Quem vê o produtor hoje, firme à frente de uma fazenda eficiente e bem estruturada, talvez não imagine que tudo começou com pratos lavados em cozinhas estrangeiras e um sonho guardado no bolso.
Por trás do semblante sereno está a história de um mineiro que cruzou o mundo, enfrentou dificuldades e voltou às origens determinado a construir mais que uma propriedade: uma nova forma de fazer pecuária leiteira no Brasil.
Filho e neto de produtores rurais, Áureo cresceu no ambiente leiteiro, mas foi do outro lado do oceano que começou a desenhar seu futuro. Aos 28 anos, partiu rumo à Europa, onde passou três anos na Inglaterra e um na Espanha.
De lavador de pratos a chef de cozinha, encarou a rotina intensa da gastronomia não por paixão, mas com um propósito bem claro: juntar recursos para, um dia, retornar ao Brasil e comprar um pedaço de terra.
Com o objetivo alcançado, voltou à sua terra natal, casou-se e deu o primeiro passo em direção ao sonho que sempre o acompanhou: a produção rural. Em 2010, adquiriu o Sítio Cachoeira das Antas, mas a produção leiteira não começou de imediato.
O início foi com gado de corte, num sistema de confinamento modesto, com apenas 40 animais. Somente quando o orçamento permitiu, o leite entrou em cena — inicialmente com 100 litros diários, que pouco a pouco se transformaram em 250.
Essa transição, no entanto, exigiu paciência e aperfeiçoamento. Foram necessários quatro anos de ajustes para alcançar os níveis exigidos pelo mercado: padrão de qualidade, escala mínima, boas práticas ambientais e bem-estar animal.
Foi só em 2019 que Áureo conseguiu fechar seu primeiro contrato com a Danone Brasil, passando a fornecer leite regularmente. Com isso, ingressou na Jornada Flora, um programa da empresa voltado ao fortalecimento sustentável da cadeia leiteira, oferecendo suporte técnico e capacitação.
Hoje, o cenário é outro. Com um rebanho de 75 cabeças, sendo 63 em lactação, a propriedade registra uma produção superior a 2.300 litros de leite por dia — um salto de quase dez vezes em relação ao volume inicial.
E Áureo não pretende parar por aí. Sua meta é clara: alcançar os 3.500 litros diários, sem abrir mão da qualidade de vida animal.
Para isso, investiu pesado na infraestrutura da fazenda. Um novo galpão foi erguido, operando no sistema compost barn, onde as vacas descansam sobre camas de maravalha, com ventiladores de alta potência proporcionando conforto térmico.
Tudo foi pensado para maximizar o bem-estar e, consequentemente, a produtividade.
Mas, para Áureo, eficiência é mais do que um conceito: é uma meta calculada. Ele monitora os números com rigor. Hoje, seu custo de produção gira em torno de 49%, deixando uma margem líquida de 51%.
E já tem uma nova meta traçada: reduzir os custos para 40% e elevar a margem para 60%, sempre com o foco em alcançar o máximo de eficiência possível.
Por trás dos números, no entanto, está um produtor que enxerga o campo como um legado. A sucessão já começa a tomar forma com a figura de um sobrinho, jovem apaixonado pela lida com o leite e que já se prepara para, no futuro, assumir a gestão da fazenda.
“Ele tem um carinho enorme por tudo isso aqui. Está estudando e, quem sabe, será o próximo a continuar essa história”, diz Áureo.
Com os olhos no amanhã, Áureo planeja ampliar ainda mais sua estrutura. Um novo bezerreiro, outro galpão e um depósito de ração estão entre os planos para a próxima década.
Mas deixa claro: não se trata de crescer por crescer. “Nosso objetivo não é ser o maior, mas ser cada vez mais eficientes e sustentáveis”, resume o produtor, que transformou sua experiência internacional e suas raízes no campo em uma história de sucesso inspiradora.
