Jovem pecuarista que decidiu apostar no leite como projeto de vida, Luiz Adriano, de 26 anos, vem chamando a atenção no interior de Minas Gerais ao transformar um pequeno começo em um sistema produtivo intensivo e organizado.
Em pouco mais de um ano, o produtor rural de Paiva, na Zona da Mata mineira, saiu de apenas 10 vacas em lactação para um rebanho de 38 animais em produção, alcançando uma média diária entre 880 e 900 litros de leite.
A trajetória começou de forma simples e familiar. Filho de comerciante de gado, Luiz recebeu do pai, Adriano, um lote inicial de 15 vacas — sendo 10 já paridas e cinco novilhas. Com esses animais, ele decidiu seguir um caminho diferente do comércio: arrendou uma propriedade rural e passou a investir exclusivamente na pecuária leiteira, com rotina diária de ordenha, funcionário fixo e alimentação intensiva no cocho.
Em cerca de 12 meses, o jovem deixou de ser ajudante nas atividades do pai para se tornar gestor do próprio negócio. Hoje, administra um sistema confinado, com foco em produtividade individual e controle diário do rebanho. A média por vaca gira entre 23 e 24 quilos de leite por dia, um número considerado elevado para um sistema ainda em fase de consolidação e com estrutura enxuta.
A base do plantel é formada por vacas meio-sangue, com presença de animais três quartos e cinco oitavos, muitos deles oriundos de embriões. Para Luiz, genética é investimento. Um exemplo disso está no curral: uma vaca três quartos, adquirida inicialmente como animal comum em um lote de comércio, tornou-se a campeã de produção da fazenda, com cerca de 50 quilos de leite por dia.
Outras vacas do rebanho também se destacam. Algumas meio-sangue, apelidadas pelo produtor de “rainhas do curral”, já participaram de torneios leiteiros municipais e conquistaram colocações de destaque em exposições regionais, reforçando a aposta em genética como diferencial produtivo.
O sistema adotado é predominantemente confinado, embora as vacas tenham acesso ao pasto. A base da alimentação está no cocho, com volumoso e concentrado fornecidos duas vezes ao dia, sempre após as ordenhas. A estratégia é clara: manter sobra de alimento para evitar queda de consumo e perda de condição corporal.
Na dieta, Luiz utiliza silagem como volumoso principal, complementada com polpa cítrica. O concentrado é formulado pelo próprio produtor, com mistura de soja, milho, caroço de algodão e núcleo específico para vacas leiteiras. As vacas são divididas em três lotes dentro da ordenha, recebendo de 6 a 10 quilos de ração por dia, conforme o nível de produção.
A ordenha ocorre duas vezes ao dia, em estrutura simples, porém funcional. Enquanto o funcionário opera os equipamentos, as vacas consomem a ração individualmente, o que facilita o ajuste fino da dieta. Semanalmente, o jovem pecuarista realiza pesagens de produção e ajusta o fornecimento de concentrado conforme o desempenho de cada animal.
Toda a operação acontece em uma área totalmente arrendada, com cerca de 88 a 90 hectares. A fazenda comporta lavouras de volumoso, piquetes de pastagem, área para vacas secas e bezerreiro. Localizada a poucos quilômetros da cidade, permite que Luiz more na zona urbana e vá à propriedade duas vezes ao dia para acompanhar a rotina do leite.
O apoio familiar segue presente. O pai continua atuando no comércio de gado e auxilia na seleção de animais, permitindo que o filho aproveite oportunidades de compra e identifique vacas com potencial produtivo. Além disso, o jovem conta com um funcionário fixo e apoio pontual de veterinário e da prefeitura, que fornece inseminador e sêmen para parte do rebanho.
Na reprodução, o foco está em sêmen de raças leiteiras de alta produção, especialmente holandês, ajustando os cruzamentos conforme o grau de sangue das matrizes. As vacas secas são manejadas em pastagem específica e passam por protocolo completo antes do pré-parto, visando saúde e boa entrada em lactação.
Do lado financeiro, o desafio é conhecido. O preço recente do leite ficou em torno de R$ 2,74 por litro, já com sinalização de queda por parte do laticínio. Em um sistema intensivo, com custos elevados de ração e mão de obra, a margem exige atenção constante. Ainda assim, a escala crescente e a produtividade ajudam a diluir custos fixos.
Casado e pai de uma bebê de pouco mais de um mês, Luiz Adriano planeja crescer com cautela. A meta é ampliar o número de vacas em lactação, melhorar a estrutura e avançar em genética, sem perder o controle do endividamento. Um projeto que começou com 10 vacas dadas pelo pai e que, aos poucos, ganha forma como um patrimônio produtivo pensado para o futuro — e, como ele mesmo define, para seguir “alimentando o Brasil” com leite.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Click Petróleo e Gás






