Para hoje, meu convite será o de gerar uma vaca de leite, já que ficou esclarecido que LEITE NÃO CRESCE EM CAIXINHA!

 

Para hoje, meu convite será o de gerar uma vaca de leite, já que ficou esclarecido que LEITE NÃO CRESCE EM CAIXINHA!

Precisaremos então fazer nascer uma bezerra, amamentá-la um longo tempo, recriá-la, fazê-la chegar à puberdade e, quando pronta para ser mãe ( assim como os humanos, na idade adequada ), aí trataremos de fecundá-la e, pasmem, o tempo de gestação é muito semelhante ao de uma mulher, a espera levará 9 meses e uns dias.

Alguém deve estar imaginando como se fecunda ou engravida uma fêmea bovina (nós rurais dizemos emprenhar). Então, aproveito para explicar:

Modo 1) Da mesma forma que em humanos, o processo de dá pela cópula ou monta de um touro (definição do reprodutor de sexo masculino o “homem da história”);

Modo 2) Por inseminação artificial ou FIV (sim, isto mesmo – Fertilização InVitro ), igualmente como médicos realizam este procedimento em mulheres. Neste caso, os produtores contratam médicos veterinários para implantarem embriões em vacas que parirão sua cria numa gestação semelhante em dias a da mulher.

Este é um longo período de cuidados com a vaca, nutrição, conforto, vacinas, todos os cuidados pré-natal se procedem em humanos.

Quando as bezerrinhas ou terneirinhas nascem, a vaca, com lambidas enérgicas, limpa o muco do parto que ficou no couro da recém vinda ao mundo, assim como a enfermeira o faz como um bebê ao nascer, secando-o com panos limpos, massageando-o para ativar a circulação.

Vacas o fazem por instinto, pois sabem que sua filhota deve respirar logo para ter a circulação ativada. É vital para a “babyvaca”. Logo, “os vaqueiros”, não importa se peão, patrão ou técnico, tratamos de cortar e desinfetar o umbigo da recém nascida. Não é assim que procedem no hospital? Fazemos o mesmo aqui na fazenda. Vocês cuidam até o umbigo cair? Nós fazemos igualzinho. Incrível, não é?

Agora uma pergunta, que talvez seu médico nunca tenha explicado:

– Por que zelar pela higiene do umbigo?

Sabiam que o umbigo é formado por artéria e veia que levam e drenam sangue dos órgãos internos do feto durante a gestação. Se o umbigo não sofrer extrema higiene, é porta de entrada para infecções que podem levar à morte? Somos do campo, mas sabemos disso, esta recém nascida é a nossa futura vaca e a produtora do leite que um dia estará no mercado.

NÃO ESQUEÇAM: LEITE NÃO NASCE EM CAIXINHA, ESTAMOS ENTENDIDO!

Passo 2 – Levamos a bezerrinha ao berçário, sim, berçário, onde, ao abrigo de chuva, vento e sol, ficará por alguns dias, exatamente como as enfermeiras procedem quando nasce um bebê humano.

Aí, mal dá tempo de sua esposa ou chegar ao quarto e seu filhote chora de fome, estou certo? O que fazer? Leite na mamadeira ou no seio da mamãe, correto? Fazemos igualzinho aqui na fazenda, mamadeira e bico super limpos e administramos o COLOSTRO, que é a primeira secreção láctea de cor amarelada e espessa, produzida pelo úbere da vaca no pós parto, riquíssima em tudo (energia, proteínas, minerais, vitaminas e anticorpos). Muito parecido com o colostro materno, sobre o qual os pediatras dizem:

– Nunca deixe de fornecer ao seu filho!

Aqui abro um pequeno parêntese para lembrar que a mamãe humana limpa seus seios para a primeira amamentação. Vacas precisam que também seja limpo os seus tetos. Nós fazemos isto, pois elas estão na natureza e não devemos permitir que a bezerra recém nascida tenha contato com sujidades. Nenhum de nós permitiria isto a um bebê.

Quase esqueço, tudo isto está ocorrendo na fazenda que você nunca foi conhecer, numa madrugada de chuva ou numa noite de frio intenso. Enquanto milhares de pessoas já estão no conforto de seus lares ou num restaurante com amigos, nós estamos cuidando de uma vida que produzirá o melhor alimento para o seu lanche da manhã.

Vocês já ouviram falar em avaliar colostro? Muito pouco, não é? Sim, precisamos fornecer o primeiro colostro para a bezerrinha, o qual contenha um excelente nível de células protetoras e de imunidade. Bezerras nascem sem qualquer defesa imunitária, assim como uma quase nula capacidade de regulagem de temperatura corporal. Se está frio sentem frio e podem morrer por hipotermia ou contrair pneumonia ao nascer. Se está calor, sofre também. Seu bebê é um tanto parecido, mas no campo, para salvar vidas de animais, precisamos ser enfermeiros e muitas vezes médicos, PORQUE VACAS NUNCA PARAM e nós somos seus parceiros e protetores.

Vamos seguir: – Bezerra sequinha, umbigo cortado e desinfetado, vaca ordenhada higienicamente, colostro avaliado e fornecido, berçário pronto e bem confortável, bezerra em sua cama. Encerra-se uma etapa que nos absorve horas de um dia. Temos, então, após 9 meses e uns dias, o fruto de uma espera tal qual uma mãe aguarda o nascimento de seu bebê.

Pensou que agora o produtor poderia ir descansar ou dormir? Nada disso! A bezerrinha necessita mamar muito colostro, uns 4 a 6 litros nas primeiras 6 horas de vida ou não terá imunidade suficiente para sobreviver e, como ela não pode ingerir tudo de uma vez, o “enfermeiro-produtor” dedica-se estas 6 a 8 horas a cuidar da mamada correta da recém nascida.

E o resto da fazenda? Bom, se não houver colaborador, a esposa do produtor estará ordenhando as vacas, pois são elas quem pagam as contas.

Finda a ordenha, vem a lavagem e desinfecção dos materiais que entraram em contato com o leite e animais. Até então o casal, se assim for, está sem se ver há horas, mas imbuído do mesmo espírito: o de produzir.

À noite se encontram, contam suas histórias e, num sono dos justos, adormecem, pois VACAS NÃO PARAM DE PRODUZIR, LEMBRAM? E às 5h da madrugada precisam ser ordenhadas novamente.

O campo é assim. Produtores que fazem pulsar a vida nas cidades, somos um Brasil que os urbanos só conhecem os nossos frutos e milhões sequer imaginam o que há no lado de dentro de uma porteira.

Aí, enquanto muitos ainda não entendem que LEITE NÃO NASCE EM CAIXINHA e que, por este motivo, lhes torna quase impossível perceber o esforço, dedicação, conhecimento, capital e amor que há num litro de leite, é exatamente quando o DESCASO E A MENTIRA NOS FEREM DEMAIS.

Por agora é um grito de milhares de homens rurais que estão buscando reconhecimento e um tratamento com decência, pois sem nós as cidades morreriam.

Consumidores brasileiros têm se surpreendido com a alteração do nome do queijo nas embalagens. Essa mudança foi definida em um acordo entre União Europeia e Mercosul.

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