O preço do leite pago aos produtores em Mato Grosso registrou uma queda significativa de 6,46% em novembro de 2025, conforme análise divulgada pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
O valor médio recebido pelo litro ficou em R$ 2,06, refletindo diretamente o aumento da disponibilidade de matéria-prima no estado.
De acordo com os especialistas do Imea, essa retração mensal está ligada ao maior volume de leite disponível nas fazendas mato-grossenses. O retorno das chuvas, típico dessa época do ano, proporcionou uma recuperação importante nas pastagens, oferecendo mais suporte nutricional aos rebanhos e elevando a produção nas principais bacias leiteiras da região. Essa abundância sazonal, comum no período de safra, acabou pressionando os preços para baixo, já que a oferta superou o ritmo de absorção pelo mercado.
No cenário mais amplo, o instituto destaca que tanto o atacado quanto o varejo sentiram os efeitos de uma demanda mais retraída. Isso fica evidente nos índices que acompanham a cesta de derivados lácteos. No atacado, o indicador — que inclui itens como manteiga, leite pasteurizado, bebida láctea, doce de leite e diversos queijos, como muçarela, prato, provolone e minas frescal — sofreu uma redução de 3,63 pontos percentuais. Com base 100 em janeiro de 2020, o índice fechou novembro em 118,33 pontos. Essa movimentação sinaliza claramente uma “demanda mais fria”, como descrevem os analistas, com consumidores optando por compras mais cautelosas.
Já no varejo, a queda foi um pouco mais moderada, de 0,62 ponto percentual, levando o índice a 150,72 pontos no mesmo período. Esses números reforçam a percepção de que o consumidor final está segurando o bolso, possivelmente influenciado por fatores econômicos gerais, como inflação controlada em outros setores ou priorização de gastos essenciais.
Os técnicos do Imea vão além e contextualizam o momento dentro de uma tendência nacional mais longa. Ao longo de 2025, os laticínios têm operado com margens de lucro bastante apertadas. Isso se deve a uma combinação de maior produção nas bacias leiteiras de todo o país com o avanço contínuo das importações de lácteos. Esse duplo impacto — oferta interna robusta somada à entrada de produtos estrangeiros a preços competitivos — dificultou o repasse de valores mais altos para o elo inicial da cadeia, ou seja, o produtor rural.
Para os pecuaristas de Mato Grosso, uma das regiões com tradição consolidada na pecuária leiteira, essa realidade traz desafios adicionais. Embora as chuvas tragam alívio imediato para os custos com alimentação animal, a pressão baixista nos preços pode comprometer investimentos em melhoria de rebanho, tecnologia ou expansão. Muitos produtores relatam, em conversas com extensionistas rurais, a necessidade de equilibrar volumes maiores com remunerações menores, o que exige gestão ainda mais rigorosa nas propriedades.
Olhando para frente, o Imea sugere que o cenário pode permanecer desafiador nos próximos meses, especialmente se a safra leiteira nacional mantiver o ritmo acelerado e as importações não sofrerem ajustes regulatórios. Por outro lado, uma eventual recuperação mais firme no consumo interno — impulsionada por festas de fim de ano ou melhora na renda das famílias — poderia amenizar parte dessa pressão.
No fim das contas, o episódio de novembro em Mato Grosso serve como termômetro para toda a cadeia láctea brasileira. Ele evidencia como fatores climáticos positivos, como as chuvas, podem gerar efeitos colaterais no mercado, quando aliados a uma demanda que não acompanha o mesmo vigor. Produtores, indústrias e varejistas precisam navegar nessa dinâmica com atenção, buscando estratégias que valorizem a produção local e equilibrem a oferta com o apetite real do consumidor.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Agua Boa News






