Famílias do acampamento Recanto da Natureza, em Laranjeiras do Sul, região centro do Paraná, inauguraram na sexta-feira (26) uma agroindústria de processamento de leite. O empreendimento tem capacidade de processar 600 litros de leite por dia e vai iniciar atendendo as demandas de 28 famílias da própria comunidade e do assentamento Passo Liso, vizinho ao acampamento.
De acordo com Angela da Paixão, coordenadora do acampamento e das iniciativas de processamento e comercialização, a agroindústria é essencial para o desenvolvimento da comunidade e para o fortalecimento dos produtores que vêm sendo excluídos e discriminados no mercado leiteiro.
“Ela [Agroindústria Recanto da Natureza] vem para incluir as famílias que mais precisam e pra pagar um preço justo por aquilo que os agricultores produzem”, diz.
A agricultora explica que a produção iniciará em duas linhas, convencional e orgânica, mas que o objetivo é fazer a transição para industrialização do leite 100% orgânico. “Vamos começar com as duas linhas de produção, mas futuramente, num curto prazo, teremos a agroindústria 100% certificada produzindo somente os produtos orgânicos”, garante Angela.
O destino do leite será para comercialização direta com consumidores urbanos, mercados locais, para a rede de comercialização de alimentos da reforma agrária em Armazéns do Campo, e também para programas institucionais como o de Aquisição de Alimentos (PAA) e o da Alimentação Escolar (PNAE). Sete famílias já têm certificação agroecológica de produção leiteira, com certificado pela Rede Ecovida.
Para transformar o leite in natura em pasteurizado, queijo e outros derivados, a agroindústria conta com um pasteurizador, duas câmaras frias, um resfriador e uma prensa para embalar os produtos. O empreendimento foi construído, em grande parte, com recursos das próprias famílias, e também com apoio da prefeitura de Laranjeiras do Sul. Já a aquisição dos equipamentos se deu por meio de um projeto do Programa Coopera Paraná da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SEAB).
A inauguração ocorreu na própria sede da agroindústria, que fica no centro comunitário do acampamento Recanto da Natureza. No ato esteve presente o dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Laureci Leal, o prefeito de Laranjeiras do Sul Berto Silva e o vice-prefeito Valdemir Scarpari, secretário de agricultura Gilmar Negretti, presidente da Câmara de Vereadores Carlos Alberto Machado e o vice-presidente Tarso Campigotto, dentre outros representantes do poder legislativo e executivo do município.
Também marcaram presença representantes da Cooperativa de Crédito CREHNOR, do Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (CEAGRO) e da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
O ato encerrou com um almoço preparado pela comunidade. Carne de gado, porco e frango, arroz, panificados e diversas hortaliças, foram produzidas pelas famílias da comunidade.
Histórico da comunidade
A comunidade Recanto da Natureza está localizada a 26 quilômetros no interior do município de Laranjeiras do Sul, formada por 22 famílias, há 22 anos. Camponesas e camponeses transformaram a área, antes considerada improdutiva, em terra de produção agroecológica e para o autossustento, com cultivo de milho, feijão, arroz, mandioca, batata-doce, leite, criação de suínos, entre outros.
Com o avanço da produção, a comunidade se organizou para criar a Associação Terra Livre do Assentamento Recanto da Natureza, fundada em 2006. Além das 22 famílias do acampamento, 40 famílias das comunidades vizinhas Rio Verde e Passo Liso também se associaram.
“O nosso objetivo foi avançar no desenvolvimento econômico e social da comunidade, com cooperação e agregação de valor. Com o tempo, avançamos também na agroindustrialização da produção e acesso aos mercados local e regional, sempre com base na produção agroecológica e sustentável”, enfatiza Angela.
Além do laticínio inaugurado, a comunidade já conquistou outras duas agroindústrias para o beneficiamento de alimentos in natura e de panificação e massa 100% agroecológica, além da produção de mel. Um dos carros-chefes da comercialização dos alimentos da comunidade é por meio da venda direta a consumidores urbanos. Atualmente são entregues 30 cestas por semana. Também possui uma casa do mel, destinada ao processamento da produção de apicultura das famílias acampadas.