É preciso reverter o atual cenário agrícola e apostar numa política focada nas características e necessidades de cada país. A análise e o diagnóstico de um produtor de leite sobre um território com uma dependência externa de cereais e de outras matérias-primas, acentuada pela guerra na Ucrânia.
Monte - Desabafo de um produtor de leite de cabra na região da Covilhã Fundão

Eu, como a generalidade dos agricultores nacionais que muito respeito, estou a sentir as consequências de uma política agrícola completamente desajustada à realidade do nosso pequeno país, um país com enorme potencial e totalmente desvalorizado por quem o governa. Comparo-o a outros países europeus onde o respeito pelo agricultor e o seu trabalho são notórios e onde os índices pluviométricos, por exemplo, são bem diferentes dos nossos. Há muitos anos que defendo que as políticas agrícolas devem ser adequadas a cada país e às suas potencialidades agrícolas e nós já demos provas de que somos capazes de produzir quase tudo. Somos agricultores tecnicamente competentes e dominamos o potencial das nossas terras. Considero que as ferramentas que nos proporcionam são, para além de muito burocráticas, manifestamente escassas e não nos proporcionam garantias de que, em situações como a que estamos a viver atualmente, as possamos encarar com alguma tranquilidade e segurança.

Apoiar a produção e não a área, refrear o crescimento desenfreado das culturas hiper intensificadas que não nos trazem riqueza a nós, mas sim a quem cá investe, a nossa dependência de cereais e outras matérias-primas, palha, forragens , entre outras, é de tal forma grande que estamos sistematicamente nas mãos de terceiros.

O Estado português, inteligentemente e em benefício nacional, deveria utilizar os já existentes silos da EPAC e construir outros tantos para armazenar matéria-prima para os anos de seca (cada vez mais frequentes) ou para prevenir crises globais como a que infelizmente estamos a assistir com a guerra na Ucrânia. Tudo isto para podermos contar com reservas que nos salvaguardarão de futuras crises locais ou globais . Outro ponto muito importante é o combate à escassez de água. Construir reservatórios de água ao longo dos inúmeros cursos de água que temos no nosso país – e não me refiro só aos mais importantes – , restringir as plantações intensivas a montes, charnecas e zonas onde a produção de cereais e outras culturas (hortícolas por exemplo) não sejam economicamente viáveis. Desta forma, as terras cada vez mais abandonadas e sem atividades de cultivo, tornar-se-iam novamente produtivas e consequente, dar-se-ia uma redução do risco de incêndios que tanto nos assolaram nas últimas décadas.

O que os atuais agricultores nacionais produzem não tem de todo aumentos proporcionais ao da subida dos custos de produção, o que nos empobrece cada vez mais e nos obriga a, literalmente, vender o que muitas vezes tem gerações e gerações de histórias para assim, podermos viver com mais dignidade.

O sacrifício que fazemos para pôr os alimentos na mesa das pessoas deveria ser mais valorizado, vale-nos a paixão pelo que fazemos!

Somos os produtores de “petróleo” para o ser humano se nutrir, temos que ser um sector mais valorizado para os nossos governantes.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

Você pode estar interessado em

Notas
Relacionadas

Mais Lidos

Destaques

Súmate a

Siga-nos

ASSINE NOSSO NEWSLETTER