O Brasil é um dos maiores produtores de leite do mundo, com uma vasta cadeia produtiva que envolve milhares de pequenos e grandes produtores.
No entanto, apesar do destaque global, o setor leiteiro brasileiro enfrenta uma crise severa que se intensificou nos últimos anos. Em 2023, a queda na rentabilidade e o aumento das importações de leite foram fatores determinantes para agravar a situação. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), somente em fevereiro deste ano, o país importou mais de 183 milhões de litros de leite.
Dados do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa (CILeite) indicam que no ano passado, pequenos produtores de diversos estados chegaram a receber menos de R$ 1,80 por litro de leite, um valor insuficiente para cobrir os custos de produção e garantir a sustentabilidade da atividade.
BAIXO CONSUMO
Além da remuneração baixa, o setor enfrentou um declínio significativo no consumo de lácteos. Conforme dados da Scanntech, o volume de vendas no varejo no primeiro semestre de 2023 recuou em todos os derivados lácteos. A queda foi de 4% para o leite UHT e 7% para o leite em pó, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Essa redução no consumo resultou em uma deflação de 2,83% nos preços de leite e derivados na primeira metade de 2023.
REMUNERAÇÃO
O coordenador da Aliança Láctea Sul Brasileira, Rodrigo Rizzo, destaca que a crise no setor leiteiro vem de longa data e está profundamente relacionada à remuneração inadequada aos produtores. A Aliança Láctea, que reúne lideranças do setor nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, observa que as importações de leite em pó, especialmente do Mercosul, têm exacerbado os problemas.
“A crise dos produtores de leite vem de muito tempo. É uma cadeia que está com alguns problemas em função, sobretudo, da remuneração ao produtor. Os produtores estão recebendo já há algum tempo, podemos seguramente falar em dois anos, valores muito baixos como remuneração que não permitam só ter lucro na sua atividade, como também a realização dos investimentos”, detalha.
Rizzo aponta que as importações intensas de leite em pó, principalmente utilizadas por indústrias de sorvetes, chocolates, confeitarias e padarias, têm sido realizadas de forma direta, sem passar pela agroindústria local. Esse fenômeno causa uma alteração no mercado, pois o leite em pó importado chega com preços mais baixos do que os custos de produção locais, desorganizando a cadeia produtiva nacional.
“As empresas têm importado leite sem passar pela nossa agroindústria. Entendemos que o governo deveria intervir nisso, coisa que ainda não fez”, salienta.