ESPMEXENGBRAIND
3 dez 2025
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A demanda por leite orgânico cresce com o apelo saudável e sustentável, porém gargalos estruturais ainda impedem o segmento de deslanchar no país 🚚
Leite orgânico atrai consumidores, mas enfrenta alto custo 🧭
Leite orgânico atrai consumidores, mas enfrenta alto custo 🧭

O leite orgânico ocupa cada vez mais espaço na agenda de consumo global, impulsionado pela busca por alimentos naturais, rastreáveis e produzidos com menores impactos ambientais.

No Brasil, porém, esse avanço ainda ocorre de forma mais lenta do que em outros mercados, apesar do interesse crescente do público e do potencial produtivo do país. A avaliação é de especialistas que acompanham o desenvolvimento da cadeia e observam tanto oportunidades quanto entraves estruturais que freiam a expansão dessa proteína de valor agregado.

De acordo com Kennya Siqueira, pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, o caminho para consolidar o leite orgânico depende de uma combinação de estratégias que passam pela eficiência produtiva, transparência com o consumidor e modelos de comercialização mais diretos.

Ela destaca que o produto carrega atributos já reconhecidos, como bem-estar animal, manejo sustentável e ausência de insumos sintéticos. No entanto, o mercado ainda carece de estrutura logística, escala produtiva e comunicação que aumente a confiança e reduza a assimetria de informação. “O leite orgânico tem potencial claro, mas o setor brasileiro ainda precisa amadurecer em termos de certificação, organização e diálogo com o consumidor”, comenta.

O movimento por alimentos orgânicos está consolidado no cenário internacional. O levantamento The World of Organic Agriculture: Statistics and Emerging Trends (2025) indica que o mercado global alcançou cerca de EUR 136 bilhões em 2023, reunindo 4,3 milhões de produtores certificados.

A América Latina responde por EUR 778 milhões desse volume, mostrando que a região tem peso crescente, embora ainda distante dos grandes polos da Europa e dos Estados Unidos. Especialistas avaliam que a tendência global é de expansão contínua, impulsionada por consumidores mais atentos a questões ambientais e sociais.

No Brasil, a demanda por orgânicos ganhou força no período pós-pandemia. Dados citados por Kennya mostram que, entre 2021 e 2023, o número de consumidores de orgânicos aumentou 16%, enquanto a série histórica indica um salto de 140% entre 2017 e 2023.

Esses números confirmam um movimento consistente de adoção, especialmente entre públicos urbanos e famílias com maior renda ou maior sensibilidade às práticas sustentáveis. Apesar disso, o leite orgânico e seus derivados ainda ocupam um espaço modesto nas cestas de compra.

Uma pesquisa da Organis, entidade dedicada à promoção dos orgânicos no país, revela que 36% dos brasileiros consumiram algum produto orgânico nos 30 dias anteriores à entrevista. Contudo, frutas, legumes e vegetais lideram o consumo, enquanto os lácteos aparecem em proporções muito menores. As razões vão desde o preço mais elevado até a oferta limitada, refletindo diretamente os desafios produtivos e logísticos enfrentados pelos produtores.

A logística é apontada como um dos principais gargalos. Como o leite orgânico depende de sistemas produtivos menos intensivos e com maior diversidade de manejo, sua escala tende a ser menor. A coleta e o transporte, portanto, elevam custos e dificultam a competitividade no varejo. Além disso, a cadeia demanda certificações rigorosas e constante auditoria, o que, embora essencial para manter a credibilidade, impacta o custo final ao consumidor.

Outro ponto em discussão é a comunicação. Para Kennya, o setor ainda precisa traduzir melhor o valor agregado do leite orgânico, de forma clara e sem exageros. Consumidores que buscam alternativas mais sustentáveis desejam entender o que diferencia o produto, como ele é produzido e quais benefícios ambientais e sociais ele gera. “A confiança no selo orgânico e a clareza das informações podem aproximar o consumidor e justificar o investimento, especialmente num país onde o orçamento das famílias é apertado”, avalia.

Apesar dos entraves, o mercado de leite orgânico é visto como promissor e em evolução. Produtores que apostam no modelo relatam fidelização de clientes, margens superiores e integração com canais curtos, como feiras, entregas por assinatura e cooperativas regionais. A expectativa é de que, com mais organização, maior escala e políticas públicas que valorizem o sistema orgânico, o segmento possa crescer de maneira mais estruturada nos próximos anos.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Feed & Food

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