de Nando gerencia o laticínio, que tem 15 funcionários e prevê começar a dar lucro já em 2025, três anos depois do início das atividades da empresa.

Apoio técnico

 

Atualmente, é a comunidade que abastece o laticínio. Nessa frente, o projeto Casa do Leite, uma parceria entre o Sebrae e prefeituras da região, oferece suporte técnico e estrutura aos produtores locais interessados em criar vacas leiteiras para obter renda extra.

Na comunidade de Paiol, no município de Mucugê, por exemplo, o projeto estreou em maio de 2023. Desde então, as entregas mensais de leite no local, que eram de 7,9 mil litros no início, cresceram quase 300%, chegando a 31 mil litros em outubro.

O volume está bem acima da expectativa inicial, que era manter um volume de entregas na faixa de 10 mil litros ao mês, segundo o responsável técnico do local, Cássio Gois.

A renda mensal do Paiol com a atividade, que era zero, é hoje de R$ 73 mil, o que desperta o interesse de outros moradores — e alguns deles sequer têm ligação com a agropecuária. A Casa de Leite do Paiol previa chegar no fim de 2024 à marca de R$ 1 milhão repassados para produtores que entregam a bebida no local duas vezes ao dia.

O Governo do Estado do Piauí anunciou, na última quinta-feira (9), a lista de produtos essenciais que estarão isentos de impostos a partir de 1º de abril de 2025.

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