A Dinamarca anunciou a implementação do que será o primeiro imposto do mundo sobre emissões agrícolas, com foco na flatulência de gado como parte de suas metas climáticas.
A decisão, que começa a valer em 2030, preocupa produtores rurais, que veem na medida um risco à sustentabilidade econômica da agropecuária.
A nova taxação exige que agricultores paguem 300 coroas dinamarquesas (cerca de R$246,47) por tonelada de metano emitida, subindo para 750 coroas dinamarquesas em 2035 (cerca de R$616,18). Embora o governo defenda que a medida ajudará a combater as mudanças climáticas, produtores apontam para os desafios financeiros e estruturais que a nova política traz para o setor.
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A agropecuária dinamarquesa é altamente produtiva, com 60% do território nacional ocupado por áreas cultivadas. Essa proporção, uma das maiores do mundo, torna o setor um dos pilares econômicos do país. Contudo, com o novo imposto, pequenos e médios agricultores podem ser fortemente impactados, colocando em risco a produção e a segurança alimentar.
Acordo Tripartite Verde: o que está por trás da decisão
O Tripartite Verde, anunciado em junho, é uma aliança entre governo, indústria agrícola e grupos ambientais. Ele prevê, além da taxação sobre emissões de gado:
- Redução de poluição por nitrogênio: com meta de diminuir 13.780 toneladas de emissões anuais a partir de 2027, para restaurar costas e fiordes.
- Transformação de terras agrícolas: cerca de 250.000 hectares serão convertidos em florestas, enquanto 140.000 hectares de turfeiras – áreas úmidas com alto potencial de retenção de carbono – serão restaurados.
- Aumento da biodiversidade: a iniciativa prevê esforços para melhorar os ecossistemas locais, porém à custa de terras antes utilizadas para produção.
O governo argumenta que essas ações são necessárias para cumprir compromissos climáticos e restaurar o meio ambiente, mas produtores rurais questionam o custo dessas mudanças. Para muitos, a transição de terras agrícolas para espaços naturais é uma ameaça à viabilidade do setor e pode reduzir significativamente a capacidade de produção.
Produtores reagem à medida
Lideranças agrícolas dinamarquesas manifestaram preocupações com a falta de incentivos para o uso de tecnologias que reduzam emissões, em vez de simplesmente taxar o setor. “Estamos sendo responsabilizados por um problema global sem apoio suficiente para adaptar nossas práticas,” comentou um representante da associação de produtores rurais.
O impacto financeiro do imposto pode ser especialmente pesado para pequenos agricultores, que têm menos capacidade de investir em tecnologias para reduzir emissões. Alguns alertam que a medida pode levar ao abandono de atividades agropecuárias e aumentar a dependência da Dinamarca de importações de alimentos.
O modelo dinamarquês em debate
O governo, no entanto, argumenta que o imposto faz parte de um esforço maior para transformar a agricultura em um setor mais sustentável e que o “modelo dinamarquês” de cooperação política e diálogo com as partes interessadas é um exemplo a ser seguido globalmente. Segundo o ministro do clima, Lars Aagaard, “essa é uma solução que mostra como é possível equilibrar interesses políticos, ambientais e econômicos para enfrentar as mudanças climáticas.”
Ainda assim, produtores defendem que o diálogo deveria ter incluído mais incentivos e menos penalidades, além de considerar o papel da agropecuária dinamarquesa como referência mundial em eficiência e sustentabilidade.
Ameaça ao setor ou mudança necessária?
Embora a Dinamarca seja frequentemente vista como pioneira em políticas ambientais, o imposto sobre emissões agrícolas levanta questões sobre o equilíbrio entre metas climáticas e a sobrevivência econômica dos agricultores.
Para produtores rurais, a medida pode acabar enfraquecendo o setor, sem garantir os resultados climáticos prometidos. “Precisamos de políticas que incentivem a inovação, não de penalizações que punem quem já está fazendo o possível,” concluiu um líder agrícola.
A implementação do imposto será acompanhada de perto por outros países, mas o debate dinamarquês já aponta para a necessidade de equilíbrio entre sustentabilidade ambiental e preservação da produção agrícola – um desafio que transcende as fronteiras.