A projeção para a região do Rio Doce é de aumento de renda para os produtores de leite nos próximos meses.
Dados do IBGE (2019) indicam que Minas Gerais é o maior produtor de leite do Brasil , com a participação de 27,1%, o que corresponde a 9,4 bilhões de litros produzidos e 1,2 milhões de trabalhadores diretos. FOTO: Divulgação/EMATER Meses
Dados do IBGE (2019) indicam que Minas Gerais é o maior produtor de leite do Brasil , com a participação de 27,1%, o que corresponde a 9,4 bilhões de litros produzidos e 1,2 milhões de trabalhadores diretos. FOTO: Divulgação/EMATER

GOVERNADOR VALADARES – Os produtores agropecuários no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, enfrentam um período de grandes desafios, mas também apostam no movimento do segmento para atrair oportunidades nos próximos meses. Entre os fatores de preocupação está a mudança climática. Ela tem sido um fator determinante para o setor agropecuário em todo o Brasil, e no Vale do Rio Doce não é diferente.

Segundo o professor Fúlvio Cupolillo, do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), o fenômeno conhecido como Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), que ocorre anualmente, está mais intenso em 2024, prolongando o período de seca e retardando a chegada das chuvas.

 

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“Na maior parte do Brasil nós não temos quatro estações do ano, nós temos duas estações do ano. Quatro estações existem do trópico capricórnio até o Rio Grande do Sul. O resto do Brasil são duas estações que nós chamamos de chuvosa e seca. Na nossa região, a seca é de abril a setembro e a chuvosa é de outubro a março. Então, normalmente, na nossa região, na segunda quinzena de outubro, é que começam a aparecer as primeiras chuvas. Mas elas só ficam mesmo concentradas na segunda quinzena de novembro, pegando dezembro até janeiro.

No mês de setembro, este ano, existe um mecanismo atmosférico, que tem um nome longo, Anticiclone Subtropical do Atlântico do Sul, conhecido como ASAS, que na verdade é uma grande massa de ar seco que fica em cima do Oceano Atlântico e que na estação seca ele se desloca para o continente. Isso é normal, todo ano tem isso. Só que este ano, essa massa de ar seco ficou mais intensa e ela expandiu geograficamente. Então, praticamente você só tem chuva na região do Rio Grande do Sul e no noroeste da Amazônia, o resto do Brasil está seco”, explicou o professor.

Sobre a previsão para o mês de outubro, Fúlvio Cupolillo destacou que ainda é cedo para fazer projeções. Entretanto, o professor explicou que a expectativa, em comparação a série histórica da Bacia do Rio Doce, é de chuvas volumosas apenas em novembro.

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“Agora está entrando uma frente fria que já chegou no Sul de Minas, na Zona da Mata, mas não há perspectiva ainda de ela chegar aqui porque a massa de ar seco não permite que ela continue mais para o Norte, então ela se desvia para o oceano. Nós temos que torcer que essa massa de ar seco enfraqueça para a frente fria chegar aqui. O mês de outubro ainda é aquele mês que, quando chove, o próprio agricultor já sabe que não tem que plantar.

Ele espera vir a segunda chuva, que vem só em novembro. Mas a perspectiva é ainda de ser um mês mais seco para a nossa região. Como eu falei, as chuvas mesmo só começam aqui a partir da segunda quinzena de novembro”, disse o professor da área de geografia/climatologia, IFMG-GV.

 

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Preparo para o futuro: investimentos e planejamento

Além dos desafios climáticos, a pecuária, tanto de corte quanto de leite, enfrenta dificuldades adicionais. O consultor master de bovinocultura de corte do Sistema Faemg-Senar, Helvécio Oliveira, enfatiza a necessidade de estratégias de longo prazo para garantir a produtividade mesmo em tempos de seca.

Uma das alternativas apresentadas foi o uso de silagem feita a partir de capins como mombaça e colonião, que têm crescimentos significativos durante o período de chuvas e podem ser estocados para alimentar o gado na seca.

Apesar das dificuldades previstas para 2024, Helvécio Oliveira orienta aos produtores que utilizem o período de bonança para investir em melhorias nas propriedades e preparar o gado para o próximo ciclo de seca.

“O primeiro passo é a conscientização de que a seca já está aqui há milhões de anos, então nós não podemos brigar com a seca, ou seja, nós temos que ter estratégias para que a gente possa fazer desse momento de ausência de água algo que faça chover na seca. Então, se não chover na seca, qual seria a alternativa para isso? O produtor pode trabalhar estoques de matéria morta de forragem dentro do solo.

 

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A matéria morta, ela tem a função higroscópica de capturar umidade do ar, de impedir a perda de umidade por evaporação, entre outros inúmeros benefícios, como: a fixação das sementes, a fixação de fertilizantes, alimentar a flora bacteriana do solo. Então essa seria a principal estratégia para a gente pensar em fazer com que o tempo de chuva se estendesse pelo período da seca. A região tem um ponto muito favorável que é a umidade relativa do ar. Aqui nós estamos na Zona da Mata Atlântica ainda [em relação a vegetação e solo], caracterizado no estado, e essa região que abrange o sudeste do estado, também ela tem essas particularidades em relação à umidade do ar.

Isso é um ponto que nós temos a favor, porque, de uma certa forma, trabalhando matéria morta e trabalhando a matéria morta como um elemento que capta essa umidade, isso seria, sim, um ponto favorável. A gente tem pontos desfavoráveis relacionados à topografia, contudo, a topografia em gado de corte, vamos dizer assim, nós temos um impacto menos grave do que em pecuária de leite. A gente consegue trabalhar em áreas íngremes também”, disse o consultor master de bovinocultura de corte do programa de Assistência Técnica & Gerencial (AT&G), Helvécio Oliveira.

Por outro lado, segundo o  gerente de Política Leiteira da Cooperativa, Alexandre Negri, a projeção para a região do Rio Doce é de aumento de renda para os produtores de leite. Ele destaca que o Brasil está em um momento de pleno emprego, o que beneficia o consumo de produtos derivados do leite. A partir disso, Negri também aconselha os produtores a se prepararem para a safra de 2024, aproveitando o bom momento que se aproxima.

“O produtor de leite, ele só vai ter normalmente a noção de que o negócio dele melhorou dois, três meses depois, porque ele entrega, ele vende um leite de um mês e recebe no dia 20 do mês seguinte. Quando o produtor começa a agir, aí ele vai ver no terceiro mês que o negócio ficou bom, aí que ele vai começar a investir para poder crescer. A gente está fazendo justamente isso, nós estamos avisando a ele que vai ficar bom, que ele tem condição de começar a trabalhar desde o primeiro mês, porque isso é ciclo, ele não fica por todo o tempo.

Vai ter um período de seis meses, sete meses de mercado bom, onde ele vai ter uma margem boa, porque vai chover, vai aumentar a produção, abaixar o custo e o produto dele está valorizado. Então, a gente está avisando desde já, que quem quiser ganhar dinheiro com leite, produzindo leite, essa safra vai ser uma boa safra. Então, o dinheiro que o produtor ganhar, ele tem que se preparar, organizar a propriedade dele, porque períodos difíceis virão.

Então, nessa hora agora que ele começa a ganhar dinheiro, ele tem que se organizar, ele tem que melhorar a produção de volumoso para a próxima seca, tem que melhorar o rebanho, tem que investir em alguma coisa na estrutura da fazenda para dar condição dela a melhorar a produção”, gerente de Política Leiteira da Cooperativa, Alexandre Negri.

Mercado em equilíbrio e perspectivas para 2024/2025

Alexandre Negri também destaca que a seca em regiões produtoras, como Goiás e Minas Gerais, somada a problemas climáticos na Argentina e Uruguai, afetou a oferta de leite em comparação a anos anteriores.

“Os efeitos climáticos estão afetando diretamente a nossa produção, a seca extrema que a gente está vivendo agora, atingindo áreas importantes de produção de leite como Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, que são regiões muito fortes na produção.

No início do ano houve as enchentes no Rio Grande do Sul, afetou a produção deles, está refletindo hoje, agora no mês de agosto, setembro, porque choveu muito lá, houve um problema de alimentação do rebanho, atrasou o ciclo reprodutivo das vacas e aí a produção, a safra deles, está diminuindo muito rápido agora, em pleno mês de setembro, quando era para ser o maior mês de produção deles. Então esses efeitos climáticos também estão afetando os países que mandam leite para o Brasil, como a Argentina e o Uruguai. A Argentina teve um frio extremo nela, lá na região sul da Argentina, que afetou.

Então, a queda de captação de leite nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, além dessa diminuição da safra lá, houve uma redução da oferta do leite aqui, numa época que, em anos anteriores, era para estar sobrando. Em anos anteriores, nessa mesma época agora, tinha estoque em todas as indústrias.

Todo mundo estaria com dificuldade de venda. E esse ano a gente está vendo o contrário, os estoques estão bem baixos, as vendas estão girando normalmente, e, em consequência disso aí, em função do que os efeitos climáticos”, gerente de Política Leiteira da Cooperativa, Alexandre Negri.

O panorama para os próximos meses, embora desafiador, apresenta oportunidades para os produtores que conseguirem se adaptar às adversidades climáticas e aproveitar o momento favorável do mercado. A previsão de equilíbrio entre oferta e demanda para o leite pode garantir que os preços permaneçam estáveis, beneficiando tanto os produtores quanto os consumidores.

“Nós vamos passar um final de ano bom, porque a gente está observando que o Brasil está numa situação de pleno emprego. O leite, e alguns produtos derivados do leite, eles chamam de produto salário, porque ele tem elasticidade, se melhora a renda da família, ele aumenta a venda, como é o caso do sorvete e do iogurte, que aumentou muito as vendas até o mês de junho, julho desse ano.

A nossa safra daqui, da nossa região do Vale do Rio Doce, começa a crescer no final de outubro e novembro, justamente na hora que começa a cair a safra da região Sul e da Argentina e do Uruguai. Então, a gente acredita que vamos entrar num período do ano em que a gente vai ter pouco estoque, e a nossa safra começando a crescer com pouco leite vindo dessas regiões: Argentina, Uruguai e os três estados do Sul.

Então, vai haver um equilíbrio aí de consumo, não vai ter uma alta tão exagerada nos preços, porque o consumidor acaba mudando de produto, ele sai do leite e migra para outros produtos. Então, a gente acha que vai ter um mercado que vai girar bem, ele vai ter um preço bom para o consumidor, um preço bom para a indústria e um preço bom para o produtor também. Então, a gente está na expectativa muito otimista para até abril e maio do ano que vem, quando começam as próximas safras das regiões sul”, analisa Alexandre Negri.

Dados do IBGE (2019) indicam que Minas Gerais é o maior produtor de leite do Brasil , com a participação de 27,1%, o que corresponde a 9,4 bilhões de litros produzidos e 1,2 milhões de trabalhadores diretos. Em 2020, o valor bruto da produção da atividade leiteira, em Minas, foi de R$ 21,4 bilhões.

Café Rural

O cenário dos próximos meses foi tema do Café Rural, evento que reuniu especialistas e produtores rurais no dia 16 de setembro, em Governador Valadares, no Armazém da Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce. Promovido pelo Sindicato Rural de Governador Valadares, em parceria com a Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce e instituições como o Sistema Faemg-Senar e o Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), o evento focou no planejamento estratégico, levando em consideração as principais perspectivas e desafios para a agropecuária no próximo ano.

O presidente da Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce, João Marques, reforçou a importância de eventos como o Café Rural para disseminar conhecimento e preparar os produtores para o futuro.

“A verdade para nós da Cooperativa é um dia extremamente importante, como todos os outros, mas hoje super importante, porque nós refletimos sobre as nossas atividades. Primeiro a gente falou sobre a questão do clima, como que o clima está se comportando; nós estamos vendo uma série de coisas acontecendo, as queimadas intensificadas, nós estamos vendo os efeitos do La Niña e do El Niño, como isso vai se comportar nos próximos meses para que o produtor tenha o conhecimento e possa usar esse conhecimento, para que ele possa minimizar os seus custos e melhorar o seu resultado.

Também discutimos sobre a pecuária de corte, de como esse deslocamento dos animais, vai afetar ou diminuir o volume de oferta de carne. E de certa forma também de como isso vai afetar na rentabilidade do produtor. Também discutimos sobre a pecuária de leite; a importação desenfreada que a gente está vendo, as intempéries do tempo requer pensar o momento certo para planejar as atividades no campo.

A gente buscou este momento para ressaltar o valor do produtor, o melhor que a gente tem de conhecimento para que possamos reverter em resultados positivos para os produtores rurais do Vale do Rio Doce”, disse diretor-presidente da Cooperativa, João Marques.

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