Com 103 anos de operação no Brasil e fábricas espalhadas pelo país, conectar, monitorar e extrair dados de produção era um desafio para a Nestlé. Ao mesmo tempo, consumidores demandavam cada vez mais produtos e sabores diferentes, em uma velocidade muito rápida. De olho nisso, a gigante do setor de alimentos e bebidas decidiu começar a investir, em 2019, em uma série de iniciativas e tecnologias para maximizar a eficiência e produtividade, e as implementou em 300 linhas de produção de 14 fábricas.
Ao todo, R$ 6 bilhões devem ser investidos pela companhia no país entre 2023 até o final de 2025, parte visando essa ampliação e modernização das operações. O plano é terminar este ano com 90% do ambiente fabril contemplado com as novas tecnologias.
Em entrevista a Época NEGÓCIOS, Gustavo Moura, gerente de Automação e Transformação Digital da Nestlé, diz que se refere a uma espécie de “ecossistema” tecnológico: “Quando falamos de transformação digital no contexto do chão de fábrica, não é só uma máquina X ou tecnologia Y que funciona como chave mágica que resolve tudo. Eu tenho máquina, operador, uma marca e um processo anterior que depende do seguinte. É um ambiente complexo e que exige uma combinação de tecnologias, que, juntas, nos levam a melhores resultados”, explica.
Na prática, as inovações fazem parte de um conceito de ‘fábrica conectada’, e conseguem medir e coletar, em tempo real, informações-chave sobre as linhas de produção e produtos. Com isso na mão, os operadores das máquinas conseguem tomar decisões mais assertivas. A extração dos dados é feita a partir da sensorização dos equipamentos, também usados para o treinamento e desenvolvimento de modelos de IA.
Em cinco anos, as tecnologias levaram a resultados expressivos para a companhia: uma redução de 30% nas paradas não planejadas, o que refletiu em uma alta de 7% de produtividade. Além disso, houve um aumento de 23% da flexibilidade das linhas de produção — que é quando se fabrica formatos diferentes de produtos sem impactar o planejamento de parada, trazendo maior diversificação.
Nos últimos três meses, a Nestlé também investiu em uma plataforma própria de inteligência artificial e vem fazendo um trabalho de análise dos dados para que, em algumas situações, consigam treiná-la como uma ferramenta adicional para as operações, capaz também de prever eventuais problemas ou incidentes nos maquinários. Segundo Gustavo, a IA já atua fazendo relatórios com recomendações para que o operador possa agir.
Um dos destaques foi o desenvolvimento de impressoras 3D para produzir peças de reposição para equipamentos e para máquinas de café instaladas em estabelecimentos comerciais sob a marca Nestlé Professional. Desde 2021, quando a tecnologia foi adotada, 4 mil peças já foram produzidas.
Atualmente, 340 peças podem ser impressas dentro de casa. Isso significa uma redução de tempo, já que antes era preciso importar da Europa, e também de custo para a companhia. Os materiais importados podem levar cerca de um mês para chegar ao Brasil, enquanto a impressão pode ser feita em 16 horas. Já a economia no bolso é de 80%, segundo a marca.
“O que também estamos fazendo é capacitar os nossos colaboradores para que estejam aptos a trabalhar com essas novas tecnologias. A combinação é muito poderosa e conseguimos alavancar e melhorar a performance das operações”, disse.