Na Castrolanda, uma colônia fundada em meados de 1950 por imigrantes holandeses, no município de Castro (PR), os criadores de gado da raça holandesa investem cada vez mais em genética e em tecnologia para garantir a produtividade e a rentabilidade do rebanho leiteiro.
As estatísticas – e também os relatos do campo – mostram que a pecuária leiteira vive atualmente uma de suas piores crises na história. O Brasil tem hoje cerca de 700 mil criadores de gado leiteiro, um contingente 40% menor do que o registrado no último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017, que identificou 1,17 milhão de produtores.
Ele acredita que, mesmo com a diminuição do número de produtores, o volume de produção em 2023 deve ficar próximo ao do ano passado, quando foi de 23,8 bilhões de litros de leite. Investir em ganho de eficiência, que já era um diferencial competitivo, tornou-se vitualmente a única saída para quem quer sobreviver na atividade, marcada por forte elevação de custos e, em paralelo, pelo aumento da importação de leite em pó da Argentina e do Uruguai.
A disparidade de preços entre os mercados interno e externo acentuou problemas que já existiam. Algumas redes de supermercados, comenta Volpi, passaram a importar diretamente dos produtores para comercializar o leite em pó fracionado.
A Fazenda Fini é uma das que têm seguido a cartilha do aumento de produtividade. Associada à Cooperativa Castrolanda – organização que faturou R$ 7,2 bilhões em 2022 e tem 1.198 cooperados, dos quais 450 são produtores de leite –, a propriedade produz 43 mil litros de leite por dia por meio de ordenha mecanizada, sem uso de mão de obra.
Fundada em 1952 pelo avô e pelo bisavô de Reynold, que chegaram à região com oito animais, nos primórdios da Castrolanda, a Fini coleciona títulos, entre os quais o de animal campeão do torneio leiteiro da Agroleite, quando registrou vacas produzindo em torno de 100 litros ao dia.
Também associado à Castrolanda, Charles Salomons é outro colecionador de premiações. Cinco vezes destacado como “criador supremo” pela Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, ele tem mil animais em sua propriedade, sendo 360 em lactação e 50 vacas secas. A produção diária total é de 16 mil litros de leite.
A propriedade adota a ordenha mecanizada, e alguns animais da fazenda chegam a produzir 85 litros ao dia. Para melhorar a produtividade, Salomons recomenda, além da adoção de tecnologia, controle efetivo da produção, atenção à genética do rebanho e boa gestão financeira, por meio de programas e softwares específicos. “É preciso saber para onde está indo cada centavo do negócio”, diz.
Ele representa a terceira geração à frente da propriedade, criada há mais de 70 anos por seu avô, que começou com um plantel de dez vacas e foi um dos primeiros imigrantes holandeses a chegar à região. O produtor já prepara os filhos para a sucessão nos negócios.
Como forma de amenizar os problemas na pecuária leiteira, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, anunciou no início de agosto a decisão do governo federal de comprar leite em pó a preços de varejo. A medida terá caráter emergencial, mas não deve encerrar a crise.
O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Gado Jersey, Nelci Mainardes, define o cenário atual como “extremamente difícil”, principalmente por causa do aumento dos custos de produção, puxado pela alta dos preços de milho e soja no mercado internacional (os dois grãos são os mais importantes na produção de ração para o gado).
A associação, que representa 1.200criadores de gado jersey no Brasil, trabalha para reverter a situação. Além de pedir a redução da importação do leite da Argentina e do Uruguai, assim como a alteração da alíquota de imposto para a importação de produtos lácteos – que o governo elevou recentemente de 12% para 18% –, Mainardes enfatiza que é necessário apoio aos produtores do setor para a renegociação de dívidas.
“A gente está pressionando, mas não se sabe se haverá soluções de imediato ou de curto prazo”, afirma. As lideranças estão preocupadas, mas a longo prazo os ganhos de eficiência e a concentração setorial serão as principais tendências do setor, segundo o estudo Projeções do agronegócio – Brasil 2022/23 a 2032/33, elaborado pela Secretaria de Política Agrícola, do Ministério da Agricultura.
A produção brasileira de leite deve crescer 19% nos próximos dez anos e atingir 40,5 bilhões de litros em 2033, baseada em melhorias na gestão das fazendas e na produtividade dos animais e menos no número de vacas em lactação.
Os autores do estudo explicam que nem todos os produtores menores vão sair. “Os excluídos serão aqueles que não se adaptarem à nova realidade de adoção tecnológica, melhorias na gestão e maior eficiência técnica e econômica. Vão permanecer os produtores eficientes”, diz o estudo. “Mas como existe uma diferenciação de preço por volume, haverá, sim, uma pressão por aumento de escala.”
A produtora Maria Benke conhece algumas dessas recomendações na prática. Ela está na pecuária leiteira há 12 anos e conta que precisou driblar o preconceito numa atividade em que a presença masculina é predominante. “Falavam que não ia dar certo, mas me mantive firme e fui buscar capacitação”, conta.
A Chácara Benke é referência em produtividade e tecnologia entre as pequenas propriedades. “Tudo que construí na fazenda saiu das vacas. Sabendo administrar, com controle financeiro para sobreviver e crescer”, ensina Maria. O segredo, reforça, é saber gastar, mesmo ganhando pouco.
“No final, é preciso sobrar alguma coisa para o produtor, que, por sua vez, tem que saber aplicar essa sobra”, sugere. Enquanto seu marido se concentra na lavoura, ela toca a pecuária leiteria em conjunto com o filho, William Benke. Com um plantel de leite de 102 cabeças, a produção passa de 2.500 litros de leite por dia.
Parte do rebanho, que tem 52 vacas, já está na ordenha robotizada, mas a previsão é chegar a 100%. Maria orgulha-se de dizer que sua chácara é a única pequena propriedade associada à Castrolanda – e a quarta no quadro geral – com o sistema de ordenha robotizada implantado.
E tão importante quanto a tecnologia, raciocina, é ter uma gestão atenta aos detalhes financeiros. É isso que permite fazer aquisições à vista – e, com isso, evitar financiamentos.
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