O leite A2 está surgindo com uma demanda cada vez mais forte no Brasil. De mais fácil digestão e sem causar desconforto estomacal para quem consome, a bebida representa para os produtores e agroindústrias uma janela de oportunidades.
Entre as vacas existem três genótipos possíveis: o A1A1 determina que a vaca produza apenas a beta caseína A1; vacas com o genótipo A2A2 produzem somente o tipo A2; e as com genótipo A1A2 produzem os dois tipos.
Se por um lado estudos apontam que a bebida tem um maior grau de digestibilidade para o organismo humano, que pode prevenir e tratar problemas intestinais, por outro, significa a chance de agregar valor à matéria-prima e se destacar no mercado.
“A produção do leite A2 representa para os pecuaristas a abertura de novos mercados. Quando se separa o leite A1 e produz lácteos com certificação de 100% A2, a tendência é que esses derivados tenham maior valor agregado, visto que tem o diferencial de não causar desconfortos intestinais para quem consome”, explica Filipe Barbosa Martins, zootecnista e coordenador de produção animal da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag).
Ter um plantel 100% A2A2, passa pelo cruzamento e seleção genética no rebanho. “O pecuarista pode fazer testes genéticos dos animais e, a partir de então, direcionar os acasalamentos para que os bezerros tenham essas características. Para garantir que o rebanho dará origem ao leite A2, é preciso contratar uma certificadora para testar os animais”, destaca Filipe.
Dados do Anuário do Leite 2023, produzido pela Embrapa Gado de Leite, apontam que no Brasil, o segmento do leite A2 está estimado em cerca de R$ 100 milhões anuais, menos de 1% do mercado de leite. Mas a expectativa é que o consumo do produto passe a crescer em torno de 20% ao ano, à medida que se torne conhecido.
No Espírito Santo, o Laticínio Fiore, em Santa Teresa, é pioneiro na produção de leite A2. De olho nas tendências do mercado, há cinco anos Marcos Corteletti resolveu investir na novidade e não se arrepende. O rebanho tem 300 vacas da raça Holandesa, 100 A1 e 200 A2. Mas o produtor já trabalha para se tornar 100% A2 até meados de 2025.
“O leite A2 é cada dia mais procurado pelos consumidores que têm algum tipo de intolerância à beta caseina A1 e com isso o mercado só cresce. Quando começamos o leite A 2 representava apenas 10% das vendas, hoje já é nossa maior produção. É muito satisfatório por que, além de agregar valor aos seus derivados, o preço do leite é 25% mais alto do que o leite comum”, explica Corteletti.
Mas, não é apenas na propriedade dele que o rebanho vai se tornar A2. Marcos conta que “a projeção mundial é que dentro de aproximadamente 10 anos, todas as fazendas se tornem A2. 90% dos touros no mundo, já são A2”. Além do leite integral pasteurizado, o laticínio produz também outros derivados.
Laticínio 100% A2
Na família Moulin o leite 100% A2A2 já é uma realidade. Com forte tradição na pecuária leiteira, Emanoel Moulin (31), e seu pai Edson Alves Moulin (61), acabam de inaugurar o primeiro laticínio com produção exclusiva de A2 no Espírito Santo. A mudança do rebanho e a construção do laticínio, demandaram um investimento da ordem de 5 milhões de reais e levou três anos para ser concluído.
“Este é um dos mercados que está crescendo, existe demanda. Muitas pessoas têm essa intolerância e deixam de tomar o leite e comer os seus derivados. Temos um produto que atende não só quem tem intolerância, mas também as que não tem. Optamos justamente para ter esse diferencial de mercado”, explica Emanuel, que espera recuperar o investimento em até três anos.
A transição começou com exames em todos os animais para saber quem era A2. Os animais A1 foram todos substituídos por A2. O rebanho é formado por 130 animais da raça Girolando 1/2 sangue, deste total, 70 são vacas leiteiras criadas no sistema de Compost Barn (Estábulo de Composto).
A fábrica de lácteos tem uma capacidade instalada para processar até 7 mil litros de leite por dia. Inicialmente serão produzidos iogurte de açaí com banana, iogurte de morango, ameixa, queijo minas frescal, manteiga, muçarela e queijo coalho, todos 100% leite A2.
“Optamos por produtos de saída mais rápida para atender os clientes do dia a dia que procuram produtos A2 no mercado e não encontram. Hoje, o único produto A2 que encontra com mais facilidade é o leite, manteiga e queijo, por exemplo, é mais difícil”, conta.
O Laticínio 3 E fica no sítio de mesmo nome, em Oriente, Jerônimo Monteiro.