Na última venda, Fabio Cossa, de Francisco Beltrão, recebeu R$ 2,50 pelo litro de leite, que gerou um custo de R$ 2,80 para produzir.
leite - Oldair vendeu as vinte vacas por bem menos do que valiam e deixou a produção. Ph. IStock
O preço médio do litro do leite no Paraná registrou uma queda de R$ 0,64 no mês de agosto, comparado ao de 2022.

Em contrapartida, em um ano, as importações de lácteos aumentaram em 260% no Brasil, de acordo com dados do Sistema de Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio do Ministério da Agricultura (Agrostat).

O leite importado tem vindo de países vizinhos: Argentina e Uruguai. Até agosto deste ano, 161 mil toneladas foram importadas, enquanto que no mesmo período de 2022 foram 62 mil toneladas.

O cenário tem preocupado os produtores paranaenses. Muitos não estão nem conseguindo pagar as contas. Esse é o caso de Fabio Cossa, de Francisco Beltrão, no oeste do estado.

Ele está no ramo há seis anos. Na última venda recebeu R$ 2,50 pelo litro de leite, R$ 0,30 menor que o custo da produção. Segundo Fabio, dívidas estão se acumulando.

“A situação é complicada. Tem empresa que eu estou devendo desde o ano passado”, expõe.
Oldair Luckmeier é um ex-produtor de leite que havia empreendido no ramo ao lado da família. Para começar, ele financiou as vacas e parte das instalações de um sítio localizado em Flor da Serra do Sul, no Sudoeste. Até agosto deste ano, vinha pagando as parcelas com o lucro da atividade, porém ao ver o preço do leite despencar teve que desistir do negócio.

Oldair vendeu as vinte vacas por bem menos do que valiam e deixou a produção.

“Comecei a entregar leite em outubro de 2022. Cheguei a pegar R$ 3,10 no litro. Há um mês, quando parei com as vacas, cheguei a pegar R$ 2,14 e o meu custo de produção era de R$ 2,20. Eu não conseguia pagar as parcelas no banco”, conta.

Segundo o Departamento de Economia Rural da Secretaria Estadual de Agricultura, são vários os fatores que puxaram para baixo o preço do leite:

  • A queda na demanda, que não voltou a patamares de antes da pandemia;
  • A boa produção durante o inverno que não diminuiu a oferta de alimentos;
  • Disparada nas importações.

Situação discutida na Câmara

A situação da cadeia produtiva levou os produtores a demandarem ações em um encontro na Câmara dos Deputados que reuniu lideranças e centenas de produtores do Paraná e de outros estados.

Um documento assinado por mais de vinte associações de todo país pede, por exemplo, a prorrogação dos financiamentos de custeio e investimentos e uma alíquota de importações sobre lácteos vindos do Mercosul, sempre que esses produtos derrubem o preço do leite nacional.

O presidente da Aproleite Sudoeste, Sidiclei Risso afirma que o setor enfrenta uma concorrência desleal. “As nossas regras ambientais, trabalhistas, de higiene, de qualidade servem pro mercado interno, mas os produtores externos não estão submetidos a essas regras. Então é uma concorrência muito desleal”, comenta.

Oldair diz que tem esperança de um dia voltar a viver da produção de leite novamente. “O meu sonho é no futuro conseguir trabalhar com leite de novo. Mas não por enquanto. Nesse preço do leite não é fácil”, finaliza.

 

 

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