Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão

Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão, produção e melhoramento genético. O Programa Qualitas de Melhoramento Genético conta com mais de 40 fazendas, nos estados de GO, TO, RO, SP, PR, MG e MT e também na Bolívia, totalizando um rebanho de mais de 250.000 cabeças.

 

Essa é uma pergunta que sempre me incomodou e que me atormenta a muitos anos. Se hoje a quantidade de pecuaristas participantes em algum programa de melhoramento genético é ínfima, imaginem em 1995, ano que comecei a trabalhar como consultor nesta área! Naquela época e ainda hoje acredito que o motivo principal da baixa adesão seja a falta de informações que realmente comprovem os benefícios desta adesão.

Imaginem tentar convencer um pecuarista que na maioria das vezes não possuía e infelizmente, ainda não possui uma balança para pesar o gado na fazenda, a identificar individualmente seus animais, pesá-los e medi-los para que essas informações sejam transformadas estatisticamente em valores que são, previsões da qualidade genética dos seus animais para as características medidas e que o descarte dos animais inferiores e a multiplicação dos animais superiores irá fazer com que o rebanho melhore e com isso ele ganhará mais dinheiro?

Pois, esse era e continua sendo o discurso mais comum para convencer o pecuarista a participar de um programa de melhoramento genético. Confesso que utilizei este discurso por muito tempo e também, por algum tempo, fiquei em dúvida se o serviço que estava prestando realmente entregava benefícios para os pecuaristas participantes.

O tempo passou e os resultados financeiros com a venda de animais comerciais (venda de machos e fêmeas de descarte) para abate dos nossos parceiros nos mostram que estamos no caminho correto. Animais precoces, produtivos e eficientes estão sendo selecionados aumentando a lucratividade das fazendas.

Para confirmar que vale a pena participar de um programa de melhoramento genético apresentamos um comparativo entre animais de uma família de pecuaristas que não só acreditou em nossa proposta, mas foi além e investiu na aquisição de matrizes de um outro parceiro do Qualitas que infelizmente faleceu precocemente e teve o rebanho liquidado.

Foram 161 vacas prenhes nascidas em 2012 que receberam o CEIP (Certificado Especial de Identificação e Produção) pelo Qualitas, adquiridas em 2016 e foram transportadas da fazenda Vale da Providência (VP) em Rondolândia-MT para a fazenda Santa Cecília (SC) em Quirinópolis-GO, a 1.900 quilômetros de distância. Como as vacas nasceram em 2012, elas foram fruto de 10 anos seleção participando do Programa Qualitas de Melhoramento Genético (o rebanho aderiu em 2002), a partir de um rebanho comercial adquirido na região a partir de 2000.

Já o rebanho de cria da fazenda Santa Cecília que comprou as vacas VP, iniciou em 1978 também adquirido de rebanhos comerciais e que foi sendo selecionado ao longo dos anos. Sempre compraram touros de outros criadores e iniciaram a inseminação artificial a partir de 2006, mas sem nunca ter participado de algum programa de melhoramento genético. Consideramos um rebanho muito acima da média dos rebanhos brasileiros de cria.

A comparação a seguir se refere a machos, filhos dos dois grupos de vacas, VP e SC, com as seguintes características:

  • Nasceram em 2016, sendo que os filhos das VP eram de segunda cria e os filhos das SC eram de filhos de vacas com todas as idades;
  • Os machos VP são os piores machos nascidos em 2016 pois dos 73 nascidos, os 20 melhores receberam o CEIP pelo Qualitas e não foram abatidos;
  • Todos são filhos de inseminação ou de repasse com touros, no caso da VP os touros de repasse eram touros que receberam o CEIP na própria fazenda e os da SC foram comprados de outros criadores;
  • Todos foram criados e recriados à pasto recebendo a seguinte suplementação da Campo Nutrição Animal:

o Merenda Seca com consumo de cerca de 0,300 kg/cabeça/dia – após a desmama até o final de outubro de 2017;

o Boca Cheia Recria com consumo de cerca de 0,500 kg/cabeça/dia – de novembro de 2017 a março de 2018;

o Boca Cheia com consumo de cerca de 1 kg/cabeça/dia – de abril de 2018 até as datas de entrada no confinamento;

  • Todos foram terminados no mesmo período e com a mesma dieta no Confinamento Santa Fé em Santa Helena – GO.
  • Todos foram abatidos nos mesmos dias e no mesmo frigorífico, Marfrig em Mineiros – GO, entre 20 e 21 meses de idade.

As tabelas 1 e 2 apresentam o comparativo dos machos dos dois rebanhos desde à desmama até o abate:

Tabela 1.

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Praticamente não houve diferença entre os pesos de desmama. Vale lembrar que os filhos das vacas VP eram as suas segundas crias. Vejam que nos dois grupos o peso de desmama aos 8 meses pode ser considerado excelente e lembramos que no Índice Qualitas, 20% do mesmo se refere ao peso de desmama.

Tabela 2.

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Já no sobreano, na entrada do confinamento, os animais VP apresentaram 20,7 e 30,1 kg a mais que os animais SC e mantiveram esta diferença de peso ao final do confinamento, onde o ganho de peso entre os dois grupos foi idêntico.

O ganho pós-desmama que é a característica que consideramos mais importante para a engorda de machos e que representa 40% do Índice Qualitas de Seleção e que está geneticamente incorporada nas vacas VP foi o grande responsável pela diferença de desempenho entre os dois grupos.

Tabela 3.

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Os animais SC apresentaram rendimento de carcaça 1% e 0,41% superior aos animas VP mas, por ganharem mais peso após à desmama os VP apresentaram uma maior receita por boi de R$52,80 e R$126,10 respectivamente nos dois lotes abatidos.

Tabela 4.

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Como os animais foram criados, recriados e terminados exatamente nas mesmas condições podemos dizer que os custos de produção também foram os mesmos. Considerando um custo desde o nascimento até os 19 meses de idade de R$1.750,00 mais o que foi gasto no confinamento, R$378,50 e R$648,30 respectivamente, para os animais que ficaram 44 dias e 82 dias no confinamento, chegamos aos custos por boi de R$2.128,50 e R$2.398,30. Isso permite calcular o lucro por boi e concluir que as diferenças de receitas entre os dois grupos representam, na verdade, diferenças nos lucros de 11,9% e 31,2% a mais para os animais VP que passaram por 10 anos de seleção no Qualitas Programa de Melhoramento Genético.

Ressaltamos que como as diárias do confinamento foram cobradas por um preço fixo independente do consumo diário dos animais não conseguimos aferir se houve também diferenças de custo no confinamento devido a diferenças em eficiência alimentar, característica que é selecionada no Qualitas desde 2010 e que “poderiam” favorecer os animais VP.

Reforçamos também que os 20 melhores machos VP não foram abatidos por terem sido certificados e selecionados para serem utilizados como touros de repasse na fazenda Santa Cecília, o que poderia aumentar as diferenças entre os dois grupos.

E por último, estamos comparando grupos de animais que foram melhorados ao longo dos anos, mas com a diferença de um estar participando de um programa de melhoramento genético e o outro não, mas com muito mais tempo de criação.

Tabela 5.

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A tabela 5 mostra as diferenças entre as margens sobre venda entre os dois grupos. Este indicador mostra a eficiência do uso do dinheiro investido entre os animais que ficaram 44 dias ou 82 dias no confinamento. Para os machos SC teria sido muito melhor que eles permanecessem somente 44 dias no confinamento pois o custo do ganho de peso e o preço de venda não compensaram a permanência deles para serem abatidos mais pesados. Já os machos VP, além das margens sobre venda terem sido maiores nos dois lotes, a diferença entre os que ficaram 44 e os que ficaram 82 dias foi bem menor, mostrando que eles conseguiram manter a margem mesmo ficando mais tempo confinados e comprovando superioridade na utilização do capital investido.

Os resultados mostram que a seleção acompanhada por um programa de melhoramento genético entrega benefícios coerentes com o que este programa se propõe a melhorar e que ele pode realmente contribuir para aumentar a lucratividade das fazendas. Bastam persistência e concordância com os objetivos de seleção definidos por este programa de melhoramento genético para seguir suas recomendações.

Gostaria de agradecer e parabenizar à fazenda Santa Cecilia, especialmente ao Thomás e toda sua equipe. E quem quiser dar um dedo de prosa com ele é só ligar: 011 98175 7504.

E você, por que ainda não participa de nenhum programa de melhoramento genético?

Grande abraço e inté!

Texto em coautoria com Júlio Cesar Alves Nunes e equipe da Qualitas Melhoramento Genético

Agradecimentos: Irmãos Paulo Mesa Campos, Lucia Mesa Campos Salles de Faria e equipe da fazenda Santa Cecília

O queijo é, sem dúvida, um dos alimentos mais tradicionais e deliciosos que existem, e só de falar nele já ficamos com água na boca.

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