Pecuaristas da região Norte do Espírito Santo, que apostaram na técnica compost barn, falam dos desafios e resultados alcançados com implementação do sistema.
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O Compost Barn tem como principal característica a utilização de uma “cama” orgânica cobrindo todo o chão do estábulo e que depois vira adubo.

Método de confinamento iniciado em meados dos anos 1980 nos Estados Unidos capaz de aumentar a produção leiteira e proporcionar conforto e saúde às vacas, o Compost Barn ou “Estábulo de Composto”, tradução em português, chegou ao Espírito Santo em 2016. Ao contrário do que se acreditava na época, a adesão dos pecuaristas ainda é muito tímida.

Em todo o Estado são apenas 25 pecuaristas trabalhando nesse sistema em 19 municípios, a maior parte deles na região Sul. No Norte são apenas quatro, distribuídos nos municípios de Pinheiros, Boa Esperança, São Mateus e Montanha.

O presidente da Associação de Criadores e Produtores de Gado de Leite do Espírito Santo- Leite Capixaba, Marcos Corteletti, diz que o crescimento não está dentro do esperado e explica o que, para ele, justifica a baixa adesão dos pecuaristas.

“Acreditava-se que essa adesão seria maior, realmente está abaixo do esperado. Parte disso se deve ao custo elevado para instalação do projeto, o preço do leite que está baixo e a falta de sucessão familiar nas propriedades, o que acaba fazendo com que o pecuarista desanime de investir”, salienta o presidente.

O diretor de Lácteos da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi), Erik Juliano Zottele Pagung, concorda com Corteletti quanto ao custo para implantação do sistema e aponta o baixo nível técnico como outra limitação.

“Muitos produtores ainda não aderiram por falta de recursos, falta apoio financeiro, talvez uma linha de crédito nesse sentido. Outro ponto é o baixo nível tecnológico da nossa região. A grande maioria dos nossos produtores culturalmente falando não estão dentro da pecuária de leite de forma profissional”, ressalta.

 

Pioneirismo

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Silvano Santos. Pecuarista pioneiro na implantação do sistema no Norte do ES.

Em busca de melhores resultados na produção de leite, o pecuarista Silvano Santos, (45), do Sítio Quatro Irmãos, localizado na comunidade de São João do Sobrado, interior de Pinheiros, resolveu investir na implantação do Compost Barn em 2016.

Desde 2005 trabalhando no sistema de piquete rotacionado, Silvano percebeu que a produção de leite estagnou, mesmo com vacas de boa genética. Foi quando resolveu visitar um projeto Compost Barn em uma fazenda em Minas Gerais. “Eu vi esse sistema funcionando, vi que dava certo e que era lucrativo e resolvi mudar”, conta o pecuarista.

Os nove hectares de pasto se transformaram em plantação de milho 7032 PRO2 transgênico, próprio para alimentação do gado, e as vacas de leite, que antes ficavam soltas, foram confinadas em um galpão preparado conforme as especificações do Compost Barn.

Para construir o galpão, maior investimento para implementação do projeto, Silvano financiou R$ 36 mil pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Satisfeito com os resultados, Silvano diz que, apesar do alto investimento e a mudança na rotina, acredita que fez a coisa certa.

“Mudou praticamente tudo. Onde tinha capim hoje produz o milho, as vacas não pastam mais, a comida é trazida no cocho para elas, de manhã e à tarde tem que ter alguém disponível para colocar a comida delas, então isso mudou nossa rotina de trabalho. Mas acredito que fiz o certo. Não volto para o sistema antigo, é daqui para frente”, diz o produtor.

Silvano tem atualmente 26 vacas leiteiras da raça Holandesa 3 /4 e 7 /8 e produz em média entre 20 e 25 kg de leite por vaca dia, 25% a mais do que produzia no piquete rotacionado, conta o pecuarista. “A produção vaca/dia aumentou, conseguimos produzir mais leite com menos animais. Além disso diminuímos nosso custo de produção”.

Em Boa Esperança, o pecuarista Olavo Bergamin Ferrari (35), do Córrego Perlet, abandonou o sistema de piquete rotacionado a pasto e apostou no Compost Barn em junho de 2018. Olavo começou com 14 vacas leiteiras da raça Girolando de 1/2 sangue até 7/8, e chegou a produzir 650 litros de leite por dia com 24 animais. Atualmente tem 20 vacas em produção, com uma produção um pouco abaixo do esperado devido alguns problemas que teve com a qualidade genética do rebanho.

Satisfeito com a experiência, Olavo cita o que considera um desafio na manutenção do sistema. “O Compost Barn é sem dúvida um sistema muito bom. Já trabalhei em outros sistemas e só trabalho com leite se for nesse sistema. Porém, minha maior dificuldade hoje é a ausência de maquinário para transporte e manutenção da cama, e a falta de matéria-prima na região”, relata Ferrari.

No início, o pecuarista usava pó de serra e palha de café para fazer a cama. Atualmente, por falta de fornecedor do pó de serra, usa apenas a palha de café comprada no município, porém, como não dispõe do maquinário necessário para o carregamento e o transporte da palha, essa logística fica prejudicada.

De Boa Esperança para o município vizinho São Mateus, onde a pecuarista Lucélia Bolzonello Moreira, da Fazenda Jataipeba, comunidade Santa Maria, trabalha com criação de gado há mais de 30 anos. Com um plantel de vacas leiteiras de boa genética, Lucélia implantou o Compost Barn há menos de ano com o objetivo de melhorar a produção dos animais.

“Com o melhoramento genético alcançado nos últimos anos entendemos que teríamos que proporcionar mais conforto e bem-estar aos animais para que eles pudessem expressar melhor o potencial genético e produzir mais”, declara a pecuarista. Ao todo são 54 vacas da raça Holandesa 1/2 sangue, 3/4 e 7/8 confinadas em um galpão de 630m² com capacidade para até 60 animais.

Apesar de ainda estar passando por um processo de transição já é possível perceber aumento de produção. “As vacas que estão parindo no Compost estão desempenhando melhor potencial, com acréscimo de três a cinco litros em média dia em relação à lactação anterior. Vaca que já estava com lactação em andamento, e outras em final de lactação, também melhoraram muito a persistência de lactação”, explica Lucélia.

Assim como Olavo, Lucélia também aponta a necessidade de maquinário: trator, vagão forrageiro, tanque sugador para fazer limpeza dos dejetos, caminhão ou carroça para reposição da cama, como um entrave para manutenção da técnica.

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Olavo Bergamim Ferrari de Boa Esperança, também investiu noCompost Barn.

O futuro do Compost Barn no ES

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Lucélia Bolzonello tem 54 vacas da rça Holandesa confinadas no sistema.

Apesar de todas as dificuldades, Corteletti acredita que esse é o futuro da criação do gado leiteiro. “Cem por cento do futuro da produção de leite passa pelo confinamento. Esse é o caminho para o aumento de produtividade, melhoria da qualidade do leite, saúde dos animais e melhor rentabilidade”, diz presidente da Associação de Criadores e Produtores de Gado de Leite do Espírito Santo.

Erik Pagung (Coopeavi) também acredita que o Compost Barn é o caminho para criação de gado leiteiro, entretanto é preciso ter um padrão genético mais avançado do que temos hoje na totalidade da média do rebanho da região e deixar para trás o modelo extrativista de produção de gado no pasto.

“Nossa criação de gado de leite ainda acontece de forma extrativista, com gado a pasto e baixa produção média vaca/dia, e o Compost Barn é um modelo de produção mais tecnificado. Exige estrutura física para comportar os animais, genética de boa qualidade e um manejo e acompanhamento de gestão da propriedade de maneira adequada, itens que grande parte dos nossos produtores são carentes”, salienta o diretor.

Compost Barn

O Compost Barn tem como principal característica a utilização de uma “cama” orgânica cobrindo todo o chão do estábulo e que depois vira adubo. Essa cobertura pode ser maravalha (espécie de pó de serra) ou outros tipos de materiais orgânicos como palha de café.

O sistema só funciona se a cama estiver sempre seca e passar por constante aeração, o que é realizado por meio de ventiladores e com a remoção constante do material. O recomendado é virar a cama pelo menos duas vezes por dia. Se a umidade do ar estiver alta, o processo deve ser repetido pelo menos três vezes.

Dependendo do manejo, a cama pode ser utilizada até por um ano no estábulo. Na substituição por um novo composto, o material orgânico velho pode ser usado como adubo para lavoura de café ou mesmo de pasto.

A estrutura do Compost Barn contempla uma área para entrada e saída das vacas, corredor de serviço, bebedouros e linha de cocho. O galpão recebe ventilação artificial por meio de ventiladores instalados na estrutura.

 

 

 

 

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Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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