Hugo Leite, 31, nascido e criado em São Roque de Minas, na Serra da Canastra, é a quinta geração de uma família que carrega a tradição local da produção do queijo artesanal.
Uma herança não só do ofício, mas de um negócio familiar que movimenta a economia e gera emprego e renda na região. “Empregamos hoje 15 colaboradores. Nossa produção média é de 50 peças de queijo por dia, mantendo toda a tradição da nossa família: bezerro ao pé da vaca, raça mais rústica, de monta natural e alimentação no pasto. Tudo seguindo padrões sanitários rígidos e modernos”, destaca.
O jovem empreendedor formou-se em arquitetura, em Belo Horizonte, e chegou a fazer algumas disciplinas na Itália, mas, depois de formado, retornou à cidade natal para trabalhar na queijaria da família. “Meus avós faziam queijos, meus tios mexiam com queijo, mas o meu pai – ele tem mais quatro irmãos – foi o único que estudou e tinha empreendido em outro ramo”, conta.
O pai dele, João Carlos Leite, 59, é formado em agronomia. Assim como o filho, deixou São Roque para estudar, mas retornou para montar uma loja de insumos agropecuários e prestar assistência técnica aos pequenos produtores da região. Em 2005, fundou a Associação dos Produtores de Queijo da Canastra (Aprocan) e também começou a produzir queijo.
“A primeira coisa que aprendi a fazer na vida foi queijo. Eu era muito criança, com 3, 4 anos, minha mãe ia para a queijaria e a gente ia junto. Tenho a lembrança de pegar uma lata de massa de tomate, tirava a tampa de cima, esfregava a latinha no chão, tirava o fundo, transformava em umas forminhas e fazia uns queijinhos”, recorda João Carlos.
Ajuda a distância
“Em 2015, graças a um prêmio de um queijo daqui da Canastra, em um concurso na França, o queijo da Canastra explodiu em termos de marketing. Justamente nesse ano eu estava na Itália”, conta. A princípio, a ajuda era a distância. Depois que voltou ao Brasil, dividia o tempo entre os estudos na capital e a administração da queijaria.
“Voltei em 2016 e tomei frente para organizar nossa marca. Contratei um designer até contra a vontade do meu pai, que achou que era jogar dinheiro fora, e comecei a tomar a frente das coisas”, recorda Hugo. Nascia ali a marca Roça da Cidade, a queijaria da família Leite. “Eu falo que não teve uma decisão de voltar para São Roque. Quando eu me vi, eu estava dentro da Roça, e a Roça, de certa forma, cresceu nas minhas mãos”, afirma o jovem empresário.
Para a economista Ana Paula Bastos, da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), a história de Hugo é um exemplo de como um ofício antigo pode ser mantido ao longo de gerações como um negócio lucrativo, sem perder as raízes e o modo de fazer familiar. “Quando você começa um ofício e passa para a família, querendo ou não, você está transmitindo um negócio familiar.
E muitos dos filhos criam empresas, negócios, aumentam escala, inovam. Então isso tudo mostra a importância desse conceito raiz e o impacto disso em toda a sociedade”, destaca.