Um relatório recente do banco holandês Rabobank acendeu um sinal de alerta para o mercado global de lácteos.
O Rabobank prevê um cenário de nitida pressão a baixa nos preços lácteos para o ano de 2026, um movimento impulsionado diretamente por um vigoroso repunte na produção mundial de leite. Segundo a análise trimestral especializada da instituição financeira, a oferta de leite nas principais bacias produtoras do planeta não só se manteve em trajetória ascendente na segunda metade de 2025 como deve continuar essa marcha no próximo ano, o que promete levar ao consumidor final a possibilidade de preços mais amenos nas gôndolas.
O documento, conhecido no setor como o “Informe Trimestral sobre Produtos Lácteos”, detalha que o incremento sustentado da produção nas principais regiões produtoras vem, de fato, fragilizando os mercados internacionais. Essa realidade é agravada por um fator crucial: a demanda global permanece em um patamar mais contido, sem apresentar, até o momento, sinais claros e consistentes de uma recuperação robusta. A combinação perigosa de oferta crescente e procura tímida é o caldo de cultivo perfeito para o cenário de correção de preços projetado pelos analistas.
O terceiro trimestre de 2025, em particular, emergiu como um período de performance excepcional para a cadeia produtiva. De acordo com os dados compilados pelo Rabobank, o crescimento da produção global de leite atingiu níveis máximos nesse intervalo, com contribuições expressivas vindas de pesos-pesados do setor. A União Europeia e o Reino Unido, juntamente com os Estados Unidos, apresentaram números robustos que surpreenderam positivamente. Do outro lado do globo, Nova Zelândia e países da América do Sul, como Brasil, Argentina e Uruguai, também aportaram volumes adicionais significativos, consolidando uma maré alta de oferta.
Quando se faz o balanço do desempenho agregado dos sete maiores produtores mundiais, o resultado é ainda mais elucidativo. Esse grupo, responsável por uma fatia colossal do leite comercializado internacionalmente, registrou um aumento anual médio de 2,2% em sua produção total no ano de 2025. Esse crescimento, embora possa parecer modesto em termos percentuais, representa milhões de litros adicionais entrando em um mercado que já demonstrava certa saturação. Esse volume extra, inevitavelmente, exerce uma pressão a baixa sobre as cotações internacionais, desequilibrando a balança comercial.
Olhando para o horizonte de 2026, as estimativas do banco holandês apontam para uma continuidade, ainda que moderada, dessa tendência. Espera-se que o ritmo de crescimento da oferta global desacelere um pouco no primeiro semestre do próximo ano, influenciado por fatores sazonais e ajustes de margem dos produtores. No entanto, a recuperação ou qualquer movimento de contenção mais forte por parte do setor deve ser lenta e gradual. O prognóstico dos especialistas é de que apenas no final de 2026 os preços poderão, enfim, encontrar um piso e retornar aos patamares históricos médios, encerrando um ciclo de volatilidade.
O próximo ano, portanto, se configuraria como um período de transição e cautela. O Rabobank antecipa que 2026 será marcado por preços internacionais mais frágeis e suscetíveis a quedas. Dois elementos centrais sustentam essa visão: primeiro, a existência de amplos excedentes de produtos como leite em pó, manteiga e queijo, prontos para a exportação; segundo, a falta de catalisadores econômicos ou de consumo capazes de injetar um novo ânimo e sustentar a demanda em um patamar que acompanhe a oferta.
A conclusão do relatório é um aviso claro aos envolvidos na cadeia. Na avaliação do Rabobank, na ausência de uma mudança significativa na dinâmica entre oferta e procura, o setor lácteo global pode ter pela frente vários meses adicionais de pressão a baixa. Esse cenário impacta todos os elos: a indústria processadora, que verá suas margens de comercialização comprimidas; os produtores rurais, que sentirão no bolso a desvalorização da matéria-prima; e, em uma perspectiva mais positiva, os consumidores finais, que poderão se beneficiar de preços mais acessíveis nos supermercados.
A situação requer monitoramento constante. Fatores imprevistos, como eventos climáticos extremos nas principais regiões produtoras, mudanças bruscas nos custos de insumos como ração e energia, ou mesmo alterações nas políticas de importação de grandes compradores globais, como a China, podem alterar o curso projetado. Contudo, a mensagem central do Rabobank permanece: o mercado está embarcado em uma onda de oferta que, pelo menos nos próximos meses, deverá ditar as regras e manter os preços sob constante pressão a baixa.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Ganaderia.com






