Ainda assim, os valores registrados neste primeiro trimestre superam os do mesmo período de anos anteriores, representando recorde da série histórica do Cepea
Em fevereiro, o preço do leite ao produtor fechou, pela primeira vez em seis meses, abaixo de R$ 2 por litro –a “Média Brasil” líquida foi de R$ 1,9889/litro. Com isso, a baixa no acumulado do primeiro bimestre chegou a 7,5%, em termos reais (descontando a inflação pelo IPCA de fevereiro/21). Esse movimento de queda no campo deve persistir em março, influenciando, portanto, as cotações do leite que foi captado em fevereiro.
A desvalorização do leite no campo se deve ao enfraquecimento da demanda por lácteos, dado o contexto de diminuição do poder de compra do brasileiro, do fim do auxílio emergencial para muitas famílias, do recente agravamento dos casos de covid-19 e da elevação do desemprego. Desde dezembro de 2020, observa-se intensificação da pressão exercida pelos canais de distribuição junto às indústrias para obter preços mais baixos nas negociações de derivados.
E o fraco desempenho das vendas de derivados em fevereiro deve influenciar negativamente o pagamento ao produtor pelo leite captado naquele mês (e a ser pago em março).
Quanto ao preço do leite fornecido em março e que será pago em abril, há dúvidas sobre a manutenção ou não da tendência de queda. Apesar de as cotações de muçarela terem recuado na primeira quinzena de março, houve valorização no leite UHT e no leite em pó no período.
Além disso, os preços do leite spot (negociado entre indústrias) saltaram de R$ 1,95/litro na primeira quinzena de março, para R$ 2,33/litro na segunda quinzena, ou seja, expressiva alta de 19,8%. Esse cenário mostra que, mesmo com a demanda final fragilizada, a oferta de leite no campo começa a ficar limitada, o que estimula maior concorrência entre as indústrias para a compra de matéria-prima e, por consequência, preços mais elevados junto ao produtor.
Ressalta-se que o mês de março marca, sazonalmente, um período de transição para a entressafra da produção leiteira, especialmente no Sul do País. Além do impacto climático negativo sobre as pastagens, a produção de leite deve ser prejudicada pelas menores quantidade e qualidade das silagens neste início de ano, devido ao clima desfavorável no último trimestre de 2020.
Ademais, a valorização considerável e contínua dos grãos (principais componentes dos custos de produção da pecuária leiteira) tem comprometido a margem do produtor leiteiro. É preciso considerar, também, que, diante da desvalorização do Real frente ao dólar e da alta nos preços internacionais de lácteos, as importações devem permanecer em queda, o que pode intensificar a restrição de oferta nos próximos meses.