Mercado futuro do leite foi o tema central de uma reunião estratégica realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com a StoneX, na última segunda-feira (11), em Campinas (SP).
O encontro reuniu representantes da indústria, instituições de pesquisa e do setor produtivo, com o objetivo de debater a viabilidade de contratos futuros voltados à atividade leiteira no país.
Participaram da reunião o chefe Global de Lácteos da StoneX, Liam Fentom, o diretor de Commodities da StoneX Brasil e Paraguai, Glauco Monte, além de representantes da Viva Lácteos, Lactalis, Embrapa Gado de Leite e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP).
Segundo a CNA, a iniciativa busca oferecer ao setor uma ferramenta de gestão de risco semelhante às já consolidadas em mercados de commodities agrícolas no Brasil, como o açúcar e o cacau. A ideia é garantir maior previsibilidade aos preços e custos, criando um ambiente propício para investimentos de médio e longo prazos na cadeia do leite.
O coordenador de Produção Animal da CNA, João Paulo Franco, explicou que a construção de um mercado futuro pode transformar a forma como produtores e indústrias negociam no Brasil.
“O objetivo dessa medida é trazer previsibilidade, tanto de preços quanto de custos do setor leiteiro brasileiro, e possibilitar a destinação de investimentos de médio e longo prazos na atividade”, afirmou.
Já o assessor técnico da entidade, Guilherme Dias, destacou que o mecanismo contribuiria para reduzir variações e incertezas nas negociações. “A iniciativa vai reduzir a volatilidade e gerar mais equilíbrio entre venda e compra de leite, criando condições mais harmônicas para o desenvolvimento do setor nacional”, disse.
Durante o encontro, o Cepea apresentou detalhes da metodologia utilizada para levantamento das cotações do leite pago ao produtor e de seus derivados. A proposta em discussão é que o indexador para a liquidação dos contratos futuros seja baseado em três produtos: leite em pó, leite UHT e queijo muçarela.
De acordo com João Paulo Franco, a escolha desses derivados tem lógica de mercado. “Se convertidos em seu equivalente em litros de leite, é possível criar um contrato cotado em reais por litro do produto, com boa aderência junto ao mercado”, explicou.
Hoje, cerca de 80% da produção nacional é direcionada à fabricação justamente desses três produtos, o que, segundo Guilherme Dias, garante representatividade. “Dessa forma, a maior parte da produção industrial estaria contemplada no indicador, abrindo espaço para que essa cesta de produtos ampare um contrato robusto para os produtores”, acrescentou.
A experiência internacional também foi trazida para a mesa de debates. Liam Fentom, da StoneX, ressaltou que, na Europa, a ausência de um indexador calculado por instituição pública não foi empecilho para a implementação de um mercado futuro do leite. “Esse modelo pode ser adaptado à realidade brasileira”, afirmou.
A CNA reforça que a medida se configura como uma das principais inovações recentes para o setor leiteiro do Brasil, com potencial de estimular a produção nacional e proporcionar maior segurança na captação de leite.
Outro ponto destacado foi o papel das indústrias. Muitas delas já utilizam ferramentas semelhantes de gestão de risco para outras matérias-primas, como açúcar e cacau, e foram chamadas a participar ativamente da formatação dos contratos futuros voltados ao leite.
Para os representantes do setor produtivo, o avanço dessa proposta poderá se tornar um marco na profissionalização da atividade, ampliando a previsibilidade, reduzindo incertezas e fortalecendo a competitividade da cadeia láctea brasileira no cenário global.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de CNA
