A presença de microplásticos em alimentos tem se tornado uma preocupação crescente devido ao aumento da contaminação por plástico no meio ambiente
"A presença de microplásticos em alimentos tem se tornado uma preocupação crescente devido ao aumento da contaminação por plástico no meio ambiente."
A presença de microplásticos em alimentos tem se tornado uma preocupação crescente devido ao aumento da contaminação por plástico no meio ambiente.

Não há dúvida de que os seres humanos estão expostos aos microplásticos, podendo essas partículas entrar no organismo por meio da ingestão e inalação. Recentemente, houve detecção de microplásticos (MP) em tecidos e órgãos humanos como na placenta (Ragusa et al., 2021), no pulmão (Amato-Lourenço et al., 2021), no leite humano (Ragusa et al., 2022) e no coração (Yang et al., 2023) o que trouxe uma nova dimensão a essa preocupação.

Os microplásticos são pequenas partículas de plástico com tamanho variando de menos de 5 mm (NOAA, 2009), que podem ser originadas da manipulação de plásticos maiores ou podem ser produzidas diretamente em produtos de consumo, como produtos de cuidados pessoais que contêm microesferas de plástico. De acordo com a forma como chegam ao meio ambiente, os microplásticos são classificados em: microplásticos primários e microplásticos secundários demonstrado na Figura 1. Fontes de microplásticos. Fonte: Dos autores, 2024.

Microplásticos de fonte primária: São aqueles produzidos propositalmente para serem usados em escala de até 5 mm e, consequentemente, são lançados no ambiente nesse tamanho.  Essas partículas são apresentadas em dimensões microscopias. (Cole et al., 2011).

Microplásticos de fonte secundária: São aqueles gerados a partir de quebra de resíduos plásticos de maior porte. Por exemplo, embalagens expostas às intempéries no ambiente e outros agentes estressores se degradam em fragmentos cada vez menores, eventualmente alcançando o tamanho dos microplásticos. A degradação física das partículas leva à geração de diferentes formas de microplásticos, por exemplo, fibras, fragmentos e filmes. Os pellets, por sua vez, permanecem em sua forma física original após a degradação, mas podem ter algumas de suas propriedades alteradas. (Cole et al., 2011).

Esses microplásticos podem entrar na cadeia alimentar de várias maneiras, o que suscita maiores compreensão, pois não se sabe completamente quais são os riscos à saúde associados à ingestão de microplásticos, conforme a Figura 2. Principais meios de contaminação. Fonte: Dos autores, 2024.

A caracterização e/ou quantificação de MP pode envolver a determinação de diversos parâmetros, como tamanho, composição química do polímero, morfologia, origem (primária ou secundária) e grau de degradação no ambiente. Em linhas gerais, a escolha de métodos analíticos é fortemente vinculada à hipótese de pesquisa, à logística de amostragem e à complexidade das amostras coletadas, exigindo frequentemente a aplicação de técnicas complementares para abordar diferentes aspectos da pesquisa.

As principais formas pelas quais micro e nanopartículas plásticas adentram o organismo humano incluem a ingestão de alimentos e líquidos contaminados, bem como a inalação, conforme indicado por Katyal, Kong e Villanueva (2020). Além disso, devido ao seu tamanho diminuto, há também a possibilidade de que nanopartículas atravessem a pele, realizando a translocação entre órgãos, tecidos e sistemas, conforme evidenciado por Revel, Châtel e Mouneyrac (2018).

Uma perspectiva básica para a contaminação por microplásticos em produtos lácteos e representa um grande desafio sobre os riscos potenciais à saúde associados à ingestão de microplásticos não está claro que a extensão desses microplásticos pode afetar a saúde humana.

Um estudo realizado no México (Gurusamy et al., 2020) apresentou informações valiosas para área de pesquisa de microplásticos em leites de marca.  Além disso, demonstrou que a incidência de microfragmentos plásticos em produtos alimentares para consumo humano exige medidas de prevenção para controlar as libertações primárias e secundárias em toda a cadeia de abastecimento. Os MP também têm sido encontrados em diversos alimentos presentes na dieta humana, como mel, sal, cerveja, vinho, refrigerante, leite, entre outros (Shruti et al., 2021).

No contexto da formulação de diretrizes e fundamentos para futuros procedimentos de monitoramento, as discussões estratégicas abordam a decisão sobre o compartimento ambiental a ser analisado, a escolha da localização e a frequência de amostragem. Há um foco na harmonização dos métodos, que inclui protocolos de amostragem, preparo de amostras, definição de parâmetros como faixa de tamanho, critérios e unidades de quantificação.

Isso visa facilitar a compilação e comparação de dados, garantindo o controle analítico e de qualidade, especialmente para evitar contaminações cruzadas e confirmar a identidade dos polímeros.

Considerações finais:

Os microplásticos são considerados contaminantes onipresentes no meio ambiente, sendo identificados em escala global em todos os compartimentos ambientais, originando-se de diversas fontes, tanto terrestres quanto aquáticas. A compreensão da extensão e dos impactos relacionados à poluição por MP torna-se um campo de pesquisa multidisciplinar e altamente complexo do ponto de vista ambiental.

Embora existam estudos que tenham identificado características de microplásticos em alguns produtos alimentícios nacionais, persistem lacunas significativas de informação sobre a origem e contaminação dessas partículas. No caso do leite e seus derivados, os microplásticos podem ter diversas fontes, incluindo plásticos utilizados na agricultura, embalagens, equipamentos de processamento de alimentos e até mesmo partículas presentes no ar.

A contaminação pode ocorrer em várias fases da cadeia de produção, desde a produção agropecuária até o envase e transporte do leite. Portanto, compreender a origem precisa dos microplásticos no leite é crucial para a implementação eficaz de medidas de controle.

REFERÊNCIAS

ARTHUR Research Workshop on the Occurrence, Effects, and Fate of Microplastic Marine Debris; NOAA Marine Debris Program, 2009; p. 530.

COLE, M.; Lindeque, P.; Halsband, C.; Galloway, T. S.; Mar. Pollut. Bull. 2011, 62, 2588.

GURUSAMY Kutralam-Muniasamy, FERMÍN Pérez-Guevara, I. Elizalde-Martínez, VC Shrut. Branded milks – Are they immune from microplastics contamination?. Science of the Total Environment, Volume 714, 2020. Disponivel em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0048969720303338. Acessado em: 01 de novembro de 2023.

KATYAL, D.; KONG, E.; VILLANUEVA, J. Microplastics in the environment: impact on human health and future mitigation strategies. Environmental Health Review, NRC Research Press, v. 63, n. 1, p. 27–31, 2020.

RAGUSA, A.; SVELATO, A.; SANTACROCE, C.; CATALANO, P.; NOTARSTEFANO, V.; CARNEVALI, O.; PAPA, F.; RONGIOLETTI, M. C. A.; BAIOCCO, F.; DRAGHI, S. et al. Plasticenta: First evidence of microplastics in human placenta. Environment international, Elsevier, v. 146, p. 106274, 2021.

RAGUSA, A.; NOTARSTEFANO, V.; SVELATO, A.; BELLONI, A.; GIOACCHINI, G.; BLONDEEL, C.; ZUCCHELLI, E.; LUCA, C. D.; D’AVINO, S.; GULOTTA, A. et al. Raman microspectroscopy detection and characterisation of microplastics in human breastmilk. Polymers, MDPI, v. 14, n. 13, p. 2700, 2022.

REVEL, M.; CHÂTEL, A.; MOUNEYRAC, C. Micro (nano) plastics: a threat to human health? Current Opinion in Environmental Science & Health, Elsevier, v. 1, p. 17–23, 2018.
SHRUTI, V. C.; Pérez-Guevara, F.; Elizalde-Martínez, I.; Kutralam-Muniasamy, G.; Environ. Pollut. 2021, 268, 115811.

YANG, Y.; XIE, E.; DU, Z.; PENG, Z.; HAN, Z.; LI, L.; ZHAO, R.; Qin, Y.; XUE, M.; LI, F.; HUA, K.; YANG, X. Detection of Various Microplastics in Patients Undergoing Cardiac Surgery. Environmental Science & Technology, v. 57, n. 30, p. 10911-10918, 2023.

Autoras: Clarice Coimbra – Pesquisadora do EPAMIG/Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Claudety Barbosa Saraiva – Professora e Pesquisadora do EPAMIG/Instituto de Laticínios Cândido Tostes

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