Em decorrência das enchentes que recentemente assolaram o Rio Grande do Sul, o setor lácteo brasileiro enfrenta desafios.
As inundações devastaram áreas agrícolas e interromperam estradas e rodovias, comprometendo severamente a circulação de insumos, leite cru e produtos lácteos, de acordo com o Centro de Estudos em Política Aplicada (Cepea).
Setor lácteo: produção e distribuição
As enchentes causaram a paralisação de várias indústrias de laticínios, seja por danos estruturais, falta de energia elétrica ou dificuldades na captação de leite cru nas fazendas. As fábricas e cooperativas que ainda operam estão realizando esforços conjuntos para captar leite de propriedades menos afetadas e distribuir os produtos lácteos, porém, as rotas alternativas elevam substancialmente os custos logísticos.
A dificuldade de acesso às fazendas também compromete a compra de ração, resultando em relatos de racionamento e menor produção devido à alimentação inadequada dos rebanhos.
“Há registros de descarte de leite no campo, devido à falta de ração, energia elétrica e combustível”, destaca o Cepea.
Os pesquisadores enfatizam que a falta de energia elétrica tem um impacto severo no setor, impedindo a automação da ordenha e o resfriamento do leite nas propriedades, além de afetar o processamento e a conservação dos produtos lácteos nas indústrias.
Fazendas e laticínios que continuam operando dependem de geradores e combustível, cuja escassez pode inviabilizar a produção. Segundo colaboradores do Cepea, os prejuízos são enormes, embora ainda incalculáveis.
Aumento nos preços
Tradicionalmente, a produção de leite no Rio Grande do Sul aumenta a partir de abril, com a oferta subindo em maio, junho e julho devido às pastagens de inverno, o que geralmente resulta em queda de preços. Este período é crucial para abastecer outros estados durante a entressafra no Sudeste e Centro-Oeste.
No entanto, este ano, as enchentes alteraram esse cenário. A redução da produção de leite em maio pode levar a um comportamento atípico dos preços ao produtor. As perdas estruturais no campo e nas indústrias podem retardar a recuperação da oferta de leite cru e produtos lácteos, reforçando a expectativa de preços elevados nos próximos meses.
Mesmo com muitas famílias desabrigadas, as compras institucionais de lácteos podem sustentar a demanda. No entanto, o aumento dos custos logísticos provavelmente será repassado aos preços dos produtos lácteos, pressionando ainda mais o setor.
“A recuperação completa das áreas afetadas e a normalização das operações dependem de esforços contínuos e investimentos significativos”, afirma o Cepea.
A situação no Río Grande do Sul requer uma resposta coordenada e investimentos robustos para mitigar os danos e garantir a continuidade da produção e distribuição de lácteos, essenciais para a alimentação da população e a economia regional.