Por Marina Salles
A agtech Systech Feeder — que provê uma solução para monitorar individualmente o consumo de concentrado, ganho de peso e altura de bezerras leiteiras — está pronta para ganhar escala.
Instalações da Systech Feeder para as bezerras leiteiras da Fazenda Colorado (Foto: Systech Feeder)
Por Marina Salles
A agtech Systech Feeder — que provê uma solução para monitorar individualmente o consumo de concentrado, ganho de peso e altura de bezerras leiteiras — está pronta para ganhar escala.
Os sensores, no caso, mudam de cor para indicar o status da bezerrada. Se a bezerra atinge a meta de consumo alimentar, a luz que acende é verde. Se há alteração no consumo, é azul. Caso tenha faltado alimento, a cor da luz é vermelha.
O objetivo, no fim das contas, é acompanhar o desenvolvimento do animal e reduzir o custo com sua alimentação.
Colocada à prova primeiro no campo da pesquisa — durante o Programa da Fapesp de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) realizado pelo co-fundador Gustavo Salvati em colaboração com a professora Carla Bittar, da Esalq-USP, referência na área de nutrição de bezerros — a tecnologia da Systech Feeder foi testada também, recentemente, pela Cargill e a Fazenda Colorado, uma das maiores produtoras de leite do país.
“Nós reconhecemos que a Systech Feeder é uma inovação de grande potencial, uma vez que permite monitorar de forma mais prática e precisa o desempenho das bezerras nas fazendas, além de ser uma fonte de dados de confiança que gera valor e auxilia na tomada de decisão”, diz Alexandre Souza, Líder de Tecnologia em Bovinos de Leite para América Latina da Cargill.
Em Araras (SP), sede da Colorado, a Systech Feeder teve a oportunidade de implantar seu sistema para 20 bezerras no último ciclo de desmama. A fazenda tem, atualmente, 2.100 vacas holandesas em lactação, que chegam a produzir 96 mil quilos de leite por dia.
A ponte entre a Fazenda Colorado e a startup foi resultado da aproximação com a Cargill, que conheceu a Systech Feeder dentro do AgTech Garage. “Para nós, tem sido uma oportunidade enorme trabalhar com a Colorado, que, sem dúvida, é uma early adopter de novas tecnologias”, afirma Salvati.
Na viabilização do projeto piloto, a Cargill já investiu R$ 135 mil na compra de 20 instalações da Systech Feeder, que terão suporte técnico pelo período de um ano. As estruturas hoje são feitas artesanalmente e custam, em média, R$ 7 mil a unidade ante R$ 3.500 de uma casinha convencional, sem tecnologia embarcada. A empresa estuda trabalhar tanto com a venda como com o aluguel do seu equipamento. Em uma versão simplificada, a casinha pode custar R$ 2 mil, vindo apenas com o módulo do alimentador feito em plástico.
Com um cliente de peso no portfólio, a Systech Feeder se prepara agora para uma nova fase, em que pretende investir energia e novos recursos no perímetro de uma única bacia leiteira do Brasil.
Em plena captação de investimentos, a startup espera levantar um cheque de capital semente de até R$ 3 milhões e dar novos passos no mercado ao lado de investidores que lhe ofereçam também smart money.
Até aqui, a agtech recebeu R$ 200 mil de apoio financeiro da Fapesp, por meio do doutorado de Salvati, e foi premiada com R$ 20 mil pelo Ideas for Milk. Além dos fundadores, a Fapesp tem participação societária, de 1% no negócio.
Empreendedor, pesquisador e zootecnista, Gustavo Salvati conta que o equipamento foi criado ao lado do sócio e agrônomo Nilson Morais Junior, para concorrer justamente à primeira seletiva do programa da Embrapa, lançado em 2016 e voltado à identificação de soluções inovadoras na cadeia do leite.
Em 2017, dentre 83 iniciativas em todo o Brasil, a Systech Feeder foi a primeira colocada no Ideas For Milk. Depois, também ganhou uma competição de startups na França. A inspiração para o projeto veio da vontade de criar algo mais eficiente do que o famoso “balde da bezerra”, para auxiliar na transição desses animais da dieta líquida para a sólida.
Dos meses 0 ao 3 de idade, as bezerras recém-nascidas passam por uma mudança na alimentação, que precisa ser acompanhada de perto e que, até então, era feita “de olho no balde”. Com as casinhas da Systech Feeder, a medição do consumo de ração é facilitada por uma balança, que permite ao pecuarista tirar o leite da bezerra sem medo, gerando economia na fazenda e garantia da manutenção da saúde e bem-estar do rebanho.
“Se o produtor consegue antecipar a remoção do leite da bezerra em três dias, isso já significa 18 litros de leite a mais para entregar para o laticínio”, ilustra Salvati.
Outras vantagens da estrutura são as facilidades geradas por toda a operação digital, como o reabastecimento do cocho na hora certa e a prevenção de problemas de saúde no rebanho.
Em vez de reabastecer o balde diariamente ou a cada dois dias, o funcionário da fazenda passa, por exemplo, a poder voltar a campo apenas quando o reservatório de 15 quilos acusa que esvaziou. Essa função, segundo Salvati, além de facilitar o trabalho da mão de obra da fazenda, traz a segurança de que as bezerras não ficarão sem ração, porque o produtor é notificado de que a comida acabou.
Por meio do acompanhamento do ganho de peso da bezerrada, também é possível ser notificado de qualquer alteração no consumo. Tanto para passar a observar se os animais não se adaptaram à dieta ou se enfrentam algum problema de saúde.
Depois de passar pelo crivo e pela porteira da maior fazenda produtora de leite do Brasil, segundo o Ranking Top100 2021 do MilkPoint, a Systech Feeder está otimista com a nova fase que se avizinha, e promete trazer outras parcerias de sucesso, como a estabelecida com a Cargill.
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