Por sete anos, Larissa Zambiasi, 26 anos, guardou suas economias e, ao contrário do que fazem muitos jovens da sua idade, não investiu em uma casa, um carro, uma viagem.
Adquiriu neste ano um campo de um hectare no interior do Rio Grande do Sul, seu “primeiro pedaço de terra”.
Tudo para realizar o sonho de “continuar” como produtora rural na atividade familiar que sempre viu os pais exercerem. Não é à toa que as palavras “continuar”, “permanecer”, “suceder” têm um significado especial nos projetos e na vida dela.
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Larissa é filha de pecuaristas de leite em Coqueiros do Sul (RS) e, desde muito pequena, suas conversas com os amigos na escola eram sobre o dia a dia na propriedade da família. “Era comum falar sobre o trabalho realizado na fazenda, de como cuidar das silagens, dos tratamentos aplicados aos animais. Esse era o meu assunto”.
Os pais faziam questão de ensinar Larissa e as irmãs gêmeas Daniele e Gabriele tudo sobre a propriedade, de mostrar a elas a importância de manter os vínculos com o campo. E assim cresceram em meio à produção de leite e aos cuidados com os animais.
O resultado não poderia ser diferente. Hoje, na propriedade da família, Larissa fica na parte administrativa, cuida da ordenha, da compra de insumos e de medicamentos. Daniele, que é veterinária, é a responsável por tratar da saúde dos 150 animais da propriedade.
“Nós trabalhamos lado a lado em prol da propriedade, de tudo o que temos aqui. Seguimos os passos dos nossos pais, já estamos há sete anos nesse processo para dar continuidade ao empreendimento familiar”, diz Larissa que agora também terá “seu pedaço de chão” para cuidar.
Antes de trilhar seu caminho, Larissa enxergou a oportunidade de unir o “vínculo com a produção de leite” e seu “senso de organização”. E dessa equação buscou no cooperativismo a oportunidade de contribuir e desenvolver a atividade agropecuária na região de Coqueiros do Sul, uma região com vocação na pecuária.
Larissa foi cursar “Gestão de Cooperativas”, formação que deu a ela ferramentas para melhorar sua atuação no negócio da família e para ampliar a visibilidade da pecuária leiteira local.
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“Era uma formação que me auxiliaria a melhorar os processos de gestão da propriedade. Então comecei me engajando no cooperativismo”, diz ela que assumiu vários cargos na área, nas esferas estadual e nacional, chegando inclusive a ser embaixadora do cooperativismo brasileiro.
Em 2020, mesmo com as restrições impostas pela pandemia, Larissa não parou a busca pelo conhecimento e participou da 4ª edição do CNA Jovem – Programa de Desenvolvimento de Lideranças do Sistema CNA/Senar.
Larissa lembra que o programa, que aconteceu de forma totalmente online e com encontros remotos, foi o que mais a transformou e a desenvolveu para se tornar uma liderança. A dedicação ao CNA Jovem e a demonstração de tantas competências desenvolvidas nessa jornada deu a ela um lugar entre os dez destaques da 4ª edição.
“Procurei aproveitar todas as oportunidades durante o programa para me desenvolver, fiz isso com muita garra, com muito afinco e, mesmo assim, foi uma surpresa ficar entre os dez. É uma grande honra ter sido uma das finalistas do CNA Jovem.”
A iniciativa de Larissa no CNA Jovem foi na área de sucessão familiar, um tema muito desafiador para o setor, mas como encontrar soluções para incentivar os jovens a, cada vez mais, permanecer no campo?
Foi então que ela criou um plano de sucessão familiar e aplicou, inicialmente, para 36 famílias no Rio Grande do Sul, com foco em melhorar a convivência familiar, aproximar as gerações e facilitar o processo de continuidade familiar. “Hoje devem ter mais de 150 famílias que aplicaram esse mesmo projeto. Ele evoluiu, mudou de nome, hoje se chama Plano de Continuidade Familiar”.
O projeto que começou a tomar forma no CNA Jovem hoje é o seu propósito de vida. “Meu propósito é liderar jovens sucessores para que permaneçam no empreendimento familiar. Quando trabalho o plano de continuidade, que iniciou lá no CNA Jovem, reafirmo esse propósito todos os dias.”
Muitas portas foram se abrindo no caminho. Produtora rural, professora, palestrante, instrutora do Senar-RS, coordenadora dos Comitês de Jovens Cooperativistas da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e do Sistema Organização Cooperativa do Rio Grande do Sul (Ocergs), além de embaixadora do cooperativismo brasileiro.
Se dividir entre a produção de leite e os outros projetos profissionais faz parte da sua contribuição para o processo de sucessão de outros jovens “em todas as regiões que eu puder alcançar. Quero continuar investindo no agro, usando minha representatividade para influenciar positivamente outras realidades”.
Quando as três irmãs estão na propriedade da família em Coqueiros do Sul, Larissa enxerga o futuro no pequeno Valentim, filho de Gabriele.
“A relação dele com o agro já é muito forte. Ele tem três anos, adora ficar no meio dos animais e brincar pelas lavouras com sua bota de borracha. É uma criança que está aproveitando o melhor que a gente tem do campo para seu crescimento”, conta a tia Larissa.
É mais uma certeza para a jovem Larissa Zambiasi, de alguém que está vindo para continuar o trabalho iniciado lá atrás pelos avós.