Capital: Você representa algumas das maiores empresas de laticínios da França, incluindo Lactalis, Danone, Bel e Savencia. Qual é a opinião da Fédération nationale de l’Industrie laitière sobre esse acordo de livre comércio entre a Europa e cinco países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Bolívia e Uruguai)?
François-Xavier Huard: Esse acordo, que se arrasta há 25 anos, diz respeito aos setores de carne bovina, ovina e suína, e não aos produtos lácteos.
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Os volumes de leite afetados por esse tratado são muito menores do que os de carne (a minuta do acordo poderia autorizar a importação de 90.000 a 100.000 toneladas de carne por ano para a Europa, nota do editor), portanto, estamos menos envolvidos no debate.
Por outro lado, estamos apoiando os produtores de carne que estão pedindo cláusulas espelho. Em outras palavras, eles estão exigindo os mesmos padrões de qualidade para os produtos que transitam entre os dois continentes. Esse não é o caso hoje.
Por que esse acordo é menos problemático para o setor de laticínios do que para outros setores?
Os interesses são mais equilibrados. Estamos abrindo nosso mercado, enquanto os países do Mercosul estão simplificando os procedimentos sanitários e industriais. Isso facilitará os negócios das empresas francesas de laticínios sediadas nesses países.
Outro elemento crucial do acordo é a proteção de produtos com IGP (Indicação Geográfica de Origem), como Camembert, Feta e Brie. Uma boa maneira de evitar falsificações e designações fraudulentas.
Você acha que será possível chegar a um acordo nos próximos dias entre a União Europeia e os países do Mercosul?
Para mim, parece complicado. As federações agrícolas francesas e o governo são contra. É certo que a França sozinha não representa a União Europeia, mas sua opinião ainda conta. Os planetas não estão alinhados para concluir um acordo.
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Os agricultores anunciaram manifestações a partir de 18 de novembro. Devemos esperar que as manifestações sejam tão turbulentas quanto no ano passado?
É difícil prever o que vai acontecer. Mas é provável que a situação seja turbulenta até o final de 2024.
Além de se oporem a esse tratado, os agricultores estão frustrados por não terem recebido respostas às suas demandas do ano passado (ajuda para a transferência de fazendas, financiamento para a transição energética, nota do editor). Desde a dissolução da Assembleia Nacional em junho passado, a lei agrícola foi suspensa.