A pecuária 4.0 é a inserção de inovações tecnológicas nas atividades rurais. É uma otimização de todos os recursos, manejo, forma de criação, raça dos animais, destinação da produção e planejamento do futuro”, salienta Filipe Barbosa Martins, coordenador de produção animal da Seag
Segundo Filipe, a pecuária 4.0 significa a sustentabilidade da atividade, uma vez que reduz perdas e o uso desnecessário de recursos naturais. Pecuaria 4.0
segundo Filipe, a pecuária 4.0 significa a sustentabilidade da atividade, uma vez que reduz perdas e o uso desnecessário de recursos naturais.
Embora seu ritmo de transformação seja menos intenso se comparado à agricultura de ciclo anual, a pecuária não fica para trás quando o assunto é a adoção de novas práticas relacionadas à tecnologia

Pegando carona no termo indústria 4.0 para designar uma produção mais ligada a tecnologias, cunhado pelos alemães em 2011, a pecuária embarcou no conceito e passou a investir no segmento para solucionar questões antigas do setor.

Drones, softwares, telemetria, sensores, inteligência artificial, aplicativos, plataformas web, startup, termos antes desconhecidos pelos pecuaristas, ganham cada vez mais espaço da porteira para dentro, deixando para trás planilhas eletrônicas e tabelas em papel. Em troca, os produtores garantem  bem-estar maior aos animais, redução de falhas, erros e desperdícios, aumento de produtividade e rentabilidade, melhora na gestão e mais sustentabilidade, tanto ambiental, quanto social e econômica.

No computador de mesa ou na palma da mão, no celular, por meio de aplicativos, é possível saber o tamanho de uma área de pastagem, a localização do animal, quando ele está no cio, batimento cardíaco, peso, oxigenação do sangue e até mesmo seu comportamento atípico. Todos esses são dados, que podem ser mandados para uma plataforma por meio de uma coleira ou um chip, por exemplo. A plataforma faz a compilação dos dados para o pecuarista, auxiliando na tomada de decisões.

“A pecuária 4.0 é a inserção de inovações tecnológicas nas atividades rurais. É uma otimização de todos os recursos, manejo, forma de criação, raça dos animais, destinação da produção e planejamento do futuro”, salienta Filipe Barbosa Martins, coordenador de produção animal da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag).

Ainda segundo Filipe, a pecuária 4.0 significa a sustentabilidade da atividade, uma vez que reduz perdas e o uso desnecessário de recursos naturais. Por isto, é preciso incentivar os pecuaristas na adoção dessas tecnologias. “A maior parte dos pecuaristas que empregam tecnologia tem a mentalidade da utilização de recursos naturais e financeiros ser essencial para a manutenção da produção. Temos que incentivar o produtor na adoção dessas tecnologias. O futuro é o racionamento, tanto de recursos financeiros, quanto naturais”, destaca o coordenador.

FELIPE

Foto: divulgação

 

Para o médico veterinário, mestre em agroecologia e extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Renan da Silva Fonseca, coordenador no Espírito Santo de duas unidades demonstrativas do Sistema de Integração Lavoura, Pecuária, Floresta (ILPF), do Incaper, a pecuária 4.0 é um caminho sem volta.

“No atual cenário temos vários desafios a serem enfrentados, atuais e futuros. O conceito imprime inovações tecnológicas para tentar otimizar sistemas de produção na pecuária. É um caminho sem volta. A pecuária 4.0 busca melhorias na qualidade do produto, na eficiência do sistema de produção e redução nos impactos negativos que a atividade pode gerar no meio ambiente”, explica.

No entanto, o veterinário pontua alguns desafios que, segundo ele, devem ditar a velocidade com que as tecnologias da pecuária 4.0 podem ser adotadas. Entre elas estão: custo de implementação, acesso a essas tecnologias no Estado e a adoção responsável. “Todas as tecnologias são bem-vindas, mas devem ser bem implementadas. Para isso, são necessários orientação e consultoria na sua implantação de forma responsável“.

Tecnologia forja campeões 

 

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Foto: divulgação

Os capixabas atuais bicampeões nacionais nos rankings 2021/22 e 2022/23 de melhor criador de Girolando 1/2 Sangue do Brasil, José Luiz e Bruno Vivas, sabem da importância da tecnologia para alcançar esse feito. No Criatório Girolando e Gir Leiteiro Vivas (Fazenda Santa Augusta), de propriedade da família, em Mimoso do Sul, no Sul do Estado, inovação e tecnologia sempre tiveram espaço.

No final da década de 1990, José Luiz começou a adotar algumas medidas que culminaram nos títulos recebidos. Iniciaram com o cruzamento com touro holandês, seguido da inseminação artificial e, por fim, em 2014, foram um dos pioneiros na fertilização in vitro na região.

“Sem os avanços tecnológicos aplicados à pecuária seria muito difícil chegar a esses resultados. Hoje, a tecnologia nos ajuda com o melhoramento genético acelerado, através das biotecnologias da reprodução, bem como estimar as características fenotípicas dos animais adultos, logo que o animal nasce, encurtando em muito o ciclo de melhoramento genético a cada geração”, explica Bruno, que é médico e também médico veterinário.

Estudioso de gestão das propriedades rurais, Vivas ressalta que, ao longo dos anos, a pecuária, de modo geral, sempre foi gerida com amadorismo e pouca gestão consciente, mas os tempos são outros. Se antigamente era possível trabalhar de maneira amadora, porque as margens de lucro eram altas e não se demandava gestão estratégica, ao longo do tempo isso está mudando, forçando a modernização do agronegócio.

“É aqui que entra a pecuária 4.0 como ferramenta para você atingir os objetivos dentro dessa gestão inteligente. Maximizar produção, diminuir prejuízos e custos. E a ideia central é conseguir resultados através de tecnologias que facilitam a produção e o manejo dos animais dentro das propriedades”, avalia.

Hoje, o forte do negócio da família é a comercialização de vacas geneticamente superiores, para produção de leite e venda de genética.

Distante apenas 80 quilômetros de Mimoso do Sul, está São José do Calçado. Por lá, outro Bruno está se tornando referência desde que resolveu usar a tecnologia no dia a dia da propriedade. É o Bruno Almeida Abreu (28), também médico veterinário. Além da produção de leite, em 2018 o jovem produtor viu no banco genético uma nova fonte de renda para a Fazenda Vale do Sapecado.

Com um plantel de bezerras 100% resultado de fertilização in vitro (FIV), Bruno não só tem aumentado a produção de leite, como vende a genética melhorada a produtores do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro interessados em também melhorar seus rebanhos de Gir leiteiro e Girolando.

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Foto: divulgação

Desde que me formei, intensifiquei o melhoramento genético aqui na fazenda. Passei quatro anos trabalhando com transferência de embriões para terceiros, ao mesmo tempo em que fazia aqui também. E mês a mês fui acrescendo, até chegar ao ponto que está hoje”, explica.

O produtor revela ainda que a genética superior, alcançada por meio da tecnologia da fertilização, tem mais valor comercial. Enquanto uma vaca comum custa entre R$ 7.000 e R$ 8.000, Bruno Abreu vende uma novilha, em média, por R$ 15 mil.

Para garantir a qualidade dos embriões, Bruno faz a avaliação genômica do gado Gir, para saber o potencial de transferência de leite, acompanhar o melhoramento e fazer os acasalamentos dirigidos. A tendência, de acordo com o pecuarista, é de as bezerras que ainda não estão sendo coletadas sejam ainda melhores do que a mãe delas.

Na fazenda, também é possível ver o sobrevoo de drones pulverizando as lavouras de milho, utilizado na produção de silagem para o gado. Além da tecnologia da FIV e dos veículos aéreos não tripulado, há alguns anos Bruno investiu também na aquisição de um software de gestão.

Lançamos nele tudo o que antes era feito manualmente. Informações referentes ao manejo, financeiro, sanidade, produção e reprodução. E isso nos ajuda. É uma gestão mais eficiente do trabalho diário e nas tomadas de decisão na fazenda”, salienta.

 

Acessório tecnológico 

 

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Foto: divulgação

 

O primeiro investimento em tecnologia feito por Emanoel Moulin (31), no Sítio 3É, em Oriente, Jerônimo Monteiro, a “Terra da Laranja”, também no Sul do Espírito Santo, foi há cinco anos, quando decidiu trabalhar com o sistema de Compost Barn (Estábulo de Composto). Trata-se do método de confinamento capaz de aumentar a produção leiteira e proporcionar conforto e saúde às vacas.

Em seguida foi a vez de aderir ao uso dos colares inteligentes para o monitoramento dos animais. O equipamento, colocado no pescoço das vacas, captura dados como ruminação, atividade, ócio e ofegação. A tecnologia foi implantada há cerca de um ano e meio. Todas as 68 vacas em lactação têm o colar.

“O software compreende a movimentação do animal e mostra em dados. Quanto tempo ele está comendo, deitado, ruminando. Por meio do colar, consigo saber que o animal não está bem, antes mesmo de adoecer. Consigo ver antecipadamente se está apresentando diminuição nas atividades”, relata o produtor.

Outra vantagem, segundo Moulin, é a ajuda na gestão da prenhes das vacas. É só alimentar o sistema com a data da inseminação e ele informa a data prevista para o parto.

O software te ajuda a fazer a gestão da prenhez de forma eficiente. Você joga a data no sistema, coisa simples de fazer, e sessenta dias antes de parir ele começa a te enviar alertas de que o parto daquele animal está se aproximando. Às vezes anotava as datas no papel, depois perdia tempo procurando onde estava. Com a tecnologia, isso não acontece mais. Consigo acompanhar tudo no celular. É o futuro da pecuária, e quem não aderir vai ficar para trás”, pontua Emanuel, que desde criança acompanha o trabalho do pai e do avô, e há dez anos também é pecuarista.

Tecnologia partilhada 

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Foto: divulgação Nater Coop

Em 2022, a Nater Coop inaugurou o primeiro condomínio leiteiro do Espírito Santo. O modelo de negócio permite aumentar a escala de produção sem imobilização em terras ou outras estruturas diretamente pelo produtor, proporcionando um investimento sustentável ao cooperado. Tudo isso graças à tecnologia.

A irrigação da pastagem conta com um pivô central operado por meio de um software para melhorar a gestão técnica dos recursos hídricos, de forma constante.  Os bovinos, todos da raça Girolando e com aptidão genética para garantir maior produtividade, são monitorados por tecnologias que, muitas vezes, produtores de leite de menor escala não conseguem viabilizar.

Por meio de um chip instalado no brinco de numeração dos animais, é possível monitorá-los, desde a entrada no ambiente de ordenha, identificando e separando automaticamente as vacas que serão ordenhadas, produção diária de leite, e até mesmo a necessita de tratamento específico por parte de algum animal. Todas essas informações são acessadas, tanto no escritório da fazenda, para análise de dados mais completos, quanto no celular, por meio de um aplicativo.

“A tecnologia na pecuária funciona como filtro, fazendo com que os animais que realmente precisam de máxima atenção recebam essa atenção de imediato. Estamos falando de casos de saúde, reprodução, ambiência, que impactam grandemente no resultado econômico da atividade. Assim, temos da equipe respostas melhores aos sinais dos animais”, explica Filipe Ton Fialho, gerente de bovinocultura e assistência técnica da Nater Coop.

O rebanho do condomínio leiteiro é formado atualmente por 290 animais, entre vacas em lactação e secas e bezerras em cria, e produz 2.600 litros de leite diariamente. Participam do condomínio 42 cooperados.

Além da tecnologia disponível no condomínio, a cooperativa oferece aos cooperados o aplicativo “Leite Certo”, que faz a gestão zootécnica e financeira da fazenda leiteira; e o “Onfarm”, tecnologia para detecção dos agentes causadores da mastite, um dos principais causadores de perdas na pecuária leiteira.

O documentário de curta metragem foi contemplado pelo edital da Lei de Incentivo Paulo Gustavo, conta com o apoio da Prefeitura Municipal e tem como objetivo apresentar a relevância cultural, social e econômica da produção de laticínios em Carambeí, município cuja história se entrelaça com a imigração europeia e com a própria história do leite no Sul do Brasil.

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