A quarta revolução industrial é a confluência de três mundos: o físico, o digital e o industrial. Ela muda nossa economia, muda a maneira como interagimos, como consumimos produtos (Henrik Von Scheel, criador do conceito da Indústria 4.0).
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As informações em tempo real são o tesouro da era digital, pois nos permitem conhecer, entender e agir de acordo com a realidade de forma rápida, precisa e eficaz.

A Indústria 4.0, ou a 4ª Revolução Industrial, nasceu na Alemanha no final da primeira década dos anos 2000 e é a maior transformação de nossa sociedade nos últimos dois séculos.

As novas tecnologias vieram para ficar e mudaram radicalmente tudo relacionado ao setor social, econômico e, portanto, ao setor industrial, em um verdadeiro ecossistema de inovação e transformação digital.

Tecnologias que caracterizam a Indústria 4.0

Big Data, o gerenciamento e a análise de grandes volumes de dados gerados pelos processos de produção, que permitem a otimização da eficiência, da qualidade e da inovação.
Simulação, o uso de modelos virtuais para representar e experimentar diferentes cenários e soluções antes de implementá-los na realidade, reduzindo custos e riscos.
Manufatura aditiva, impressoras 3D para criar objetos tridimensionais a partir de materiais como plástico, metal ou cerâmica.
Segurança cibernética, medidas e ferramentas para proteger sistemas de computadores, dados e comunicações de possíveis ataques ou ameaças externas ou internas.
Computação em nuvem, o uso de servidores remotos para armazenar, processar e acessar dados e informações pela Internet, sem a necessidade de infraestrutura própria, o que permite maior escalabilidade, mobilidade e colaboração.
Internet das Coisas, sensores e dispositivos conectados à Internet que permitem a coleta, a transmissão e a recepção de dados sobre objetos, pessoas e o ambiente, facilitando o controle, a automação e a interação.
Sistemas ciberfísicos, sistemas integrados que combinam componentes físicos, como máquinas ou robôs, com componentes digitais, como software ou redes, que se comunicam e interagem entre si e com o ambiente.
Robótica, que é o uso de máquinas programáveis que podem executar tarefas complexas, repetitivas ou perigosas com mais precisão, rapidez e segurança do que os seres humanos.
Realidade virtual: o uso de dispositivos como capacetes ou óculos de proteção que criam um ambiente simulado, permitindo que o usuário experimente e interaja.
Realidade aumentada: o uso de dispositivos como telefones ou óculos que sobrepõem informações digitais ao ambiente real, permitindo que o usuário visualize e interaja com ele.
Realidade mista: o uso de dispositivos, como capacetes ou óculos, que combinam elementos de realidade virtual e realidade aumentada, permitindo que o usuário veja e interaja com objetos virtuais integrados ao ambiente real.

O setor 4.0 envolve uma mudança radical nos sistemas de fabricação e produção para alcançar a excelência operacional, com a automação e a digitalização dos processos, a fim de reduzir custos, oferecer melhores serviços, aumentar o desempenho e gerar maior valor agregado.

Não se trata de um processo de limpeza. Não significa jogar tudo fora e começar de novo, mas sim associar os elementos existentes às novas tecnologias.

Outra característica fundamental do setor 4.0 é a forte orientação para o cliente: ele é praticamente projetado para o feedback contínuo do cliente.

Como os conceitos da Indústria 4.0 são aplicados nos diferentes elos da cadeia de laticínios em todo o mundo

Na produção primária:

Os robôs de ordenha voluntária permitem que as vacas sejam ordenhadas quando quiserem, sem intervenção humana, e coletam informações sobre a produção e a qualidade do leite e o estado de saúde dos animais.
Os sensores e a Internet das Coisas permitem monitorar diferentes parâmetros dos processos de produção, como temperatura, umidade, pH, condutividade etc., e transmiti-los aos sistemas de informação que facilitam o controle e a tomada de decisões.

Os sistemas ciberfísicos integram os mundos físico e digital por meio de dispositivos que processam, armazenam e comunicam dados sobre os processos que controlam.

A computação em nuvem e o big data armazenam e compartilham grandes volumes de informações geradas por sensores e sistemas ciberfísicos, para analisá-las usando algoritmos inteligentes que otimizam a eficiência, a qualidade e a lucratividade da produção.

No estágio de processamento:

O processamento de laticínios sob o conceito da Indústria 4.0 envolve o uso de tecnologias digitais e robóticas para melhorar a qualidade, a segurança, a eficiência e a sustentabilidade do produto. Algumas das tecnologias que já estão sendo aplicadas no processamento de alimentos lácteos são:

Tecnologia de mudança de pressão: permite que o leite seja pasteurizado sem afetar suas propriedades organolépticas e nutricionais, por meio de um tratamento térmico de alta pressão. Ela é usada pela Arla Foods Kruså, da Dinamarca, com a tecnologia de pasteurização UV da Lyras, para produzir leite com maior prazo de validade e menor pegada de carbono; pela INTA, da Argentina, que está desenvolvendo uma máquina de ensacamento para leite fluido, que o pasteuriza dentro do recipiente por mudança de pressão e o resfria, para facilitar a comercialização direta por pequenos produtores; e pela Förster-Technik GmbH, da Alemanha, que oferece um pasteurizador de leite de bezerro que usa essa tecnologia para garantir a qualidade e a segurança do leite.

A tecnologia de extrusão permite texturizar queijos com um processo mecânico que modifica a estrutura da proteína. Ela é usada pela Leprino Foods, sediada nos EUA, que produz mussarela e outros queijos com a tecnologia de extrusão, obtendo maior qualidade e rendimento; pela Fonterra, sediada na Nova Zelândia, que a utiliza para produzir cheddar e outros queijos com uma textura mais firme e consistente; e pela Lactalis, sediada na França, que usa essa tecnologia para produzir Emmental e outros queijos com sabor mais intenso e menor teor de gordura.

A tecnologia de micro-ondas envolve a aplicação de ondas eletromagnéticas de alta frequência para aquecer, secar ou desidratar produtos lácteos, reduzindo o consumo de energia e água, melhorando a qualidade e a segurança do produto e aumentando a produtividade. Algumas das empresas que a fornecem são a europeia ENREMILK, a alemã GEA e a sueca Tetra Pak.

A tecnologia de vapor superaquecido em circuito fechado para processamento de laticínios é uma técnica que usa vapor acima da temperatura de saturação para secar leite em pó desnatado por pulverização, utilizando o calor residual e minimizando as emissões. Ela é usada pela Arla Foods, que obteve uma economia de energia de 20% e uma redução de 40% nas emissões de CO2; pela holandesa FrieslandCampina, que obteve uma economia de energia de 15% e uma redução de 30% nas emissões de CO2; e pela suíça Nestlé, que obteve uma economia de energia de 10% e uma redução de 20% nas emissões de CO2.

Os sistemas de informação e gerenciamento permitem a integração e a análise de dados gerados por sensores e dispositivos em plantas de processamento, facilitando o controle de qualidade, a rastreabilidade, a otimização de processos e a tomada de decisões. Eles são usados pela Mastellone Hnos, na Argentina, para gerenciar seus processos de produção, financeiros e comerciais; pela Nestlé, que usa sistemas de informação e gerenciamento da Microsoft para melhorar a eficiência, a inovação e a sustentabilidade na produção; e pela Lactalis, que usa sistemas da Oracle para otimizar sua cadeia de suprimentos, produção e comercialização de produtos lácteos.

Distribuição e vendas:

Esse último elo da cadeia está integrado ao conceito da Indústria 4.0 com o uso de tecnologias digitais e robóticas para melhorar a logística, a rastreabilidade, a segurança e a satisfação do cliente. Algumas das tecnologias que estão sendo aplicadas na distribuição e no marketing da cadeia de laticínios são:

Os códigos RFID e QR permitem que os produtos lácteos sejam identificados e registrados em movimento, facilitando o controle de estoque, o gerenciamento da qualidade e a rastreabilidade desde a origem até o consumo. Algumas empresas de laticínios que os utilizam são:

A Danone, da França, usa RFID para rastrear seus produtos desde a produção até a distribuição, melhorando a eficiência, a segurança e a satisfação do cliente.
A Parmalat, da Itália, usa códigos QR para fornecer informações sobre a origem, o processamento e as propriedades de seus produtos lácteos, promovendo a transparência e a confiança do consumidor.
A La Serenísima, da Argentina, usa códigos QR para facilitar o pagamento móvel de seus produtos, oferecendo conveniência e imediatismo ao cliente.

O Blockchain ajuda a criar um banco de dados descentralizado e seguro que registra as transações e interações entre os participantes da cadeia de laticínios, garantindo transparência, confiança e eficiência. O Carrefour da França o utiliza para rastrear a origem e a qualidade de seus produtos lácteos, como leite fresco, queijo ou iogurte, fornecendo informações detalhadas aos consumidores. A Nestlé usa o Blockchain para rastrear seus produtos para bebês, como fórmulas infantis, desde a fazenda até o ponto de venda, garantindo segurança e rastreabilidade. E a Fonterra o utiliza para facilitar o comércio internacional de produtos como leite em pó ou manteiga, reduzindo custos e tempos de transação.

A inteligência artificial e a análise de dados processam e analisam os grandes volumes de dados gerados por sensores e dispositivos na distribuição e no marketing, otimizando rotas, prevendo a demanda, personalizando ofertas e criando a fidelidade do cliente. A Saputo, do Canadá, usa esses recursos para melhorar a eficiência operacional, a qualidade do produto e a experiência do cliente em seus negócios de queijo, leite fluido e laticínios. A Mengniu, da China, para otimizar sua cadeia de suprimentos, reduzir o desperdício de alimentos e aumentar a lucratividade de seus produtos. E a Yili, da China, para melhorar o gerenciamento de estoque, o controle de qualidade e o atendimento ao cliente em todas as suas marcas.

A robótica e a automação usam máquinas e sistemas inteligentes para realizar tarefas de forma autônoma, eficiente e precisa na distribuição e no marketing, facilitando o transporte, o armazenamento, a embalagem e a entrega de produtos. A Lala, do México, usa robótica e automação para otimizar seus processos logísticos, reduzir os custos operacionais e melhorar o atendimento ao cliente. A Vigor, do Brasil, para melhorar a eficiência da produção e a qualidade dos produtos. E a Bega Cheese, da Austrália, para aumentar sua capacidade de produção, competitividade e sustentabilidade.

As empresas têm um compromisso cada vez maior com o desenvolvimento econômico da sociedade e com a sustentabilidade, e essa revolução possibilitará o exercício dessa responsabilidade.

Cada setor se adaptará de acordo com seu tamanho, capital e necessidades, mas a Indústria 4.0 acabará com os modelos de negócios como os conhecemos.

Valeria Hamann

 

 

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Nesta segunda parte da entrevista, Damián e Cristina da NZX falaram sobre o Global Dairy Seminar, um evento importante que ocorrerá em alguns dias em Cingapura, e sobre os novos mercados que impulsionarão a demanda por produtos lácteos nos próximos anos.

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