O preço do leite captado em setembro e pago ao produtor em outubro deve se manter estável, podendo, inclusive, registrar novo recorde real na “Média Brasil” do Cepea
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Foto: Humberto Nicoline/Embrapa

O preço do leite captado em setembro e pago ao produtor em outubro deve se manter estável, podendo, inclusive, registrar novo recorde real na “Média Brasil” do Cepea, superando o valor de agosto, de 2,1319/litro. É o que informa o Boletim do Leite de Outubro do Cepea, divulgado nesta segunda-feira 19.

Ao mesmo tempo, o Cepea também assinala que as importações de produtos lácteos aumentaram 62,8% no terceiro trimestre do ano, em relação ao mesmo período de 2019. Entre julho e agosto de 2020, o Brasil importou 54,2 mil toneladas de lácteos, segundo dados da Secex, do Ministério da Economia.

O Cepea ressalta ainda que o preço do leite captado em outubro e pago ao produtor em novembro deve ser influenciados pelo enfraquecimento das vendas de lácteos neste mês.

“Conforme pesquisas do Cepea, as negociações de derivados com os canais de distribuição foram mais truncadas e houve maior pressão para a redução dos preços em outubro”, assinala o centro de estudos, no boletim.

Leia, abaixo, as análises de Natália Grigol sobre os preços do leite ao produtor em outubro e de Munira Nasrrallah e Juliana Santos sobre importações de lácteos.

Preço do leite captado em setembro e pago em outubro deve se manter em elevado patamar

Natália Grigol

“Pesquisas em andamento do Cepea apontam que o preço do leite captado em setembro e pago ao produtor em outubro deve se manter em patamar elevado, devendo registrar estabilidade em algumas regiões e altas em outras. Assim, é possível que haja um novo recorde real do preço da “Média Brasil” do Cepea, superando o valor do leite captado em agosto e pago ao produtor em setembro, de R$ 2,1319/litro.

Desde o início do ano, o preço do leite no campo registra alta acumulada de 55,4%, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de setembro/20).

Essa expressiva valorização é explicada pela maior concorrência das indústrias de laticínios pela compra de matéria-prima, já que a produção de leite seguiu limitada e abaixo das expectativas dos agentes.

Setembro é, tradicionalmente, um mês de transição para a produção leiteira no Sudeste e Centro-Oeste, devido às alterações climáticas desse período. Neste ano, o menor volume de chuvas e a elevada oscilação das temperaturas prejudicaram a retomada da atividade nessa época de transição. No Sul do país, por sua vez, a produção de leite também não teve uma retomada tão intensa quanto o esperado. Também é preciso dizer que o aumento nos custos de produção, em especial por conta da valorização dos grãos, tem dificultado os investimentos na produção

Os preços em altos patamares são consequência, assim, de um desequilíbrio entre oferta restrita e demanda elevada por lácteos, esta última ancorada nos programas de auxílio emergencial.

Assim, até agosto, a indústria não teve grandes dificuldades em fazer o repasse da valorização do preço do leite no campo aos canais de distribuição, uma vez que havia uma situação generalizada de estoques limitados de lácteos e de consumo elevado. De acordo com pesquisas do Cepea, apesar das maiores oscilações diárias, na média mensal de setembro, o leite UHT, o queijo muçarela e o leite em pó ainda tiveram valorizações, de 0,8%, 3,5% e 4,9%, respectivamente.

No caso do leite spot negociado em Minas Gerais, os valores caíram na primeira e segunda quinzenas de setembro, mas a média mensal ainda superou em 1,1% à de agosto. Esse cenário deve possibilitar a sustentação do preço do leite captado em setembro e pago ao produtor em outubro.

Outubro

Os preços do leite captado em outubro e pago ao produtor em novembro devem ser influenciados pelo enfraquecimento das vendas de lácteos neste mês. De acordo com pesquisas do Cepea, as negociações de derivados com os canais de distribuição foram mais truncadas e houve maior pressão para a redução dos preços em outubro. É importante salientar que a valorização intensa de alguns gêneros alimentícios nos últimos meses tem pesado sobre a decisão de consumo do brasileiro, o que também resulta em maior competição entre redes varejistas para atrair clientes com preços baixos.

Na primeira quinzena de outubro, os preços do UHT e da muçarela recuaram, em média, 6,34% e de 5,2% em relação a setembro/20, respectivamente. A mesma tendência de queda foi observada para o preço do leite spot, que chegou a R$ 2,36/litro na primeira quinzena de outubro em Minas Gerais – redução de 12% em relação à média de setembro.

É preciso lembrar que, além da pressão da demanda, os preços no campo devem ser negativamente influenciados pela maior disponibilidade de leite e de lácteos em outubro, por conta da questão sazonal, no primeiro caso, e do aumento de importações, no segundo. Dados da Secex mostram aumento de quase 63% no volume de lácteos importado no terceiro trimestre de 2020 em relação ao mesmo período do ano passado. As compras externas de lácteos ocorrem mesmo com a relação cambial desvantajosa para tentar conter a restrição de oferta doméstica.”

Com baixa oferta doméstica, importação cresce mais de 60% no 3º trimestre

Munira Nasrrallah e Juliana Santos

“As importações de produtos lácteos somaram 54,2 mil toneladas no terceiro trimestre deste ano, crescimento de 62,8% frente ao volume adquirido de julho a setembro de 2019, segundo dados da Secex. Em setembro, especificamente, foram importadas 23,2 mil toneladas de lácteos, 27,8% acima do adquirido em agosto/20 e 80% a mais que em setembro/19.

Esse cenário é resultado da oferta limitada de matéria-prima no Brasil, que tem feiro com que indústrias busquem alternativas no mercado externo para abastecer seus estoques e garantir produção nacional.

Ainda de acordo com dados da Secex, o leite em pó correspondeu por cerca de 70% de todo o volume importado em setembro, somando 16,2 mil toneladas, aumento de 28% frente à quantidade adquirida no mês anterior. A Argentina e o Uruguai representaram, juntos, 98,5% do total de leite em pó importado, sendo os principais fornecedores de lácteos para o Brasil. Os queijos também se destacaram na cesta de produtos importados, com aumento de 38,2% em relação ao volume do mês anterior, totalizando 3,8 mil toneladas em setembro. No acumulado de 2020 (de janeiro a setembro), as importações de produtos lácteos somam 106,3 mil toneladas, queda de 4,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

Quanto às exportações, somaram 8,7 mil toneladas no terceiro trimestre de 2020, aumento de 44,9% em relação às vendas de julho a setembro de 2019. Em setembro, especificamente, os embarques foram de 2,8 mil toneladas, recuo de 5,3% frente ao mês anterior, mas 25,4% acima do registrado em setembro/19. O creme de leite e o leite condensado, que, juntos, representam 57,7% do total exportado pelo Brasil, tiveram diminuições de 20,2% e de 5,5% nas vendas em comparação ao mês anterior, totalizando 858 toneladas e 759 toneladas. Os principais destinos dos produtos brasileiros foram Peru (32% do total de creme de leite) e o Chile (com 52,4% do leite condensado). Na parcial deste ano, as vendas externas de lácteos totalizam 23,2 mil toneladas, 26,5% a mais que nos nove primeiros meses de 2019.”

Clique aqui para acessar a íntegra do Boletim do Leite de Outubro do Cepea.

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Atualmente, os Estados Unidos estão atrás da Nova Zelândia e da União Europeia nas exportações de laticínios. Entretanto, Krysta Harden, presidente e CEO do U.S. Dairy Export Council, prevê que isso pode mudar.

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