Mais de 60 produtores de leite dos Açores reconverteram as suas explorações para a produção de carne, desde final de 2020, disse hoje o secretário regional da Agricultura, que defendeu, ainda assim, que um setor não substitui o outro.
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“Foram 67 produtores nos Açores que reconverteram as suas explorações, o que significa que nos próximos tempos vamos ter uma oferta maior de carne de bovino nos Açores”, adiantou o titular da pasta da Agricultura nos Açores, António Ventura.

O governante falava, em declarações aos jornalistas, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, à margem da sessão de abertura da ‘masterclass’ “A nova era do consumo de carne e a arte do churrasco”, promovida pelo Centro de Estratégia Regional para a Carne dos Açores (CERCA).

Desde que o atual executivo açoriano, da coligação PSD/CDS-PP/PPM, tomou posse, em novembro de 2020, já foram abertos três períodos de candidaturas a apoios à reconversão do leite para a carne.

Os produtores de leite dos Açores têm apelado a um aumento do preço do litro de leite, alegando que a subida dos custos dos fatores de produção coloca dificuldades ao setor.

O secretário regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural disse que o executivo está “a identificar nos Açores as zonas tradicionais onde se produzia o milho grão”, para “incentivar essa produção”, permitindo uma redução da dependência externa, na alimentação dos animais.

“Os Açores produziram, em 2021, nove hectares de milho grão e 13 mil hectares de milho silagem”, revelou.

António Ventura considerou que a produção de carne na região tem potencial de crescimento e “pode contribuir em muito para a recuperação da economia” açoriana, mas não deverá substituir o setor do leite.

“Cada um tem o seu espaço. A carne tem a sua afirmação e o leite tem a sua afirmação. Não há substituições. Aliás, nos Açores terão de surgir novas produções no âmbito da diversificação, para além da carne, do leite e hortícolas”, avançou, referindo, como exemplo, a fruticultura, a vitivinicultura e as culturas tropicais.

Na sessão de abertura do evento, António Ventura apelou à participação no Plano Estratégico para a Fileira da Carne, que estará em consulta pública até 29 de março.

“Queremos um instrumento de planeamento para os próximos 10 anos, que seja à prova de eleições, que seja um documento para dar segurança, estabilidade e confiança, desde o produtor até à transformação”, afirmou.

Segundo o secretário regional, é preciso apostar mais na organização da produção da carne, na formação, na pesquisa científica e na divulgação de um produto, que tem Indicação Geográfica Protegida (IGP), conquistando novos mercados.

O presidente da Federação Agrícola dos Açores, que lidera também o CERCA, Jorge Rita, considerou que é preciso “dar um salto na qualificação” da carne açoriana, alegando que a região tem “matéria-prima de excelência”, que precisa ser valorizada.

“O setor é muito importante na economia regional e tem um potencial incrível de crescimento, de melhorar e, obviamente, de criar valor acrescentado”, salientou.

Jorge Rita admitiu que a produção de carne pode ser mesmo a atividade agrícola principal, em algumas ilhas do arquipélago, numa altura em que o leite “tem uma situação instável”.

No entanto, defendeu uma maior aposta na formação, alegando que nem sempre o produto é bem trabalhado.

“Ainda sabemos pouco e, quando tivermos uma filosofia de percebermos que ainda sabemos pouco, mais facilmente temos capacidade para aprender mais”, frisou.

Natural do Brasil, Roberto Barcellos, agrónomo e consultor de produção e comercialização de carne, considerou que o potencial da carne dos Açores está na conceção da marca, ligada à raiz e à denominação de origem protegida.

“Eu vejo como um produto de grande oportunidade, porque uma marca faz-se com muitos valores e alguns dos principais valores são os controlos ambientais e sociais e a história do produto, além das qualidades intrínsecas do produto”, explicou o formador da ‘masterclass’.

“As pessoas querem saber o que consomem: quem produziu, como foi produzido, se faz bem à saúde, se faz bem ao planeta. São valores que talvez sejam muito importantes num futuro próximo para a tomada de decisão em relação à compra de um produto”, acrescentou.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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