Segundo o Cepea, o valor a ser pago em maio, referente ao volume captado em abril, vai refletir a queda da demanda por lácteos no mês passado
produção leite vaca gado leiteiro  (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

As pesquisas realizadas pelos pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) indicam que os preços do leite ao produtor a ser pago em maio, referente ao volume captado em abril, pode ser pressionado em decorrência das incertezas de mercado geradas pela crise do coronavírus. Segundo o levantamento, após a demanda intensa registrada em março, que impulsionou os preços, as negociações de lácteos enfraqueceram durante em abril.

A pesquisadora Natália Grigol, do Cepea, lembra que abril foi o primeiro mês completo de enfrentamento à pandemia, o que provocou uma nova dinâmica de consumo. Além dos serviços de alimentação terem sido prejudicados pelo agravamento da pandemia, também houve a diminuição da frequência das compras por parte dos consumidores e a redução da renda de muitas famílias, dizem ela.

A queda da demanda afetou principalmente os produtos refrigerados (perecíveis), que têm maior valor agregado para as indústrias. “O consumo de queijos foi o mais prejudicado e a dificuldade em assegurar a liquidez impactou negativamente na produção. Como consequência, houve o aumento da oferta de leite cru no mercado spot (negociação entre indústrias). Em Minas Gerais, o preço médio caiu 7,3% na primeira e 11,7% na segunda quinzenas de abril, respectivamente.”

A pesquisadora observa que a produção leiteira está num momento de transição para a entressafra no Sudeste e Centro-Oeste. No Sul, a estiagem prejudica a atividade e compromete a quantidade e a qualidade da produção de silagem para os próximos meses.

O levantamento do Cepea já mostra que após recuar 0,8% na primeira quinzena de maio, as cotações do leite spot em Minas Gerais registram alta de expressivos 29% na segunda quinzena deste mês, devido à redução da produção. “Na média deste mês, o preço do spot em maio ficou 6,7% acima do de abril, em termos nominais. Assim, a diminuição da oferta de leite no campo pode manter ou até mesmo elevar os preços ao produtor em junho.”

Derivados

De acordo com a pesquisa diária do Cepea, realizada com apoio financeiro da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), o preço do leite UHT recuou ao longo de abril e acumulou perda de 17,8%. Mesmo assim, a média mensal de R$ 2,87/litro ficou 8,41% acima da registrada em março/20. Os pesquisadores explicam que a demanda por lácteos no mês passado foi prejudicada pela prorrogação da quarentena em muitas regiões brasileiras.

A pesquisa mostra que o mercado de queijo muçarela também foi afetado pelas incertezas do cenário, com demanda enfraquecida e volume reduzido de negociações. Houve desvalorização acumulada de 8,3% durante abril, e o preço médio mensal do derivado fechou a R$ 17,93/kg, recuo de 5,97% em relação ao de março.

Os pesquisadores explicam que a menor produção de derivados em abril reduziu os estoques de UHT e muçarela em maio, favorecendo o aumento das cotações na primeira quinzena de maio. Os colaboradores do Cepea também relataram melhoras na demanda e nas negociações.

De 4 a 15 de maio, a pesquisa diária do Cepea registrou alta acumulada de 5,4% para as cotações de UHT e de 1,3% para as de muçarela. Ainda assim, as médias mensais parciais dos preços do UHT e da muçarela nesse período, de R$ 2,55/litro e de R$ 17,17/kg, são 11,2% e 4,2% menores que as respectivas médias de abril.

Custos

O custo de produção da pecuária leiteira registrou novo aumento em abril. Na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP), os desembolsos do produtor cresceram 0,36% frente a março. Com isso, o Custo Operacional Efetivo (COE) acumula alta de 3,55% em 2020.

A suplementação mineral e concentrado foram os itens do COE que mais influenciaram a elevação dos custos. Os insumos de suplementação mineral se valorizaram 2,19% em abril na “média Brasil”. Por conter matérias-primas importadas, os preços dos sais minerais tendem a acompanhar a movimentação do dólar, que, ao considerar as médias mensais, subiu mais de 8% frente ao Real em abril.

Outro grupo de insumos que favoreceu a alta dos custos foi o concentrado. Os preços das rações subiram 1,20% em abril na “média Brasil”, acumulando aumento de 7,65% em 2020. Vale lembrar que o concentrado é, em geral, o principal custo nas propriedades leiteiras, respondendo por 9% a 66% dos desembolsos; portanto, o produtor de leite deve planejar e gerenciar bem seus estoques para aproveitar oportunidades favoráveis de compra.

Consumidos globalmente, os queijos têm fãs de todas as nacionalidades. Aqui no Brasil, eles são frequentemente adicionados às receitas para “dar aquele sabor especial”.

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