O CEO da Danone, Antoine de Saint-Affrique, afirmou que a recompra de ações não está entre as prioridades imediatas da companhia. Em entrevista ao Financial Times, o executivo explicou que o foco atual está na redução da dívida corporativa e na busca por aquisições estratégicas, alinhadas ao novo ciclo de transformação que vive o setor de alimentos.
A declaração foi repercutida pela Reuters e reflete uma mudança de postura na gigante francesa, que vem reposicionando suas prioridades financeiras diante de um cenário global mais desafiador. Segundo Saint-Affrique, “a indústria alimentícia chegou a um ponto de virada”, impulsionada por mudanças demográficas, novas preferências dos consumidores e avanços científicos que estão redefinindo o que significa comer bem.
Mais ciência, menos dívida
Nos últimos anos, a Danone tem redirecionado recursos para fortalecer sua base científica. Apenas em 2024, a empresa investiu cerca de €500 milhões em pesquisa e inovação, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. O objetivo é manter esse nível de investimento para acelerar o desenvolvimento de produtos que respondam às novas demandas de saúde e sustentabilidade.
Saint-Affrique ressaltou que grande parte das doenças modernas tem origem em hábitos alimentares inadequados, e que a indústria precisa assumir um papel ativo na promoção de dietas mais equilibradas. “Os alimentos do futuro devem prevenir, e não apenas alimentar”, destacou.
Apoio às políticas de saúde pública
O executivo também expressou apoio às iniciativas dos Estados Unidos que visam combater a obesidade e o consumo excessivo de aditivos. Para ele, tais medidas estão em sintonia com os programas internos da Danone, que há anos aposta em portfólios mais naturais e funcionais.
Essa convergência reforça a imagem da empresa como líder global em nutrição responsável, especialmente em categorias como lácteos fermentados, nutrição infantil e vegetalizados — segmentos que continuam crescendo acima da média da indústria.
Equilíbrio entre dívida e expansão
Mesmo diante da cautela com recompras, a Danone não descarta movimentos de expansão via aquisições. O CEO indicou que há oportunidades para fortalecer o portfólio em nichos de alto valor agregado, especialmente em mercados emergentes e produtos de base científica.
O foco, no entanto, é manter o equilíbrio. A companhia busca reduzir gradualmente seu nível de endividamento, preservando ao mesmo tempo a capacidade de investir. Essa estratégia visa sustentar o crescimento orgânico sem comprometer a solidez financeira — um desafio que se tornou central para empresas globais em tempos de alta dos juros e inflação persistente.
Resultados e expectativas
A Danone divulgará seus resultados do terceiro trimestre em 28 de outubro, e o mercado acompanha com atenção se a aposta na disciplina financeira e na inovação se refletirá nos números. Analistas esperam avanços moderados em margens e rentabilidade, sustentados pela reestruturação de portfólio e pelos investimentos em pesquisa.
Com um faturamento anual acima de €27 bilhões, a empresa segue entre os principais players mundiais do setor de alimentos e bebidas, ao lado de Nestlé e Unilever. O reposicionamento estratégico liderado por Saint-Affrique — que assumiu o comando em 2021 — tem como meta recuperar a confiança dos investidores após um período de crescimento estagnado.
Tradição e futuro no mesmo copo
A história centenária da Danone, nascida em 1919 em Barcelona e consolidada em Paris, combina tradição e inovação. Hoje, a companhia tenta provar que pode ser moderna sem perder suas raízes, apostando em ciência, transparência e propósito social como diferenciais competitivos.
Enquanto algumas empresas do setor priorizam recompras de ações para agradar o mercado, a Danone escolhe um caminho mais prudente: investir no futuro antes de recompensar o presente.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Investing.com
