Na região do Alentejo, em Portugal, a inteligência artificial (IA) está transformando a produção artesanal do queijo Serpa DOP, um produto tradicional protegido pela União Europeia.
O projeto QI 4.0 – Queijo Serpa DOP, desenvolvido pela Associação de Produtores Queijo Serpa (APS) em parceria com o Instituto Politécnico de Beja e financiado pelo Programa Promove da Fundação “la Caixa”, busca combinar técnicas tradicionais com as mais modernas tecnologias de monitoramento e aprendizado de máquina.
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A experiência oferece insights valiosos para a indústria queijeira brasileira, que também possui um forte legado artesanal e uma crescente demanda por inovação.
Como a IA está ajudando o queijo Serpa?
O projeto utiliza algoritmos baseados em instrumentação e sensores avançados para monitorar o processo de cura do queijo. Isso inclui medir parâmetros de qualidade, como temperatura e umidade, além de condições ambientais. Com base nesses dados, um assistente virtual, acessado por meio de um aplicativo móvel, ajuda os produtores a tomar decisões informadas, garantindo padrões consistentes de qualidade e reduzindo desperdícios.
Entre os principais benefícios identificados estão:
- Melhoria da qualidade do produto final, com maior consistência nos padrões.
- Segurança alimentar aprimorada, graças à detecção precoce de potenciais problemas.
- Redução de custos operacionais, como consumo energético, ao otimizar processos.
- Valorização comercial, evitando perdas por defeitos no queijo e promovendo a economia circular.
Além disso, o projeto promove a capacitação de produtores e estabelece uma rede regional de compartilhamento de conhecimento, conectando artesãos locais com iniciativas similares, como a Associação de Queijos Andaluces na Espanha.
Esse intercâmbio transfronteiriço fortalece o posicionamento dos queijos tradicionais em mercados externos, consolidando o conceito de um “Queijo Inteligente”.
Oportunidades para o Brasil
O Brasil é rico em tradições queijeiras, com produtos reconhecidos como o queijo Canastra e o coalho, cuja produção ainda é majoritariamente artesanal. Ao mesmo tempo, o país enfrenta desafios semelhantes aos de Portugal, como a necessidade de aumentar a eficiência produtiva sem sacrificar a qualidade artesanal. A implementação de tecnologias como as usadas no projeto QI 4.0 poderia transformar o setor em várias frentes:
- Monitoramento em tempo real: Sensores e aplicativos móveis poderiam ajudar os produtores brasileiros a ajustar parâmetros de cura, considerando fatores regionais, como o clima tropical.
- Redução de desperdícios: A IA pode minimizar defeitos nos queijos, reduzindo perdas e aumentando a rentabilidade, especialmente para pequenos produtores que dependem fortemente de cada lote produzido.
- Capacitação técnica: Programas de formação semelhantes aos da APS podem empoderar os produtores brasileiros, promovendo a integração de práticas tecnológicas no manejo diário.
- Promoção de economia circular: Ao otimizar processos e reduzir o impacto ambiental, a tecnologia contribui para práticas mais sustentáveis, alinhadas às demandas de consumidores globais.
- Conexão com mercados internacionais: Assim como o queijo Serpa se beneficia da proteção da União Europeia, os queijos brasileiros poderiam buscar certificações e se posicionar melhor em mercados externos, destacando a aplicação de tecnologia de ponta.
Implementação no Brasil: por onde começar?
- Criação de parcerias: Universidades e instituições como a Embrapa podem colaborar com associações locais de produtores para desenvolver soluções tecnológicas específicas para o setor.
- Programas piloto regionais: Escolher regiões icônicas de produção queijeira, como Minas Gerais ou Pernambuco, para implementar sensores e ferramentas de monitoramento.
- Fomento ao empreendedorismo tecnológico: Iniciativas de startups focadas em agrotecnologia podem ser incentivadas para desenvolver aplicativos acessíveis e adaptados às necessidades locais.
- Capacitação contínua: Assim como no projeto português, é essencial investir em workshops e treinamentos para que os produtores adotem as inovações com confiança.
O futuro do queijo artesanal no Brasil
A experiência europeia com a inteligência artificial na produção de queijos artesanais oferece um modelo inspirador para o Brasil. Ao combinar tradição e tecnologia, o setor pode não apenas preservar a autenticidade de seus produtos, mas também torná-los mais competitivos no cenário global. Essa união de inovação e legado cultural é o caminho para um futuro sustentável e próspero para a indústria queijeira brasileira.