A pulverização no setor de leite nacional é um entrave à implementação de melhorias que poderiam elevar a produtividade de pecuaristas e aliviar perdas em momentos de crise, na visão de Patrick Sauvageot, CEO da Lactalis na América Latina. Assim, para a gigante de lácteos, uma solução – e tendência – é a consolidação do setor.
Ele cita o trabalho do pesquisador Glauco Carvalho, da Embrapa, que mostra que as cinco maiores empresas em atividade no país captam aproximadamente 32% do volume total de leite. A média mundial fica mais próxima de 50%. “Algo perto de 45% na mão dos cinco maiores tende a ser mais saudável”, diz Sauvageot. Segundo ele, a pulverização do setor dificulta a implementação de processos de melhoria, já que os produtores podem optar por vender a diferentes laticínios em vez de investir para aprimorar seus indicadores.
A Lactalis é um agente ativo da consolidação que defende. Comprou a DPA, joint venture entre Fonterra e Nestlé, recentemente. Mas seus concorrentes Vigor Alimentos e Danno contestaram o negócio no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), alegando “risco concorrenciais ao mercado”.
Sauvageot afirma que não há risco de concentração, já que o mercado é bastante pulverizado, e que o Cade deve confirmar isso em breve, liberando a transação.
A Lactalis atingiu R$ 12 bilhões em faturamento no Brasil em 2022, o que representa de 11% a 12% do mercado nacional de lácteos. A previsão é aumentar sua fatia para 20% em algum momento dos próximos anos.
Além de considerar a consolidação uma tendência, a Lactalis avalia que, no futuro, a produção de leite deve ficar mais parecida com a avicultura, na qual o modelo de integração com a indústria permite ao criador reduzir custos com insumos e investir na melhoria da produtividade.
A empresa conduz um projeto-piloto com esse modelo no noroeste do Rio Grande do Sul. Os 20 produtores parceiros são remunerados com base em indicadores de produtividade e qualidade pré-estabelecidos.
A parceria tem possibilitado aumentar a rentabilidade dos pecuaristas e baixar o preço do leite. “Preço não é sinônimo de lucro, tem a ver com custo também”, afirma Sauvageot.
Roberto Jank Jr., vice-presidente da Abraleite, pensa diferente. Para ele, é difícil aplicar um modelo semelhante ao da avicultura porque a produção de leite é uma atividade de ciclo longo, sendo a vaca um ativo que permanece na fazenda por anos. “O que a indústria já tem feito bem são grupos de pequenos produtores para compras de insumos e equipamentos”, diz.
Jank afirma que o setor poderia investir para melhorar seus índices se tivesse mais de previsibilidade, já que os preços são definidos após a entrega. No Brasil, é costume que os pecuaristas recebam o pagamento da indústria no mês seguinte à captação.
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