ESPMEXENGBRAIND
19 abr 2025
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Diante da crescente tensão comercial com os Estados Unidos, a China busca fortalecer sua parceria com o Cazaquistão. A movimentação pode redesenhar rotas de comércio e gerar impacto direto no setor lácteo da América do Sul — especialmente no Brasil.
China pede aliança com o Cazaquistão contra tarifas dos EUA: o que isso significa para o leite brasileiro?
China pede aliança com o Cazaquistão contra tarifas dos EUA: o que isso significa para o leite brasileiro?

Enquanto os Estados Unidos endurecem suas medidas tarifárias contra a China, o gigante asiático responde com articulações diplomáticas que visam reforçar alianças estratégicas — especialmente com vizinhos regionais.

Durante a reunião central sobre relações com países vizinhos, realizada em Pequim entre os dias 8 e 9 de abril de 2025, o presidente Xi Jinping deixou claro: fortalecer os laços regionais é uma prioridade nacional. E o Cazaquistão está no centro dessa estratégia.

O embaixador chinês em Nur-Sultan, Han Chunlin, afirmou que China e Cazaquistão, ambos membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), devem “unir forças para defender o sistema internacional baseado no papel da ONU e nos princípios da OMC”.

A mensagem é clara: trata-se de uma resposta coordenada à pressão comercial dos Estados Unidos, que vem afetando as dinâmicas de importação e exportação globais.

Um comércio bilateral em expansão

A parceria entre China e Cazaquistão já mostra resultados concretos. Em 2024, o comércio bilateral entre os dois países atingiu US$ 43,82 bilhões — um crescimento de 6,8% em relação ao ano anterior, segundo dados oficiais publicados pela agência de notícias estatal chinesa Xinhua.

Para o Brasil, essa aproximação sino-cazaque pode representar uma mudança significativa no tabuleiro do comércio internacional de lácteos.

Cazaquistão, a nova fronteira láctea da Ásia Central?

Embora ainda esteja longe de ser uma potência exportadora, o Cazaquistão vem investindo pesadamente em sua cadeia leiteira nos últimos anos.

Com uma produção estimada em 5,6 milhões de toneladas de leite cru em 2023 (FAO, 2024), o país tem um plano ambicioso: dobrar sua capacidade de processamento até 2030 e tornar-se um fornecedor relevante para mercados como China, Rússia e Oriente Médio.

De acordo com o Kazakh Ministry of Agriculture, mais de 50 novas plantas de processamento de leite estão em construção ou em fase de projeto, com subsídios estatais e investimentos chineses diretos.

China olha para os vizinhos, mas o Brasil permanece no radar

A China é o maior importador mundial de produtos lácteos. Em 2024, importou cerca de 2,7 milhões de toneladas em equivalente leite, com destaque para leite em pó integral, soro de leite e fórmulas infantis, conforme dados da Chinese Dairy Association.

Apesar das tensões com os EUA, a China ainda mantém uma política de diversificação de fornecedores, e o Brasil tem se beneficiado disso. Segundo o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o Brasil exportou US$ 40,2 milhões em produtos lácteos para a China em 2024, o que representou um crescimento de 18% em relação a 2023.

No entanto, se o Cazaquistão conseguir atender com eficiência e escala parte da demanda chinesa, pode ganhar preferência por questões geográficas, logísticas e até geopolíticas.

O que o Brasil precisa observar

A movimentação entre China e Cazaquistão deve ser interpretada pelo Brasil não apenas como um alinhamento diplomático, mas como uma possível reconfiguração de cadeias logísticas na Eurásia.

Pontos de atenção para o setor lácteo brasileiro:

  • Competitividade logística: O Cazaquistão tem a vantagem de fronteira terrestre direta com a China, o que reduz custos e prazos de entrega.

  • Parcerias estratégicas: A China já financiou a construção de ferrovias e corredores logísticos que ligam o Cazaquistão ao oeste chinês, incluindo zonas industriais voltadas para o processamento de alimentos.

  • Substituição de fornecedores: Se houver uma política chinesa de substituição gradual de importações dos EUA, países vizinhos e aliados, como o Cazaquistão, podem ganhar prioridade. O Brasil, neste cenário, precisa manter sua competitividade por meio de acordos sanitários, certificações e promoções bilaterais.

O papel do BRICS e da OMC

Outro ponto que coloca o Brasil no centro da discussão é o chamado de Han Chunlin à coordenação entre países nos fóruns internacionais, como o BRICS e a OMC. O Brasil é membro ativo do BRICS e defensor de um comércio multilateral baseado em regras claras e justas — a mesma bandeira que China e Cazaquistão agora levantam.

Participar dessa coalizão de interesses pode ser uma oportunidade para o Brasil influenciar decisões, mas também um desafio, caso os interesses regionais entrem em conflito.

Uma oportunidade disfarçada?

Apesar dos riscos de substituição comercial, a crescente dependência da China por importações lácteas ainda deixa espaço para múltiplos fornecedores.

Em vez de ver o Cazaquistão como ameaça, o Brasil pode buscar parcerias triangulares com empresas chinesas que operam na Ásia Central, explorando oportunidades de investimento conjunto, transferência tecnológica e inovação na produção de ingredientes funcionais, como whey protein ou fórmulas para nutrição clínica.

Olhos atentos e ação estratégica

A aliança China-Cazaquistão diante da pressão dos EUA é mais do que um gesto político. Trata-se de uma manobra que pode impactar diretamente os fluxos globais de produtos agroalimentares — incluindo o leite.

Para o Brasil, o cenário exige vigilância, articulação diplomática e ousadia comercial. Mais do que nunca, é hora de pensar o leite como um ativo estratégico em uma geopolítica cada vez mais sensível.

Valéria Hamann

EDAIRYNEWS

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