Como tudo começou
Um jornalista que admiro, que sabe das coisas, profissional experiente, idôneo, homem de alto espírito cívico, me perguntou por mensagem sobre os resultados do último leilão das Fazendas do Basa, o Gir Leiteiro SUPERIOR. Foi uma gentileza conosco, seria para publicar uma nota. Agradeci muito mas não me contive e aproveitei a oportunidade para falar de algo que sei ser de grande interesse para o Brasil.
Questão econômica e social importante, sem espaço na mídia.
A genética do Gir Leiteiro e do Girolando meio sangue precisa chegar aos pequenos e médios produtores de leite. Essa questão atualmente ocupa meu cérebro e meu coração. Vivo angustiado e apreensivo por uma repetitiva omissão da mídia e da quase totalidade do Poder Público da Federação.
Angustia-me também a falta de percepção de jornalistas e editores que não conseguem dimensionar a importância do sucesso do Gir Leiteiro Brasileiro, obtido pelos Associados reunidos em torno da ABCGIL com o essencial apoio científico da Embrapa Gado de Leite. Custo a acreditar que jornalistas em veículos especializados não se importem, não registrem, o potencial de grande impacto social e o mérito histórico e atual dessa conquista produtiva.
Está muito clara a importância estratégica dessa melhoria técnica que tornou-se evidente graças aos Criadores de Gir Leiteiro em primeiro plano. Um bom jornalista especializado e atento mudará isso. Seria muito justo também valorizar devidamente o papel da Entidade ABCGIL, que articulou o desenvolvimento do Gir Leiteiro, graças à estreita, ininterrupta e Superior cooperação intelectual dos Pesquisadores da EMBRAPA Gado de Leite ao longo dos últimos 40 anos.
Uma longa resposta ao Jornalista.
Segue o que escrevi de volta ao respeitado jornalista, com o objetivo de esclarecer o que penso sobre a falta de atenção da mídia sobre a mesma questão.
“Prezado, muito obrigado por sua generosa mensagem. Respondo resumidamente: fazemos vários leilões a cada ano. Nosso último leilão, O SUPERIOR GIR LEITEIRO das Fazendas do Basa foi ótimo. Venda total com preço médio bem acima do esperado.
Mas, Prezado Amigo, aproveito essa oportunidade e peço licença para me alongar.
A importância do Gir Leiteiro é o combustível para bons leilões.
Além do profissionalismo dos realizadores, o principal mérito de bons resultados em leilões da Raça é do grande sucesso continuado e progressivo da raça Gir Leiteiro Brasileiro. Melhoramento promovido pelos Criadores, reunidos em torno da Associação Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro (a ABCGIL).
É necessário acrescentar que nada teria acontecido sem a sólida e ininterrupta parceria que gerou o indispensável, dedicado, com a maior competência intelectual disponível no País que caracteriza o apoio científico da EMBRAPA GADO de LEITE.
Esses fatores aplicados em conjunto e a exclusividade da nossa atenção para a Raça Gir Leiteiro, produziram o maior sucesso de seleção e melhoramento genético de Bovinos Leiteiros para o mundo tropical que hoje é reconhecido.
Esse trinômio, em parceria composta por Criadores/ABCGIL/Embrapa Gado de Leite, trouxe o Gir Leiteiro ao padrão de excelência onde hoje se encontra. É hoje o chamado Tesouro Brasileiro. O PNMGL – Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro, conta com o Convênio ABCGIL/EMBRAPA que desde sempre realiza suas pesquisas e provas zootécnicas com recursos dos Associados/Embrapa e a autorização Oficial do MAPA, hoje MAP.
Quem se interessa pelo Gir Leiteiro?
O Gir Leiteiro tem como interessados TODOS os Países do Mundo Tropical além do mercado interno. O grande número de ótimos animais Girolando para produção de leite deriva, descende do Gir Leiteiro. Melhorar o Gir Leiteiro faz melhorar o Girolando em seus vários graus de sangue.
A expressiva parte da produção de leite por empreendedores de variados portes descende de genética Gir Leiteiro. Produção de leite por centenas de milhares de estabelecimentos rurais gera renda e empregos para milhões de Brasileiros. Na atualidade faltam animais Gir Leiteiro qualificados em maior número.
A demanda de material genético bem qualificada do Gir Leiteiro para a produção de embriões Girolando Meio Sangue é muito maior que a oferta. O Gir Leiteiro, sua genética, tornou-se na atualidade a principal ferramenta para adaptação da pecuária de leite de muitas Nações ao mundo em aquecimento. É uma necessidade social para aumento da rusticidade e produtividade na produção de leite e seu enorme número de derivados.
Essa atividade é essencial na produção de alimentos de elevado valor pelos seus componentes tais como proteínas, cálcio e outros. O mundo precisa de leite. É incompreensível que o Brasil produza tal volume de soja, milho, algodão (caroços), maravilhosas variedades de volumosos como o capiaçu e outros, cana-de-açúcar etc. etc. e não seja o principal produtor e exportador mundial de leite. A fantástica produção de grãos do Brasil sustenta a exportação recorde de carne de suínos, de aves, de bovinos, MAS NÃO EXPORTA volumes adequados de derivados de leite.
Para exportar, temos que nos preparar desde já.
O jornalismo responsável poderia investigar o assunto. O que embaraça nossa produção leiteira? Deve ser falta de acesso à genética? Será que podemos descobrir que falta uma Agência de Fomento à Exportação de Derivados de Leite que construa a médio prazo as condições estruturais e de promoção para exportarmos derivados?
Será que algumas filiais de laticínios internacionais não querem nosso País no mercado internacional? Temos algumas das melhores grandes Fazendas de Leite do Mundo, que podem ofertar matérias primas com alta qualidade, com originação de prestígio indiscutível … qual a razão para isso não ocorrer??
Precisamos iniciar uma cuidadosa preparação para criar condições de em alguns anos exportarmos derivados de leite em grandes volumes. A mídia não cobre essa necessidade, esse impasse, nada sugere, será que vamos acordar?
Genética rústica e produtiva ou extinção.
A genética do Gir Leiteiro é um insumo estratégico fundamental. É a verdadeira oportunidade para uma revolução construtiva no Brasil tropical que permitiria a médio prazo a substituição em massa do gado mestiço de baixa produção que temos nas pequenas e médias propriedades do nosso Brasil.
Isso seria viável com pequena parte dos recursos do crédito rural (Safra, Pronamp, Pronaf) melhor aplicados, melhor dirigidos. Orientando também a assistência técnica de Estados e Municípios para a tecnologia de reprodução assistida. Uma onda de realizações para a produção e transferência de embriões de GIROLANDO Meio Sangue (F1). Esse primeiro grau de sangue do Girolando, é o maior sucesso da pecuária leiteira nos últimos cem anos. É extraordinário, rústico e produtivo. Rusticidade é cada dia mais importante avisa a mudança climática.
Esse Meio Sangue Especial, de duas extraordinárias Raças puras só exige uma ótima fêmea Gir Leiteiro para o cruzamento com o ótimo sêmen de Holandês que já importamos em escala. Sêmen de holandês excelente já temos, em profusão e enorme diversidade fazem mais de 50 anos. Muitos ainda não registraram, não perceberam a excepcional e consistente qualidade que hoje temos na genética Gir Leiteiro.
Através desse cruzamento, com ÓTIMA DUPLA BOA CARGA GENÉTICA e boa genética + heterose, poderemos salvar centenas de milhares de empreendedores pouco capitalizados. Eles estão sendo extintos por falta de produtividade. São CENTENAS de MILHARES de valorosos pequenos empreendedores Brasileiros que estão abandonados… são milhões de empregos, com suas famílias são milhões de Brasileiros!!! Os veículos de comunicação ainda não prestam a devida atenção ao problema, assunto de verdadeiro INTERESSE NACIONAL.
Quem quer contribuir?
Em 2024 faço 80 anos. Atualmente, na maior parte do meu tempo, penso nessa oportunidade para contribuir com o Brasil. As Fazendas do Basa estão inteiramente voltadas para sua missão social a partir do melhoramento e aumento da oferta de genética qualificada do Gir Leiteiro Brasileiro.
É uma necessidade estrutural para termos como massificar a produção do Girolando Meio Sangue. A quase totalidade das Autoridades da Federação (o Governo Federal, Estados e Municípios) estão na sua maioria, omissas quanto a essa questão. São poucos os Homens Públicos preocupados com esse tema.
Não cito esses poucos nomes, mas o farei com destaque se me autorizarem. Quanto às Entidades que se importam, devo destacar um trabalho do Sebrae que pode ser bem melhorado e ampliado. Alguns políticos se manifestam apenas em períodos eleitorais.
Nesse ano de 2024, candidatos a Prefeito e candidatos a Vereadores farão novas promessas vazias aos pequenos produtores de leite em todo o Brasil? Jornalistas da área pecuarista que são bem-intencionados sobre a necessidade do debate urgente dessa e outras propostas publicarão algo ?? É preciso mobilização para alterarmos o grave quadro de paralisia crônica que enfrentamos.
Quem se importa com a desigualdade?
A liberdade e possibilidade real de empreender dos pequenos e médios produtores de leite com pouco capital estão comprometidas. Faz tempo que essa classe produtiva não é amplamente defendida com eficácia. Não tem sido apoiada de verdade. É um importante setor da nossa economia. São pouquíssimas as exceções de formadores de opiniões que se manifestam pelos pequenos produtores que também tem sua importância pouco divulgada.
Jornalistas hipnotizados pelo que é enorme…
A mídia em geral parece estar voltada, ajoelhada, para imagens de grandes máquinas de plantio e colheita em vastas áreas planas. Os pseudojornalistas escrevem generalidades idolatrando números grandiosos em toneladas ou valores em dólares incompreensíveis para milhões de Brasileiros.
A narrativa maravilhada do gigantesco parece o alimento preferido para alguns editores e seus veículos de comunicação. Estão hipnotizados apenas pelo que é monumental em tamanho. Muitos só se sentem atualizados manobrando expressões em inglês: start ups, robots, compost barns, etc., Parte da grande mídia só se interessa pelo que é grande e muito rico.
E a liberdade e oportunidade de empreender e subsistir dos pequenos produtores de leite? Esquecemos dos Humanos? Fico surpreso e decepcionado com os grandes Grupos de Comunicação social que ao apregoar que sua linha editorial está muito comprometida com apoio à liberdade de empreender e com oportunidades de alto valor social continuem omissos quanto aos pequenos e médios produtores de leite. ´Estranho que não tenham nunca abordado esse assunto com o destaque, a profundidade e frequência que ele merece.
Quem sabe Você, competente Amigo Jornalista possa debater isso internamente com seu Editor? O BRASIL merece.
*Evandro Guimarães é presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL); pecuarista, proprietário das Fazendas do Basa